domingo, 26 de julho de 2015

Patentes e pequenas empresas

Ashish Arora mostra que embora os mercados de tecnologia tem crescido nos países desenvolvidos ainda é grande o potencial de expansão do setor. A União Europeia estima que US$ 20 bilhões foram gastos na Europa em 2000 para o desenvolvimento de tecnologias já conhecidas em alguma outra parte do mundo[1] O incremento dos licenciamentos de tecnologia não significam que o retorno social das novas tecnologias seja menor. Nem toda a tecnologia desenvolvida pelo titular pode por este ser apropriada sendo inevitável e salutar para a economia a difusão da tecnologia entre os concorrentes por outros meios do que os mercados formais de tecnologia. [2]
A difusão dos mercados de tecnologias tendem a aumentar os investimentos em P&D na medida em que permite a muitos inventores focar suas atividades em pesquisa deixando para outras empresas a capacidade de comercializá-las. Isto fortalece a entrada de novas empresas no mercado e sua posição competitiva, em especial pequenas empresas. [3] A interação de empresas inovadoras com outros agentes permite compartilhar os riscos inerentes do processo de inovação tecnológica[4] além de garantir o uso compartilhado dos canais de distribuição e logístico.[5] As pequenas empresas tendem a assumir riscos em investir em novos mercados que as grandes empresas comprometidas com investimentos anteriores tendem a não fazer. Na área de computadores pessoais Ken Olsen, presidente da DEC em reunião em 1974, questionado quanto a possibilidade de se fabricar uma versão compacta do PDP-8 voltado para consumidores individuais afirmou: “Não consigo imaginar um motivo para que alguém queira ter seu próprio computador pessoal”.[6] Os primeiros computadores pessoais chegariam ao mercado através de empresas de garagens como Altair e Apple.
A Cambridge Display Technologies (CDT) especializada em tecnologia de polímeros foi fundada por pesquisadores da Universidade de Cambridge e inicialmente tentou comercializar seus próprios produtos baseado em sua tecnologia, porém sem sucesso. A empresa então decidiu que focaria seu negócio somente nas atividades de P&D, deixando a comercialização com empresas como Hoescht, Dow Chemicals e Philips Electronics.[7] Os riscos desta estratégia porém são grandes, a empresa mexicana Syntex foi fundada em 1944 e nos anos 80 ganhou mercado com o anti inflamatório patenteado Naprosyn. Com o término da patente em 1993 a empresa não suportou a concorrência com a indústria de genéricos e foi adquirida pela suíça Roche Holding por US$ 5 bilhões.[8] O terylene, uma fibra de poliéster da ICI foi inventada pela pequena empresa de P&D Calico Printer’ Association que licenciou esta tecnologia para a ICI na Inglaterra e DuPont nos Estados Unidos. As duas empresas gastaram cada uma  cerca de 10 milhões de dólares para tornar  produto uma realidade de mercado, um custo que a pequena empresa não poderia arcar.[9]
Arora argumenta que a criação de mercados de tecnologia contribui para uma melhor divisão do trabalho na produção de tecnologia e consequentemente produz economias de escala reduzindo a duplicação de esforços em P&D. Na área química as SEFs (specialized engineering forms)[10] surgidas nas décadas de 50 e 60 nos Estados Unidos são um exemplo, tornando-se uma fonte de tecnologia para indústria química européia e japonesa e aumentando a concorrência no setor. Dados do período de 1980 a 1990 mostram que cerca de 20% da tecnologia usada pelas empresas químicas nos Estados Unidos foram desenvolvimento in-house, 34.6% com origem em SEFs e 43.9% de outras empresas.[11] Em software o encapsulamento de código, padronização, interoperabilidade e características de reusabilidade permitiram o surgimento de pequenas empresas no mercado de tecnologia. Um exemplo é a tecnologia CORBA controlada pelo consórcio Component Management Group (CMG) que reúne mais de 20 mil membros (empresas e indivíduos)[12] Em biotecnologia as Dedicated Biotechnology Firms (DBFs) surgidas nos anos 1980-1990 tais como a Genentech foram responsáveis pelo desenvolvimento de tecnologias como clonagem, kits de diagnóstico e terapias para novos tratamento de doenças como diabetes. De 21 novas entidades biotecnológicas aprovadas pelo FDA em 1994, 19 foram desenvolvimentos de DBFs[13]. Em semicondutores diversas software house encarregadas do projeto lógico de circuitos integrados puderam entrar no mercado enviando seus projetos para grandes fabricantes confeccionarem os chips propriamente ditos. [14] A modularidade da tecnologia desempenha um papel fundamental para formação de mercados de tecnologia, e neste aspecto o desenvolvimento da informática permitiu a modularização de diversas tecnologias.[15]Assim a existência de um mercado para tais tecnologias significa que a importância da tecnologia como fonte de vantagens competitivas é com isto reduzida.



[1] ARORA, Ashish; FOSFURI, Andrea; GAMBARDELLA, Alfonso. Markets for Technology: the economics of innovation and corporate strategy, London : MIT Press, 2001, p.8
[2] ARORA,op.cit.p.9, 27; Kanwar, S. & Evenson, R. 2003. Does intellectual property protection spur technological change? Oxford Economic Papers, 55:2, 235-64; OECD 2008. Science, Technology and Industry Outlook. Paris: OECD.
[3] ARORA,op.cit.p.10, 13
[4] DOSI, Giovanni. Sources, procedures md microeconomic effects of innovation. Journal of Economic Literature, v.XXVI, setembro, 1988, p.1120-1171
[5] TEECE, D. Profiting from technological innovation: implications for integration, collaboration, licensing and public policy, Research Policy, v.15, 1986, p.285-305
[6] ISAACSON, Walter. Os inovadores: uma biografia da revolução digital, São Paulo: Cia das Letras, 2014, p. 279
[7] ARORA.op.cit.p.242
[8] ARORA.op.cit.p.243
[9] FREEMAN, Chris; SOETE, Luc. A economia da inovação industrial, São Paulo:Ed. Unicamp, 2008, p.
[10] ARORA.op.cit.p.247, 275
[11] ARORA.op.cit.p.50
[12] ARORA.op.cit.p.56
[13] ARORA.op.cir.p.63, 65
[14] ARORA,op.cit.p.76
[15] ARORA.op.cit.p.102, 113

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