Um exemplo de acaso é a invenção das benzodiazepinas que inclui
vários tranquilizantes. Em meados dos anos 1950 o químico Leo Sternbach dos
laboratórios Hoffmann La Roche pensou ter obtido moléculas cujo ciclo
heptagonal incluía dois azotos e um oxigênio, no entanto logo percebeu o erro e
ao invés dos compostos heptagonais esperados havia sintetizado N-óxidos da
quinazolina. Prepara assim cerca de 40 compostos de aminometil tratando o N-óxido
da clorometilquinazolina com aminas
secundárias sem descobrir qualquer interesse farmacológico. Em um dos casos
havia também utilizado uma amina primária, mas diante de tantos resultados
negativos, este acabou desapercebido e não chegou a ser testado. Dois anos
depois em 1957, por ocasião de uma arrumação no laboratório resolve testar as
amostras e surpreendentemente este composto que havia sido deixado de lado
revela-se ativo. O estudo demonstrou que o uso da amina primári ao invés de uma
amina secundária deu origem a um heterociclo
heptagonal com dois azotos resultando na benzodiazepina comercializado como
Librium e 1960. Logo depois surgiria o Valium, cinco vezes mais ativo. [1]
Em 1898 o químico alemão Hans von Pechman produziu por acaso o
polipropileno ao descobrir uma substância branca cerácea no fundo de um tubo de
ensaio sem dar maior atenção. Em 1930 dois químicos da Imperial Chemical
Industries repetiram os mesmos experimentos e iniciaram a produção comercial do
polipropileno em 1939.[2] Em
1943 Max Fisher, dos laboratórios BASF, utilizou uma reação química para
produção de óleos lubrificantes sintéticos a partir do etileno. Ele percebeu
que além do óleo eram produzidos grande quantidades de um pó branco, que
considerava resíduo. Karl Ziegler trabalhando com Giulio Natta[3]
conseguiu utilizando reação química semelhante produzir polietileno de muito
maior resistência do disponível até então. Natta aplicou com sucesso o
catalisador de Ziegler na polimerização do propileno e outros hidrocarbonetos
semelhantes ao etileno.[4] O
polipropileno logo se tornou um importante plástico novo que se prestava à
fabricação em forma de fibra com grande uso na fabricação de mobiliário
doméstico, fabricação de cabos e redes de pesca, entre outras aplicações. [5]
Usando os novos catalisadores tornou-se possível a produção de borracha
sintética idêntica à natural. Com o avanço das pesquisas observou-se que
misturas de compostos orgânicos de alumínio e titânio, conhecidas como
catalisadores Ziegler-Natta, podiam ser utilizadas como
catalisadores na produção de diferentes tipos de plásticos [6]. Os inventores foram
premiados com o Nobel de Química em 1963 pois com a técnica era possível a
síntese de polímeros cujas propriedades podiam ser precisamente controladas.[7] O
desenvolvimento de Ziegler foi impulsionado em grande parte como forma de
contornar a patente da ICI em polietileno de alta densidade (PEhd) licenciada
para a empresa alemã IG Farben. Embora o plástico porduzido por Ziegler não
fosse propriamente concorrente do plástico produzido pela ICI, as rivalidades
em torno dos desenvolvimentos tecnológicos patenteados das diferentes empresas
contribuíram para uma diversificação dos produtos.[8] Um
Tribunal de Paris de 1969 entendeu que a função de catalizador era nova ao
passo que a ação de coordenação sobre um monômero etileno sendo nova poderia
ser patenteada. Mesmo que a mesma função pudesse ser empregada a polimerização
de outros tipos de monômeros, este meio geral poderia ser objeto da patente e
não apenas a aplicação específica na polimerização de etileno. [9]
Em 1839, na tentativa de tornar a borracha sintética algo mais
prático Charles Goodyear acreditava que solução seria acrescentar certas
substâncias à goma pura de borracha e encontrar a melhor maneira de secar a
mistura. Numa de suas experiências, uma bolha de uma de suas misturas saltou da
panela em que era cozida e caiu na superfície quente do fogão. Depois de
resfriada a mistura Goodyear observou que ela havia secado totalmente
emborrachada, consistente e nada grudenta. Ao unir as moléculas de polímero da
borracha com pontes de átomos de enxofre, ela se torna muito mais dura, menos
pegajosa, mais resistente e durável. [10] Após
cinco anos de aperfeiçoamentos, ele finalmente conseguiu um processo que
produzia resultados uniformes com uma borracha
rija, elástica e estável seja no inverno ou verão.[11] Estava
inventado o princípio da vulcanização da borracha, patenteado em 1844 [12].Seus ganhos com os
royalties desta patente foram pequenos. Na Inglaterra Thomas Hancock solicitou
uma patente para processo de vulcanização idêntico ao de Charles Goodyear antes
que este viesse solicitar a patente na Inglaterra.
Karl Ziegler [13]
[1] LAFONT, Olivier. A
química. In: COTARDIÈRE, Philippe.
História das ciências: da antiguidade aos nossos dias, Rio de Janeiro:Saraiva,
2011, p.239
[2] CHALINE, Eric. As piores
invenções da história e os culpados por elas.Rio de Janeiro:sextante, 2015, p.142
[5] TREVOR, Williams. História
das invenções: do machado de pedra às tecnologias da informação. Belo
Horizonte: Gutenberg, 2009, p.300
[6] LEE.op. cit. p. 195.
[7] COUTEUR, Penny le;
BURRESON, Jay. Os botões de Napoleão: as 17 moléculas que mudaram a história.
Rio de Janeiro:Zahar, 2006, p.14
[8] BELTRAN, Alain; CHAUVEAU, Sophie; BEAR, Gabriel. Des brevets et des
marques: une histoire de la propriété industrielle, Fayard, 2001, p. 274
[9] CHAVANNE, Albert;
BURST, Jean-Jacques; Droit de la Propriété Industrielle, Précis
Dalloz:Paris,1976, p.32
[11] COUTEUR, Penny le;
BURRESON, Jay. Os botões de Napoleão: as 17 moléculas que mudaram a história. Rio
de Janeiro:Zahar, 2006, p.138
[12] DUARTE.op. cit. p. 203; CAMP, Sprague.
A história secreta e curiosa das grandes invenções.Rio de Janeiro:Lidador,
1964, p. 280; ROBERTS, Royston. Descobertas acidentais em ciências,
Campinas:Papirus, 1993, p.76; LENTIN, Jean Pierre. Penso, logo me engano. São
Paulo:Ática, 1996, p. 88
[13] https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Ziegler
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