quarta-feira, 26 de junho de 2019

Antiguidade é evidencia de atividade inventiva ?


Na França, uma técnica usada na indústria têxtil em casacos de malha teve como anterioridade documentos que comprovavam o uso da mesma técnica na idade média e em antigas armaduras japonesas[1], assim como em outro caso, um objeto exposto em um museu datado da era romana foi igualmente considerado como anterioridade válida.[2] Uma decisão da Corte de Paris de 1858, conclui que a anterioridade pode remontar indefinidamente no tempo.[3] Paul Mathely entende que a análise de atividade inventiva deva ter como referência os conhecimentos do técnico no assunto, independente da antiguidade de tais anterioridades. Na Alemanha, uma patente de um instrumento musical denominado Ariston foi anulada com anterioridade de um objeto de 1602 guardado no Museu de Dresden e somente conhecida por alguns poucos especialistas.[4] Por outro lado, uma decisão da Corte de Apelações de Paris conclui que a diferença de muitos anos com o documento de anterioridade é considerada indício de atividade inventiva.[5] Em outro julgado da Corte de Paris de 1984 se conclui que uma diferença de onze anos na anterioridade com o pedido em exame foi considerada como indício de atividade inventiva.[6] Na França, a Corte de Paris entendeu que o tempo decorrido entre a publicação das anterioridades e o depósito do pedido pode ser usado como evidência secundária de atividade inventiva. Pollaud Dulian observa que este longo intervalo de tempo não terá qualquer efeito nos casos em que se trata de mera execução de operações correntes de domínio do técnico no assunto.[7] Jan Vojácek observa que não devem ser considerados como anterioridades os documentos publicados algumas décadas de distância do pedido de patente em exame, uma vez que o estado da técnica, ou seja, o conhecimento de domínio do técnico no assunto é bastante distinto nos dois casos, o que é ainda mais verdadeira em campos tecnológicos cujo progresso tecnológico é bastante rápido. Jan Vojácek observa que na década de 1930 as legislações de países como Hungria, Alemanha (segundo a lei de 1891)[8] e Portugal estabeleciam este limite de tempo em 100 anos.[9] Além disso, a divulgação pelo uso era considerada estado da técnica apenas na condição de que ela ocorreu no território nacional.[10] Thomas Edison se queixa de um escritório de patentes no exterior que apresentou como anterioridade um documento usado pelos egípcios de dois mil anos antes de Cristo.[11] Em T435/17 conclui que o longo tempo entre a data de publicação de D12 (1953) e a data de prioridade da patente (2008) não é prova de que exista atividade inventiva. Várias razões tais como econômicas ou comerciais podem explicar porque a solução óbvia prevista e conhecida em D12 não foi implementada antes para o problema técnico a ser resolvido.[12]


[1] TGI Rennes, 25 novembro 1991, PIBD, 1992, n.598.III.457
[2] POLLAUD-DULIAN, Frédéric , Propriété intellectuelle. La propriété industrielle, Economica:Paris, 2011, p.181; AZÉMA, Jacques; GALLOUX, Jean Christophe. Droit de la propriété industriele, Paris:Dalloz, 2012, p.198
[3] Paris, 17 julho 1858, cf. CHAVANNE, op.cit., p.43
[4] HAEGHEN, Vander. Brevets d'invention marques et modèles, Bruxelas:Ed. Ferdinand Larcier, 1928, p.39
[5] CA Paris, 6 março 1975 Cosmao c. MMM, Ann. 1975, 118 ccf BERTRAND, André. La propriété intellectuelle, Livre II, Marques et Breves Dessins et Modèles, Delmas:Paris, 1995, p.124
[6] Paris, 29 março 1984, PIBD 1984.III.165 CHAVANNE, op.cit. p.60
[7] Paris, 28 novembro 1984, PIBD, 1985, n.366.III.119, cf. POLLAUD-DULIAN, Frédéric , Propriété intellectuelle. La propriété industrielle, Economica:Paris, 2011, p.210
[8] VOJÁCEK, Jan. A survey of the principal national patent systems. New York:Prentice Hall, 1936, p.146
[9] VOJÁCEK, op.cit., p.24
[10] CASALONGA, Axel. Conditions de brevetabilite, Estrasburgo:CEIPI, 2012, p.52
[11] VOGTLE, Fritz. Edison. Biblioteca Savat de Grandes Biografias, Barcelona:Salvat, 1985, p.115
[12] https://europeanpatentcaselaw.blogspot.com/2019/06/t43517-intervention-et-definition-de.html

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