domingo, 14 de dezembro de 2014

Mulheres inventoras

Com relação ao gênero, estudos mostram que a invenção é um universo predominantemente masculino. Waverly Ding da Universidade da Califórnia, Fiona Muray do MIT e Tony Stuart da Harvard Business School realizaram estudo com uma amostra de cerca de 400 cientistas nos Estados Unidos no período de 30 anos [1]. O estudo mostrou que 6 por cento das 903 mulheres no grupo produziram apenas 92 patentes. No entanto, 13 por cento dos 3324 homens na amostra depositaram 1286 patentes, ou seja, os homens depositaram 14 vezes mais patentes que suas colegas cientistas. Marta González Garcia argumenta que no passado, a legislação de patentes em muitos casos restringia o direito de propriedade das patentes às mulheres, o que levava a que fossem apresentados os nomes do pai ou marido como responsável pelas invenções feitas pelas mulheres, tornando difícil o registro estatístico das invenções realizadas [2]. No estudo sobre o uso do sistema de patentes na Inglaterra dos séculos XVII e XVIII Christine MacLeod observa que menos de um por cento dos inventores detentores de patentes são mulheres.[3]

David J. Munroe (Columbia University), Jennifer Hunt (Rutger University), Hannah Herman e Jean-Philippe Garant (McGill University), mostraram que menos de 13% das patentes tem uma mulher entre os inventores nos países desenvolvidos (12,3% na Espanha; 10,3% nos EUA; 10,2% na França; e 4,7% na Alemanha, segundo dados de outros pesquisadores).[4] Segundo os autores, se essas diferenças fossem resolvidas, isso significaria um aumento imediato no PIB per capita americano de 2,7%. 

As mulheres pouco aparecem como depositantes de patentes do século XIX, e quando isto ocorre quase sempre está relacionado a algum direito adquirido por herança. Por exemplo, o Decreto n.3872 de 18 de maio de 1867 prorroga o prazo do privilégio concedido pelo Decreto n. 2962 de 23 de agosto de 1862 a Manoel Joaquim de Oliveira para o preparo da tinta violeta. O requerimento foi feito em nome de sua viúva Ricarda Rosa de Oliveira[5]. No livro de Clovis Rodrigues, A Inventiva Brasileira consta o nome de Joanna Manocla com patentes de 1884 sobre preparo de azoto fosfato (Decreto 146) e fabricação de sangue seco (Decreto 171) como uma das primeiras mulheres a solicitar patentes no Brasil. Leandro Malavota aponta a francesa domiciliada no Rio de Janeiro Elisa Roux como titular de patente de maquinismo para loção de ouro, um aperfeiçoamento de maquinismo anterior obtido em 1829 por cessão de uma patente depositada no Brasil pelo alemão Frederico Bauer.[6]

Nos Estados Unidos Margaret Knight foi uma das primeiras mulheres a receber uma patente. Sua invenção mais famosa é o saco de papel de fundo chato assim como uma máquina que corta, dobra e cola o saco de papel numa única operação. A invenção surgiu enquanto trabalhava numa fábrica de sacos de papel após a Guerra Civil norte americana. Para construção do protótipo de sua máquina a inventora enviou o projeto para uma oficina de usinagem. Um dos funcionários da oficina aproveitou-se da situação de apressou-se em depositar uma patente. Margaret Knight conseguiu com sucesso na Justiça reverter a patente para seu nome em 1873. A história é surpreendente não apenas por uma mulher ter se destacado como precursora num universo de inventores majoritariamente dominado por homens, como pelo fato de ter conseguido valer seus direitos na Justiça [7].

Entre as mulheres inventoras podemos destacar Angela Robles (1949 – enciclopédia mecânica), Josephine Cochrane (1894 – lava louças), comunicações spread spectrum (1941 - Hedy Lamarr), guarda sol (Mary Dixon Kies, 1809, considerada a primeira mulher a ter uma patente concedida no USPTO), copiadora (Beulah Louise Henry, com mais de 50 patentes no USPTO), Bette Nesmith Graham (liquid paper, 1956), rampa de salto vertical (Hélène Dutrieu), Stephanie Kwolek (Kevlar, 1971), Grace Murray Hopper (linguagem COBOL, 1959), Marie Curie (radioatividade).[8] Jennifer Hunt et. al, fazem um estudo onde estimam que apenas em 10% das patentes concedidas pelo USPTO em 1998 ao menos uma mulher é listada como inventora. Este baixo índice se deve a menor participação de mulheres em cursos de engenharia e na carreira científica onde há uma maior propensão ao patenteamento.[9]



Margaret Knight [10]




[1] MACLAY, Kathleen. Study addresses gender, patents in academia. http: //www.universityofcalifornia.edu/news/article/8384.
[2] GARCIA, Marta González; SEDEÑO, Eulalia Pérez. Ciência, tecnologia e gênero. In: SANTOS, Lucy Woellner dos; ICHIKAWA, Elisa; CARGANO, Doralice. Ciência, tecnologia e gênero. Londrina: IAPAR, 2006, p. 39.
[3] GRIFFITHS, D. The exclusion of women from technology In: FAULKNER, Wendy; ARNOLD, Erik. Smothered by invention: technology in women’s lives, London, 1985. Cf. MacLEOD, Christine. Inventing the industrial revolution: the english patent system, 1660-1800, Cambridge:Cambridge University Press, 1988 p.225; McGaw. Judith. Inventors and other great women: toward feminist history o technological luminaries, T&C 38 (1977), p.214-231; STANLEY, Auntumn, Once and uture power: women as inventors. Women’s studies International forum, v.15 (1992), p.193-202; McDaniel,, Susan. Mothers of invention ? meshing the roles of inventor, mother and worker, Women’s studies International forum, v.11 (1988), p.1-12 cf. MacLEOD, Christine. Heroes of invention. technology, liberalism and british identity 1750-1914, Cambridge University Press, 2007, p.26
[4] Jennifer Hunt, Jean-Philippe Garant, Hannah Herman, David J. Munroe, Why Don't Women Patent?, NBER, 2012 http://www.nber.org/papers/w17888
[5] Colecção das Leis do Imperio do Brasil, de 1867, tomo XXVII, Parte I, Rio de Janeiro, p.181.
[6] MALAVOTA,Leandro Miranda. A construção do sistema de patentes no Brasil: um olhar histórico, Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2011, p. 97
[7] CHALLONER, Jack. 1001 invenções que mudaram o mundo. Rio de Janeiro:Ed. Sextante, 2010, p. 381.
[8] http://www.abc.es/ciencia/20130308/abci-mujeres-inventoras-historia-201303071705_1.html
[9] HUNT, Jennifer; GARANT, Jean Philippe; heRMAN, Hannah; MUNROE, David. Why are women underrepresented amongst patentees ? Research Policy , n.42, p.831-843, 2013
[10] http://www.techrepublic.com/pictures/photos-the-women-who-created-the-technology-industry/2/

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