Ashish Arora mostra que embora os
mercados de tecnologia tem crescido nos países desenvolvidos ainda é grande o
potencial de expansão do setor. A União Europeia estima que US$ 20 bilhões
foram gastos na Europa em 2000 para o desenvolvimento de tecnologias já
conhecidas em alguma outra parte do mundo[1]
O incremento dos licenciamentos de tecnologia não significam que o retorno
social das novas tecnologias seja menor. Nem toda a tecnologia desenvolvida
pelo titular pode por este ser apropriada sendo inevitável e salutar para a
economia a difusão da tecnologia entre os concorrentes por outros meios do que
os mercados formais de tecnologia. [2]
A difusão dos mercados de
tecnologias tendem a aumentar os investimentos em P&D na medida em que
permite a muitos inventores focar suas atividades em pesquisa deixando para
outras empresas a capacidade de comercializá-las. Isto fortalece a entrada de
novas empresas no mercado e sua posição competitiva, em especial pequenas
empresas. [3]
A interação de empresas inovadoras com outros agentes permite compartilhar os
riscos inerentes do processo de inovação tecnológica[4]
além de garantir o uso compartilhado dos canais de distribuição e logístico.[5]
As pequenas empresas tendem a assumir riscos em investir em novos mercados que
as grandes empresas comprometidas com investimentos anteriores tendem a não
fazer. Na área de computadores pessoais Ken Olsen, presidente da DEC em reunião
em 1974, questionado quanto a possibilidade de se fabricar uma versão compacta
do PDP-8 voltado para consumidores individuais afirmou: “Não consigo imaginar um motivo para que alguém queira ter seu próprio
computador pessoal”.[6]
Os primeiros computadores pessoais chegariam ao mercado através de empresas de
garagens como Altair e Apple.
A Cambridge Display Technologies
(CDT) especializada em tecnologia de polímeros foi fundada por pesquisadores da
Universidade de Cambridge e inicialmente tentou comercializar seus próprios
produtos baseado em sua tecnologia, porém sem sucesso. A empresa então decidiu
que focaria seu negócio somente nas atividades de P&D, deixando a
comercialização com empresas como Hoescht, Dow Chemicals e Philips Electronics.[7]
Os riscos desta estratégia porém são grandes, a empresa mexicana Syntex foi
fundada em 1944 e nos anos 80 ganhou mercado com o anti inflamatório patenteado
Naprosyn. Com o término da patente em 1993 a empresa não suportou a
concorrência com a indústria de genéricos e foi adquirida pela suíça Roche
Holding por US$ 5 bilhões.[8]
O terylene, uma fibra de poliéster da ICI foi inventada pela pequena empresa de
P&D Calico Printer’ Association que licenciou esta tecnologia para a ICI na
Inglaterra e DuPont nos Estados Unidos. As duas empresas gastaram cada uma cerca de 10 milhões de dólares para
tornar produto uma realidade de mercado,
um custo que a pequena empresa não poderia arcar.[9]
Arora argumenta que a criação de
mercados de tecnologia contribui para uma melhor divisão do trabalho na
produção de tecnologia e consequentemente produz economias de escala reduzindo
a duplicação de esforços em P&D. Na área química as SEFs (specialized engineering forms)[10]
surgidas nas décadas de 50 e 60 nos Estados Unidos são um exemplo, tornando-se
uma fonte de tecnologia para indústria química européia e japonesa e aumentando
a concorrência no setor. Dados do período de 1980 a 1990 mostram que cerca de
20% da tecnologia usada pelas empresas químicas nos Estados Unidos foram
desenvolvimento in-house, 34.6% com origem em SEFs e 43.9% de outras empresas.[11]
Em software o encapsulamento de
código, padronização, interoperabilidade e características de reusabilidade
permitiram o surgimento de pequenas empresas no mercado de tecnologia. Um
exemplo é a tecnologia CORBA controlada pelo consórcio Component Management
Group (CMG) que reúne mais de 20 mil membros (empresas e indivíduos)[12]
Em biotecnologia as Dedicated Biotechnology Firms (DBFs) surgidas nos anos
1980-1990 tais como a Genentech foram responsáveis pelo desenvolvimento de
tecnologias como clonagem, kits de diagnóstico e terapias para novos tratamento
de doenças como diabetes. De 21 novas entidades biotecnológicas aprovadas pelo
FDA em 1994, 19 foram desenvolvimentos de DBFs[13].
Em semicondutores diversas software house encarregadas do projeto lógico de
circuitos integrados puderam entrar no mercado enviando seus projetos para
grandes fabricantes confeccionarem os chips propriamente ditos. [14]
A modularidade da tecnologia desempenha um papel fundamental para formação de
mercados de tecnologia, e neste aspecto o desenvolvimento da informática
permitiu a modularização de diversas tecnologias.[15]Assim
a existência de um mercado para tais tecnologias significa que a importância da
tecnologia como fonte de vantagens competitivas é com isto reduzida.
[1] ARORA, Ashish;
FOSFURI, Andrea; GAMBARDELLA, Alfonso. Markets for Technology: the economics of
innovation and corporate strategy, London : MIT Press, 2001, p.8
[2] ARORA,op.cit.p.9,
27; Kanwar, S. & Evenson, R. 2003. Does intellectual property protection
spur technological change? Oxford Economic Papers, 55:2, 235-64; OECD 2008.
Science, Technology and Industry Outlook. Paris: OECD.
[3] ARORA,op.cit.p.10,
13
[4] DOSI, Giovanni.
Sources, procedures md microeconomic effects of innovation. Journal of Economic
Literature, v.XXVI, setembro, 1988, p.1120-1171
[5] TEECE, D. Profiting
from technological innovation: implications for integration, collaboration,
licensing and public policy, Research Policy, v.15, 1986, p.285-305
[6] ISAACSON, Walter. Os inovadores: uma
biografia da revolução digital, São Paulo: Cia das Letras, 2014, p. 279
[7] ARORA.op.cit.p.242
[8] ARORA.op.cit.p.243
[9]
FREEMAN, Chris; SOETE, Luc. A economia da inovação industrial, São Paulo:Ed.
Unicamp, 2008, p.
[10] ARORA.op.cit.p.247,
275
[11] ARORA.op.cit.p.50
[12] ARORA.op.cit.p.56
[13] ARORA.op.cir.p.63,
65
[14] ARORA,op.cit.p.76
[15] ARORA.op.cit.p.102,
113
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