sábado, 30 de setembro de 2017

O papel do acaso: raios X


Ao realizar experimentos com o tubo de raios catódicos, conhecido como tubo de Crookes, o alemão Wilhem Roentgen notou um efeito curioso. Em suas pesquisas Wilhem Roentegn usava tubos de diferentes formatos, alguns em formato de pera, com o catodo na extremidade mais fina. Os raios catódicos eram lançados sobre a extremidade maior e faziam brilhar o vidro. Para ocultar a luminosidade excessiva, Roentgen cobria alguns tubos com papel preto ou um pedaço de papelão. Próximo do tubo haviam placas de um material fluorescente, chamado platino cianeto de bário, que brilhava sempre que o tubo era ligado. Num certo dia havia, por acaso, uma barra de ferro de um aparelho estava entre o tubo e o anteparo de papelão colocado em uma mesa. Ele pode observar que no anteparo se observava uma sombra da vara de ferro, embora sobre ela não incidisse nenhuma luz que justificasse a sombra. O brilho persistia mesmo que Roentgen colocasse obstáculos entre o tubo e as placas de cianeto de bário. Aqueles não eram raios catódicos, embora fossem produzidos quando estes atingiam as paredes de vidro do tubo. Não poderiam ser partículas, pois os raios não eram defletidos por um campo magnético ou elétrico, por outro lado não eram refratadas por uma lente, o que mostrava que se tratava de raios de comprimento de onda muito pequeno [1]. A natureza dos raios X foi determinada somente em 1912 com os trabalhos de Max von Laue, ao demonstrar que estes são uma forma de radiação como a luz que se produz quando elétrons em movimento são subitamente detidos ao chocar-se contra um alvo metálico. O fenômeno que havia sido percebido por outros cientistas como Philip Lenard [2] era visto como mera curiosidade, levou a Roentgen desenvolver o que viria a se tornar o primeiro aparelho de raios X para detecção de fraturas em ossos [3]. Em dezembro de 1895 apresentou seu relatório à Associação Física e Médica de Wurzburg sob o título: “De uma nova espécie de raios”. [4]Inicialmente Roengten não percebera o alcance da descoberta na área de diagnóstico.[5] A seu pedido, suas anotações de laboratório foram queimadas após sua morte, de modo que não podemos ter certeza em que circunstâncias Wilhelm Roentgen descobriu os raios X. [6] Embora não representasse qualquer questionamento das teorias existentes, a comunidade científica reagiu com surpresa. A princípio Kelvin considerou um embuste muito bem elaborado, no entanto, tais dúvidas rapidamente se dissiparam.[7] O jornal da Associação Médica Americana publicou matéria mostrando-se cético quanto a viabilidade prática do método diante da necessidade de um tempo excessivo de exposição e o custo do equipamento, no entanto já na guerra greco turca de 1897 a radiografia já estaria sendo empregada para identificação de projéteis nos feridos.[8]



[1] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência, vol. IV A ciência nos séculos XIX e XX, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p106
[2] FRIEDMAN, Meyer; FRIEDLAND, Gerald. As dez maiores descobertas da medicina. São Paulo:Cia das Letras, 2000, p. 175; PHILBIN, Tom. As 100 maiores invenções da história, Rio de Janeiro:DIFEL, 2006, p.164
[3] DUARTE.op. cit. p. 215
[4] STOKLEY, James. A ciência reconstrói o mundo, Rio de Janeiro:Ed. Globo,1951, p.138
[5] ROBERTS, Royston. Descobertas acidentais em ciências, Campinas:Papirus, 1993, p.179
[6] HART DAVIS, Adam. O livro da Ciência, São Paulo:Globo Livros, 20144, p. 187
[7] KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas, São Paulo:Perspectiva, 2003, p.85
[8] ABRIL Cultural, Medicina e Saúde. História da Medicina, v.II, São Paulo, 1970, p. 548

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