quinta-feira, 3 de abril de 2014

Patente Europeia

A dificuldade de harmonização entre os países maiores depositantes de patentes tem impedido a viabilização de uma patente mundial. Peter Drahos ao se referir aos divergentes pontos de vista apresentados nas discussões do SPLT usa a metáfora de um circo, diante da falta de acordo. Isto tem orientado as ações para os escritórios de patentes por parte dos interessados nesta harmonização.[1] Mesmo na Europa há entraves para a criação de uma patente europeia, face as dificuldades de estabelecimento de um judiciário comum entre os países membros. A recente introdução na legislação da União Europeia da Diretiva 2004/48/EC do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de abril de 2004 no reforço dos direitos de propriedade intelectual (a Diretiva de Reforço PI) visa harmonizar os vários sistemas legislativos de modo a garantir a homogeneização da proteção dos direitos de propriedade intelectual na Europa. [2] Contudo, em discussão na Conferência Intergovernamental em Paris em 1999, o Acordo Europeu de Litígio de Patentes (EPLA), não teve sucesso em instaurar um sistema de litígio que previa a criação de um Tribunal de Patente Europeu como órgão independente da EPO com jurisdição sobre a validade e infração das patentes europeias. Em março de 2011 a Court of Justice of the European Union (CJEU) rejeitou proposta para um sistema de litígio unificado assim como a criação de uma Corte Comunitária de Patentes por considerar a proposta incompatível com as disposições do Tratado da União Europeia [3].
As dificuldades quanto a necessidade de tradução da patente europeia para os diferentes idiomas locais de cada país foram objeto de discussão no Acordo de Londres. No sistema atual a patente EP B1 para ser validada no país deverá ser acompanhada de respectiva tradução do pedido de patente completo e atender as formalidades legais. O texto oficial, contudo, é o apresentado em inglês/francês/alemão do pedido EP B1, porém o Artigo 70 (4b) da EPC prevê ressalvas contra eventuais erros de tradução que levem a terceiros de boa fé a iniciar a produção sem saber que o dito objeto está protegido pelo texto autêntico em inglês/francês/alemão.[4]
O objetivo do acordo é o de permitir que os cidadãos e as empresas europeias que queiram obter patentes em cada país da Comunidade Europeia possam fazê-lo com custos substancialmente reduzidos, através da supressão de exigências relacionadas com a tradução das patentes europeias para diferentes idiomas. O Acordo de Londres permite que as empresas europeias que queiram, por exemplo, investir em Portugal apenas tenham que apresentar o quadro reivindicatório do pedido da patente europeia em português. A adesão de Portugal ao Acordo de Londres foi aprovado pela Conselho de Ministros em outubro de 2010. O Acordo de Londres foi assinado em 2000 por 10 países da Organização Europeia de Patentes (OEP) e tem como objetivo tornar o sistema europeu de proteção de patentes mais competitivo, através da redução da carga burocrática e dos custos associados às traduções exigidas nos países da OEP. Atualmente já ratificaram ou aderiram ao Acordo de Londres, Alemanha, Croácia, Dinamarca, Eslovênia, França, Hungria, Islândia, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Mônaco, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça [5]. Estima-se que com o Acordo de Londres haja uma redução de 15 a 20% a título de traduções porque dispensa o titular da tradução integral do documento de patente. [6]
Os problemas para o estabelecimento de uma Corte Comunitária de Patentes e os problemas de tradução foram enfrentados sendo a questão de um judiciário comum o maior entrave encontrado para uma patente europeia. Com relação aos problemas de tradução países como Itália, Portugal e Espanha [7] manifestaram preocupação com a desvantagem competitiva de suas empresas diante de um sistema de patente europeu tal como tem sido proposto na medida em que todo o processo judicial em caso de litígio teria de ser realizado no idioma estrangeiro o que implicaria em custos adicionais para as empresas italianas, portuguesas e espanholas, pois invariavelmente implicaria na necessidade de contratação de escritórios de advocacia do exterior [8]. Os governos da Espanha e Itália protocolaram uma queixa formal em julho de 2011 na Corte de Justiça Europeia solicitando a anulação da decisão de março do mesmo ano do Conselho Europeu em favor de uma proposta para se criar uma patente comunitária.[9]
Em 29 junho de 2012 foi alcançado um acordo[10] de uma patente unitária e um sistema de litígio unificado, entre os países de Comunidade Europeia, exceto Espanha e Itália [11]. Em 2013 contudo a Itália mudou sua posição inicial e assinou o acordo. Espanha, Croacia e Polônia não assinaram o Acordo em 2013. Até 2014 ratificaram o acordo apenas Áustria e França. O sistema deve entrar em vigor em 2014-2015 com procedimentos de concessão e oposição substancialmente similares aos existentes junto à EPO, tão logo ratificado por ao menos três países. A necessidade de validação nacional da patente EP B1 deixa de ser necessária. Enquanto as ações de primeira instância continuam no âmbito nacional, enquanto que uma Corte de segunda instância para ações de recurso e validade de uma patente são resolvidas em uma Divisão Central localizada em Paris, com seções especializadas em Londres (química, incluindo farmacêuticos e ciências da vida) e em Munique (para engenharia mecânica).[12] Estima-se que com o acordo os gastos com litígio de patentes europeias sejam reduzidos em 289 milhões de euros por ano, assim como sejam reduzidos os gastos para obtenção de uma patente em cada país membro do Acordo.[13]
No entanto a medida encontrou resistência no Parlamento Europeu. O Instituto Max Plank divulgou estudo em outubro de 2012 que mostra que a patente comunitária pode representar uma fragmentação ainda maior do sistema de patentes europeu na medida em que o acordo não contempla todos os países da Comunidade Europeia. Desta forma conviveriam as patentes nacionais concedidas localmente, as patentes concedidas pela EPO dentro da patente comunitária, as patentes concedidas pela EPO mas não validadas pela patente comunitária devido a não ratificação do país ao acordo. Segundo o Instituto persistem diferenças nas legislações locais como os direitos de usuário anterior e a regulação de licenças compulsórias. O estudo também aponta os riscos de desfuncionalidade da Unified Patent Court (UPCt) proposta no Acordo.[14] O acordo final foi aprovado pelo Parlamento Europeu em votação de dezembro de 2012. Estimativas avaliam que os custos atuais de cerca de 36 mil euros para obtenção de uma patente válida em diferentes países europeus seja reduzida para apenas €4,725. A proposta foi aprovada por 25 do 27 países Membros da União Europeia, com oposição apenas de Espanha e a Itália em protesto contra a restrição dos idiomas de tramitação de tal patente e litígios no Tribunal Europeu a apenas inglês, alemão e francês, os três idiomas oficiais da EU, o que prejudicaria os interesses das empresas espanholas e italianas na defesa de seus direitos[15]




[1] DRAHOS, Peter. The global governance of knowledge: patent offices and their clients. Cambrige University Press:United Kingdom, 2010, p.51
[2] ROOX, Kristof. Barreiras relacionadas à patente para entrada de medicamentos genéricos no mercado na União Européia: uma revisão das fraquezas no atual sistema de patente europeu e seu impacto no acesso de medicamentos genéricos no mercado. mai. 2008, p. 17 http: //www.progenericos.org.br/ProGenerico_Livro.pdf.
[3] CJEU rejects unified patent litigation system . mar.2011.
    http: //www.marks-clerk.com/uk/attorneys/news/newsitem.aspx?item=371.
[4] CORNISH, William, LLEWELYN, David. Intellectual property: patents, copyright, trade marks and allied rights. London: Sweet&Maxwell, 2007. p. 149.
[5] Adesão da Hungria ao “Acordo de Londres” permite poupança de custos para investidores portugueses na Hungria.
    http: //www.marcasepatentes.pt/index.php?action=view&id=155&module=newsmodule.
[6] MARCELINO, João; ROCHA, Manuel Lopes. Invenções e Patentes. Lisboa:IAPMEI, 2009, p.87
[7] Latest move toward singe European patent. mar.2011 http: //www.manches.com/news-publications/single-european-patent.
[8] Is the EU going to have a new common patent law? fev.2011 http: //www.edri.org/edrigram/number9.4/towards-a-european-patent-law.
[9] http://www.ip-watch.org/weblog/2011/07/07/spain-italy-file-opposition-to-eu-unitary-patent/
[10] http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_Data/docs/pressdata/en/ec/131388.pdf
[11] http://www.epo.org/news-issues/news/2012/20120629.html
[12] http://www.patentdocs.org/2012/07/news-from-abroad-eu-patent-is-finally-born.html
[13] http://www.lexology.com/r.ashx?i=2881388&l=7GSVZ0M
[14] http://www.ip.mpg.de/en/pub/publications/opinions/unitary_patent_package.cfm#i53898
[15] http://www.europarl.europa.eu/news/en/headlines/content/20121203FCS04313/3/html/Parliament-approves-EU-unitary-patent-rules

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