terça-feira, 1 de setembro de 2015

Brasil na Exposição da Filadélfia de 1876

A exposição universal dos Estados Unidos foi oficialmente aberta em 10 de maio de 1876 no Independence Hall, onde foi assinada a a Declaração de Independência dos Estados Unidos, sendo o imperador brasileiro a maior autoridade estrangeira a estar presente no evento. O Brasil contribuiu com 150 mil dólares para o evento. O imperador nesta década de 1870 se tornara alvo da crítica pela imprensa por suas viagens entre os quais as caricaturas de Angelo Agostini da “Revista Illustrada” e Rafel Bordalo, amigo de Eça de Queiroz, e dono de “O mosquito”. Em 1876 Pedro II esteve praticamente ausente do país.[1]  Os gastos excessivos nas viagens também eram objeto de questionamentos. [2] A participação brasileira no evento deu novo impulso ao comércio de café do Brasil com os Estados Unidos. [3] Uma charge publicada na Harper’s Bazar de 27/05/1876, mostra os "acompanhantes" do imperador chamados de "Bray-silly-uns", onde a palavra bray significa "zurrar" e silly “estúpidos” representados com cabeças de animais como burros e gansos em referência as “asneiras” e comentários estúpidos pronunciados pela comitiva do imperador. [4]

Charge na Harper’s Bazar de 27/05/1876 sobre a participação brasileira na Exposição da Filadélfia

Os pavilhões de exposição foram montados no Fairmount Park. No pavilhão de máquina Pedro II adquiriu dezesseis locomotivas[5]. O pavilhão do Brasil trazia exemplares de minerais, móveis de madeira brasileira, pinturas e principalmente produtos agrícolas no Pavilhão de Agricultura. Na mesma exposição o pavilhão brasileiro mostrava entre peças de artesanato, produtos tropicais, redes e peles, um quadro de Pedro Américo mostrando “A carioca” uma sensual mulata desnuda junto a um poema de Joaquim de Sousa Andrade, mais conhecido por Sousândrade, em que a destaca como símbolo da indústria nacional [6]. Sousândrade, por sua vez, zombou da participação do Brasil na exposição da Filadélfia no Canto X d’O Guesa, o qual ficou conhecido como Inferno de Wall Street, o poeta assim cantou: “Indústria nossa na Exposição... Oh Ponza! Que coxas! Que Trouxas! De azul vidro és o sol patagão!”.[7] As obras brasileiras ocupavam parte de duas salas com 21 obras de pintura, desenho e escultura, além de um número maior de fotografias e, ainda, um único trabalho de arte aplicada. Entre as obras de pintura brasileira além da obra de Pedro Américo estava a obra “Combate Naval de Riachuelo” de Vitor Meirelles sobre a guerra do Paraguai.[8] Em 1877, Pedro Américo irá expor em Florença a Batalha de Avaí, encomendada pelo Ministério do Exército. Entre 1886 e 1888, pinta a tela Independência ou Morte, para o Salão de Honra do Museu do Ipiranga, atualmente Museu Paulista da Universidade de São Paulo - MP/USP. O relatório da Comissão brasileira conclui: “Não nos iludamos, o que mereceu aplausos na exposição foi quase tudo obra da natureza; o trabalho do homem entrou aí com pequena parcela, mas felizmente, tanto quanto bastou para demonstrar que não somos indignos das riquezas que possuímos”. [9]



[1] SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia, São Paulo:Cia das Letras, 2015, p.303
[2] SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia, São Paulo:Cia das Letras, 2015, p.304
[3] PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições universais: espetáculos da modernidade do século XIX, São Paulo: Hucitec, 1997, p.156
[4] PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições universais: espetáculos da modernidade do século XIX, São Paulo: Hucitec, 1997, p.157
[5] Enquanto Ingram indica 16 locomotivas o diário de Pedro II indica apenas 12. http://www.museuimperial.gov.br/diario-d-pedro-ii/5476-27-06-1878.html
[6] SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, São Paulo: Cia das Letras, 1998, p. 376.
[7] CASTELLANO, Ramon. Sousândrade em 3D: indianismo romântico, política indigenista e sujeitos indígenas. Revista Contemporânea – dossiê 1964-20014: 50 anos depoi, a cultura autoritária em questão, ano 4, n.5, 2014, v.1 http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/Sousandrade_em_3d_Indianismo_Romantico_Politica_Indigenista_e_Sujeitos_Indigenas.pdf
[8] CARDOSO, Rafael. Ressuscitando um Velho Cavalo de Batalha: Novas Dimensões da Pintura Histórica do Segundo Reinado, 19&20, Rio de Janeiro, v. II, n. 3, jul. 2007. http://www.dezenovevinte.net/criticas/rc_batalha.htm
[9] PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições universais: espetáculos da modernidade do século XIX, São Paulo: Hucitec, 1997, p.157

2 comentários:

  1. Observando apenas e bjetivamente a ilustração, o sentido de "Dom Pedro and the bray-silly-uns OF THE United States" diz que os tais seres com cabeças de animais são, na verdade, americanos.Sabe-se que a campanha presidencial do pleito seguinte lançara, como protesto, o nome de Pedro II para presidente. Quem não concordou com o protesto alcunhou os adversários com esse apelido grotesco.

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  2. voce tem referencia dessa informação ?

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