A tragédia dos bens comuns foi popularizada
por Garrett Hardin[1] em 1968 para descrição dos campos comuns da
Inglaterra na Idade Média em que cada criador de ovelhas ao aumentar seu
rebanho levava a que a área de capim disponível a cada animal reduzisse.[2] Quando a propriedade é comum os indivíduos não estão dispostos a nela investir
uma vez que não poderão evitar que os outros colham o fruto de seu trabalho. O
conceito retoma artigo escrito por Harold Demsetz[3] segundo
o qual a propriedade privada seria uma solução para esta questão.
Commons são conjuntos de recursos utilizados em comum por uma determinada
comunidade. Posner destaca que o movimento de enclosure dos campos ingleses contemporâneo à Revolução Industrial[4] em
que milhões de acres foram cercados e transformados em propriedade privada[5],
encerrando-se assim os pastos comuns, foi responsável por um grande aumento de
produtividade no campo[6],
uma vez que com o campo sendo propriedade privada reduziu enormemente os custos
de transação para transformar, por exemplo, uma área de pasto em área para
outros usos, pois esta medida já não dependia da aprovação de todos os seus
usuários.[7] O
movimento foi intensificado pela industrialização que exigiu grande demanda de
lã para produção de tecidos, e assim os senhores feudais passaram a cercar suas
terras, eliminando os campos abertos Commons.
Com isso aumentou-se a
produtividade no campo e produziu-se uma massa de camponeses
desempregados uma vez que a criação de ovelhas demandava menos trabalhadores no
campo. Na análise Leo Huberman: “o
movimento de enclosure das terras provocou muito sofrimento, mas ampliou as
possibilidades de melhorar a agricultura”[8]
Nesse sentido as patentes quando colocam sob
propriedade privada um conhecimento que de outro modo seria lançado ao bem
comum pode ser visto como um anticommon. Mas ao invés de se constituir
numa solução na alocação de recursos, as patentes levam ao que Michael Heller em 1998 chama de tragédia dos bens não
comuns “The tragedy of the anticommons”[9] um
neologismo cunhado para descrever a falta de coordenação nas ações de múltiplos
proprietários de patentes que agindo em função de seus interesses particulares
frustram um desenvolvimento social desejável.[10]
[1] HARDIN, Garret. The tragedy of
the commons. In. Science v.162, 13/12/1968, p.1243-1248
[2] STIGLITZ, Joseph. Globalização como dar certo. São Paulo: Cia das
Letras, 2007. p. 269; SIMON, Imre; VIEIRA, Miguel Said. A propriedade intelectual
diante da emergência da produção social. In: VILLARES, Fabio. Propriedade
intelectual: tensões entre o capital e a sociedade. São Paulo: Paz e Terra,
2007. p. 66.
[3] DEMSETZ,Harold. Toward a theory of property rights. American Economic
Review, v.57, n.2, março 1967, p. 347-359
[4] DEANE, Phyllis, A revolução
Industrial, Rio de Janeiro:Zahar,1973, p.66
[5] ROSEN, William. The most powerful idea in the world: a story of steam,
industry and invention. Randon House, 2010, p. 4159/6539 (kindle edition)
[6] ASHTON, Thomas. A revolução industrial, Sintra:Pub. Europa-América, 1977, p.48;
MOUSNIER, Roland. História Geral das Civilizações: os séculos XVI e XVII: os
progressos da civilização europeia, tomo IV, v.1, São Paulo:Difusão Europeia,
1967, p.112
[7] LANDES, William; POSNER, Richard. The economic structure of intellectual
property law. Cambridge:Harvard
University Press, 2003, p.12; HEILBRONER, Robert. A formação da sociedade
econômica, Rio de Janeiro:Zahar, 1979, p.81
[8] HUBERMAN, História da
riqueza do homem. Rio de Janeiro:Zahar, 1978, p. 114-118
[9] HELLER, M.A. The tragedy
of the anticommons. In. Harvard Law Review, jan. 1998
[10] http: //en.wikipedia.org/wiki/Tragedy_of_the_anticommons. Cf. BURK, Dan
L.; LEMLEY, Mark, A. The patent crisis and how the Courts can solve it. The
University of Chicago Press, 2009, p.75; GUELLEC, Dominique; POTTERIE, Bruno
van Pottelsberghe de la. The economics of the european patent system. Great
Britain:Oxford University Press, 2007, p.77
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