sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O modelo alemão de interação universidade & empresa

John Bernal em Science and Industry in the 19th century de 1953 observa que o desenvolvimento das indústrias química e de eletricidade exigiu uma maior interação com a ciência em laboratório. A indústria de corantes sintéticos alemã foi pioneira na instalação de laboratórios internos de P&D nas empresas em 1870, uma prática que se difundiu por outras empresas no mundo como Kodak (1895), General Electric (1900) ou DuPont (1902) marcando o fim da fase heroica das invenções.[1] No início da década de 1800 Wilhem von Humboldt foi nomeado Ministro da Educaçao da Prússia e iniciou um ambicioso programa de educação em especial a universitária transformando-as em centros de pesquisa.[2] A Bayer contratou o químico Carl Duisberg que inventou três novas tinturas mantendo contatos com o departamento de química das Universidades de Berlim e Wurzburg. Um novo laboratório foi montado em 1890 com investimentos de 750 mil libras. [3] Justus Liebig que se formara na Ecole Central de Paris[4] inaugurou em 1826 um laboratório de pesquisa química em Geissen. John Ziman observa que a indústria alemã de corantes prosperou na década de 1870 quando as empresas contrataram cientistas em seus laboratórios de pesquisa embora tais laboratórios ainda não se equiparassem aos universitários por exemplo os de Von Bayer ou Hoffman.[5] O modelo de Liebig se difundiu com seus estudantes entre os quais Hoffman que montou um centro de pesquisa no Royal College of Chemistry em Londres.[6] O modelo alemão de interação das universidades com empresas privadas difundiu-se na Inglaterra, França e Estados Unidos[7]. Na Inglaterra muitos laboratórios se estabeleceram com auxílio de fundos privados como o Cavendish Laboratory em Cambridge com recursos do duque de Devonshire o laboratório de química do Royal Institute que recebeu fundos de Ludwig Mond. Estima-se que nos fins do século XIX as universidades inglesas tenham recebido algo em torno de 200 mil libras por ano em dotações privadas a maior parte de industriais, contudo este fluxo de recursos embora significativo representava apenas 1/20 do recebido pelas universidades norte americanas que recebeu aportes de empresários como Johns Hopkins, Ezra Cornell, Andrew Carnegie e John Rockfeller.[8] Laboratórios de pesquisa foram adotados pela Du Pont (1902), AT&T (1910), Eastman Kodak (1912) e Westinghouse (1916).[9]

Laboratório de Justus von Liebig na Universidade de Giessen [10]


[1] FREEMAN, Chris; SOETE, Luc. A economia da inovação industrial, São Paulo:Ed. Unicamp, 2008, p.132
[2] MOSLEY, Michael.Uma história da ciência. Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 203
[3] HENDERSON, William. A revolução industrial, São Paulo:Edusp, 1979, p.53
[4] INKSTER, Ian. Science and technology in history, London:MacMillan, 1991, p. 156
[5] ZIMAN, John. A força do conhecimento, São Paulo:USP, 1981, p.81
[6] INKSTER, Ian. Science and technology in history, London:MacMillan, 1991, p. 93
[7] INKSTER, Ian. Science and technology in history, London:MacMillan, 1991, p. 99
[8] INKSTER, Ian. Science and technology in history, London:MacMillan, 1991, p. 111, 253
[9] INKSTER, Ian. Science and technology in history, London:MacMillan, 1991, p. 113
[10] CANEDO, Letícia Bicalho. A revolução industrial. Série: Discutindo a história, São Paulo: Ed. Univ Campinas, 1987, p.46; HENDERSON, William. A revolução industrial, São Paulo:Edusp, 1979, p.54

Nenhum comentário:

Postar um comentário