quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A ineficácia do Alvará de 1809


Maria Ciparrone mostra que D. João VI tentou fomentar a industrialização de tecidos de algodão no Brasil valendo-se da disponibilidade de matéria prima na colônia. A partir de 1813 São Paulo buscou atrair investidores privados financiando a criação de fábricas submetidas à Junta de Comércio que se encarregava do pagamento e fiscalização das atividades operacionais dos mestres tecelões entre os quais podemos citar o português Thomaz Roiz Toxa, o catarinense João Marcos Vieira e o mestre lisboeta João Moreira. Em 1815 D. João VI mandou vir de Lisboa máquinas para tecelagem. Em 1819 uma fábrica foi instalada junto a lagoa Rodrigo de Freitas. [1] A falta de fios restringia o aumento de produção tornando indispensável a aquisição de máquinas filatórias que substituíam o trabalho das fiandeiras.Um modelo inglês similar a Jenny de Hargreaves foi trazida de Lisboa em 1825 por João Moreira com capacidade de quarenta fusos enquanto as máquinas inglesas da época já trabalhavam com 100 fusos. A máquina patenteada na Inglaterra, não tinha patente pelo Alvará de 1809 o que mostra um exemplo de como o Alvará não era tido como um instrumento eficaz na proteção de inventos ingleses no Brasil.[2] Em 1808 o ex inconfidente padre Manoel Rodrigues da Costa trouxe de Portugal para Minas Gerais máquinas de tecer linho[3]. A abertura dos portos em 1808 e os privilégios concedidos aos ingleses em 1810 renovados em 1826 invalidaram tais medidas protecionistas do Estado em prol da industrialização do algodão tornando-se mecanismo de proteção da propriedade industrial inglesa muito mais efetivo, com isso as exportações de tecidos paulistas declinaram após 1826 enquanto que as importações atingiram sem auge em 1830. [4]
 
Reprodução retirada da obra de Pearse (1922). Imagem de mulher fiando no interior do Brasil, na primeira década do século XX
 
 
 



[1] BARBOSA, Elmer. Sistema FIRJAN: 180 anos da indústria brasileira de 1827 ao século XXI, 2007, p.15; MELLO, Maria Regina Ciparrone. A industrialização do algodão em São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1983, p.31
[2] MELLO, Maria Regina Ciparrone. A industrialização do algodão em São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1983, p.83
[3] MELLO, Maria Regina Ciparrone. A industrialização do algodão em São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1983, p.79
[4] MELLO, Maria Regina Ciparrone. A industrialização do algodão em São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1983, p.149

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