sábado, 4 de outubro de 2014

Dupla proteção nos Estados Unidos

No USPTO o Estatuto 35 U.S.C. 101 determina que um inventor “pode obter uma patente” [1] . Esta é a base legal utilizada para as rejeições que envolvem as patentes duplas. Para estabelecer uma rejeição com base em “Patente Dupla”, os pedidos copendentes devem ter sido depositados (i) pela mesma “entidade inventiva” (grupo de inventores listados no campo inventor); ou (ii) por diferentes “entidades inventivas”, tendo um inventor em comum; ou (iii) por um depositante em comum; ou (iv) por diferentes depositantes, mas submetidos a um comum acordo [2].
Caso o examinador considere que um segundo pedido é uma variação óbvia de um primeiro pedido ou patente do mesmo inventor, o requerente poderá depositar um terminal disclaimer, concordando que a segunda patente não tenha vigência superior ao da primeira patente. Ambas as patentes se extinguem ao mesmo tempo. Evita-se desta forma o indeferimento do pedido com base no argumento de patente dupla (double patenting) [3]. O fundamento de se evitar que um mesmo inventor obtenha duas patentes para mesma invenção ou variações óbvias de uma primeira invenção é o de se evitar que este possa prolongar indevidamente a extensão de seus direitos em detrimento da sociedade.
Em julho de 2010 a US District Court de Michigan concluiu pela anulação de algumas reivindicações da patente US5464826 tendo em vista a patente US4808614 da mesma titular Eli Lilly. A empresa não apresentou um terminal disclaimer para a patente US5464826. A patente US4808614 reivindica método de tratamento antiviral que inclui o composto gencitabina. Embora o relatório descritivo cite a aplicação no tratamento de câncer, esta característica não é reivindicada. A patente US5464826, por sua vez, em sua reivindicação 2 pleiteia método de tratamento de câncer utilizando a gencitabina. A Corte entendeu que esta reivindicação é considerada óbvia perante a patente anterior e, portanto, configura duplo patenteamento. O argumento aplica-se a todo e qualquer uso revelado no relatório descritivo da patente anterior [4].
Em setembro de 2014 o Federal Circuit em Abbvie Inc. v. Kennedy Institute of Rheumatology Trust[5] tratou de duas patentes de um mesmo depositante relativa a métodos de tratamento de artrite reumatóide pela co-administração de medicamentos. A primeira patente que expirou em 2012 reivindicava um método de coadministração de dois medicamentos para tratar a artrite enquanto que a segunda patente, que expira em 2018 trata da administração conjunta de medicamentos para tratar artrite reumatóide. A empresa Abbvie licenciou a primeira patente. Quando a segunda patente foi concedida passou também a ter de pagar licenças pelo uso da segunda patente e por este motivo iniciou uma ação contra a titular alegando ser esta segunda patente inválida conforme a doutrina de obviedade por duplo patenteamento (doctrine of obviousness-type double patenting ODP). O Federal Circuit entendeu que a segunda patente se digiria aos mesmos pacientes de artrite da primeira patente não sendo considerada distinta da primeira patente. A primeira patente inclui o modo de administração reivindicado na segunda patente de modo que a Corte entendeu a segunda patente como uma variação óbvia da primeira patente que tratava pacientes de artrite em geral. A Corte destacou que a questão não se resume a simplesmente dizer que a segunda patente está dentro do escopo da primeira uma vez que espécies mais restritas podem ser consideradas não óbvias de um caso mais geral (patentes de seleção). Neste caso o leitor da primeira patente facilmente teria visualizado sua aplicação em pacientes de casos mais severos de artrite reumatóide como proposto da segunda patente e, portanto, esta não se mostra distinta da primeira.




[1] Whoever invents or discovers any new and useful process, machine, manufacture, or composition of matter, or any new and useful improvement thereof, may obtain a patent therefor, subject to the conditions and requirements of this title. http: //www.uspto.gov/web/offices/pac/mpep/documents/appxl_35_U_S_C_101.htm.
[2] Programa de Examinadores Estrangeiros em Residência “Foreign Examiner-In-Residence (FEIR) program” Maio 2007 a Janeiro 2008 USPTO – Alexandria Virginia, p. 17.
[3] BOUCHOUX, Deborah. Intellectual Property for Paralegals: the Law of trademark, copyrights, patents and trade secrets. Canada: Thomson, West Law Studies, 2005. p. 334.
[4] JENEI, Stephen. Lilly loses method patent after use was disclosed in earlier patent .
        http: //www.drugdiscoverynews.com/index.php?newsarticle=4152.
[5] Case No. 13-1545 (Fed Cir., Aug. 21, 2014) cf. HAWKINS, Charles. The doctrine of obviousness-type double patenting maintains its vitality, 01/10/2014 http://www.lexology.com

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