quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Patentes: Suficiência descritiva


O químico John Dalton utilizou-se de valores medidos de água, oxigênio e azoto que casaram-se com seus valores teóricos das proporções dos elementos para formação das moléculas. Jean Pierre Lentin  argumenta que esta concordância experimental, não reproduzida pelos cientistas da época, deveu-se a seleção de resultados. Da mesma forma George Mendel em sua célebre experiência com ervilhas para provar sua teoria genética, conseguiu dados considerados “perfeitos demais” selecionando seus melhores resultados ou enumerando incorretamente suas ervilhas redondas ou enrrugadas para chegar ao resultado que esperava. Robert Milikan em sua experiência da medição da carga do elétron francamente rejeitava muitas de suas medições tidas como “artefatos”. Gerald Horton mostra que nos cadernos de Milikan ao refazer suas experiências em 1913 seleciona 58 experiências de um total de 140. Muito embora a ciência dotada de melhores instrumentos possa ter confirmar estas teorias, o fato é que, a seleção de dados coerentes, ainda que de forma inconsciente, coloca em risco a confiabilidade do experimento realizado, sendo a confirmação da teoria em grande parte dependente mais de uma convicção do cientista do que uma comprovação experimental, a qual se observa apenas posteriormente aos experimentos iniciais. Esta debilidade pode estar presente em muitos documentos de patente que algumas vezes dependem de comprovações experimentais baseadas em seleção de dados das quais o examinador de patentes dificilmente poderá questionar.[1]



[1] LENTIN, Jean Pierre. Penso, logo me engano. São Paulo:Ática, 1996, p. 148

Nenhum comentário:

Postar um comentário