sábado, 30 de maio de 2020

A patente do Captropil

Sérgio Henrique Ferreira fez doutorado em farmacologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, sob orientação do pesquisador Maurício Rocha e Silva ( 1910-1983), descobridor da bradicinina em 1948. Em 1963, Sérgio Ferreira publicou estudo sobre substância que identificou como Fator Potencializador da Bradicinina , BPF (bradykinin potentiating factor) presente no veneno da cobra jararaca ( Bothrops jararaca) . Descobriu que o BPF inibia a conversão da Angiotensina I para Angiotensina II . A aplicação mais imediata foi a produção de um medicamento de uso oral para hipertensão arterial pelo laboratório Squibb, o CAPTOPRIL, e um novo grupo de medicamentos : os inibidores da enzima de conversão da angiotensina. Entre 1971 e 1975, Sérgio Ferreira voltou a pesquisar com John Vane e trabalhou como diretor de pesquisa do laboratório farmacêutico Wellcome. Sociedades médicas de vários países colocaram Sérgio como um dos pesquisadores mais produtivos e atuantes do mundo. As pesquisas de Sergio Ferreira não foram patenteadas pelo pesquisador no Brasil e este tem sido um exemplo de potencial patente que poderia ter rendido muitos royalties a universidade, no entanto numa entrevista a Revista Ciência Hoje de abril de 1993 o próprio Sérgio Ferreira entende que sua pesquisa não seria patenteada: "este conhecimento científico é de domínio público, pois a pesquisa que o gerou foi previamente publicada e em geral realizada com verbas governamentais". No entanto Sergio Ferreira entende que é fundamental algum tipo de proteção a tal criação intelectual, especialmente em países subdesenvolvidos como o Brasil: "Existe um obscuro consenso internacional de que o domínio público de um conhecimento impede o pesquisador de participar dos direitos de uma patente cujo ponto de partida foi o seu trabalho. Essa atitude pode ser aceitável em países desenvolvidos, onde as indústrias são capazes de transformas as novas descobertas científicas em invenções. No terceiro mundo, porém, este sistema é injusto, já que os países menos desenvolvidos ou em desenvolvimento não dispõem de indústrias fortes o suficiente para inventar novos produtos. Mesmo nos países desenvolvidos, os cientistas das universidades estão hoje sob pressão e, com frequência, a sua sobrevivência depende da execução de projetos de cunho pragmático social (voltados para doenças prevalentes, por exemplo) ou da associação com indústrias. Esse tipo de orientação , sem dúvida, acabará por esterilizar a criatividade dos pesquisadores, pois não estimula a pesquisa desenganada nem facilita o raciocínio paralelo, tão fundamental para as novas descobertas. O que está ocorrendo é que o cientista acaba retendo a sua descoberta para oferecê-las indústria, antes de publicá-la. Com isso o mundo científico começa a perder o estímulo dos pares e a desenvolver a paranoia do segredo. Quando discutimos esses problemas com vários colegas que trabalham na indústria transnacional de medicamentos, existe uma concordância geral de que o pesquisador que produziu o conhecimento inicial deveria ser premiado. Entretanto a maioria não vê como tal premiação poderia se verificar na prática. A forma mais simples que encontramos é a existência, junto ao sistema de patentes de um setor que receba as propostas de possíveis inventos baseados nos conhecimentos publicados pelos autores. Desta form, se algum invento, que tenha uma óbvia base em conhecimentos anteriores vier a ser patenteado, os pesquisadores deverão receber uma fração, meso pequena, da patente concedida. Isso não quer dizer que os descobridores venham diretamente a se beneficiar pessoalmente dos royalties das patentes , mas suas instituições certamente se beneficiarão. O reconhecimento dos direitos de propriedade intelectual certamente irá proteger a pesquisa científica nas universidades m todo o mundo, num momento em que elas estão à beira do colapso".

https://www.youtube.com/watch?v=O84WUUILjSk&list=PLNM2T4DNzmq7vJsSROHWOVU0L3anc_qW0&index=17&t=0s


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