Santos Dumont
manifestou por diversas vezes que não tinha intenções de pedir patentes de suas
invenções. Thomas Edison em encontro com Santos Dumont nos Estados Unidos em
1902 justificou seu desinteresse por invenções em aeronáutica: “Não farei
nenhum empreendimento que não possa ser protegido dos piratas que vivem do
trabalho dos inventores, e não acredito que se possa patentear uma máquina
voadora nem um aeroplano, ou qualquer um de seus componentes. Caso alguém
consiga construir uma máquina voadora bem-sucedida comercialmente, dúzias de
pessoas iriam de imediato copiá-lo e tirar proveito do trabalho original do
inventor. Nenhum juiz neste país reconheceria este aparelho como uma verdadeira
invenção, porque já foi tanto feito e escrito sobre o assunto que a única diferença
entre uma máquina bem-sucedida e os inúmeros fracassos ocorridos será muito
tênue. Duvido que se descubra um novo princípio ao qual possa ser feita uma
reivindicação de patente”. Em resposta Santos Dumont não contestou os
argumentos de Edison: “Infelizmente o que ele diz sobre o reconhecimento do
trabalho do inventor é verdadeiro, porém jamais me importei com isso” [1].
Mesmo
não protegendo suas invenções por patentes Santos Dumont tomou precauções para
não perder o reconhecimento de suas invenções, concorrendo a diversos prêmios
públicos onde a autoria de suas invenções pudesse ser publicamente reconhecida
e reportada pela imprensa local de Paris. Ao iniciar suas pesquisas com
aparelhos mais pesados que o ar, uma área onde a competição era muito grande, teve
o cuidado de manter suas pesquisas em segredo até o momento de suas
apresentações em público. Segundo Paul Hoffman este segredo é facilmente
explicado: “Não tinha interesse em patentear sua nova máquina ou tirar
proveito dela de outra maneira, mas como era um novato nos voos dos mais
pesados que o ar, a única maneira de sobrepor-se àqueles que tinham trabalhado
anos para solucionar o problema era pegá-los de surpresa. Quando realizou seu
trabalho pioneiro com os balões a motor, ele estava muito mais evoluído que os
demais aeronautas, e a chance de alguém circunavegar a torre Eiffel antes dele
era mínima; assim ele podia revelar seus projetos. Mas agora, com a competição
crescente, sabia que era improvável que fosse o primeiro a voar num aparelho
mais pesado que o ar e, se não fosse bem-sucedido, não gostaria que soubessem
que não tivera êxito em sua tentativa” [2].
O
não reconhecimento de patentes impediu que Santos Dumont auferisse rendimentos
de suas invenções. O Demoiselle foi vendido por toda a Europa, sob sua
autorização, pelo fabricante de automóveis Clement Bayard [3]. O motor também foi produzido
por outros dois fabricantes de automóveis a Dutheil & Chalmers e a Darracq.
Os dirigentes da Darracq pensaram logo em patentear o referido motor, visando a
futuros lucros comerciais, porém Santos Dumont, processou a empresa pois sua
proposta era o de permitir a máxima difusão do projeto popularizando o uso do
avião tal qual Henry Ford fizera com o automóvel ao produzir o modelo T a baixo
custo, muito embora Henry Ford tenha recebido diversas patentes como a US747909
de 1903. Em 1916 foram vendidos 730 mil automóveis modelo T ao custo de $360
unidade, ao passo que em 1924 a produção chegou a 2 milhões de automóveis ao
custo de $290 a unidade[4].
Ao final do litígio Santos Dumont conseguiu impedir a concessão de patente para
o motor Darracq utilizado no Demoiselle [5]. Uma companhia de Chicago
vendeu o modelo nos Estados Unidos. O projeto do aparelho foi divulgado na
Revista Popular Mechanics de junho e julho de 1911, e com isso o
aeroplano foi reproduzido em diversos locais. A revista “A Ilustração”
de 12 de fevereiro de 1910, mostrava um anúncio de fabricantes de aviões. “Um
‘Blériot nº 11’ custava 12.000 francos; um ‘Antoinette’, 25.000 francos; um biplano
‘Voisin’, sem motor, 12.000 francos; um ‘Farman’, 13.000 francos. Os motores
tinham mais ou menos preço idêntico. O ‘Demoiselle” era o mais barato. Um, sem
motor, 2.000 francos; com motor de 30 cavalos, 9.000 francos; com motor leve,
5.000 francos” [6].
[1] HOFFMAN, Paul. Asas da Loucura: a
extraordinária vida de Santos Dumont, Rio de Janeiro: Objetiva, 2010, p.
208
[2]
HOFFMAN.op. cit. p. 277
[3]
HOFFMAN.op. cit. p. 299
[4] McCLELLAN III, James;
DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The
Johns Hopkins University Press, 1999, p.338
[5] COSTA, Fernando Hippólito da. Alberto
Santos Dumont: o pai da aviação. Rio de Janeiro: Adler, Brasília: Banco do
Brasil, 2006, p. 62
[6] MAIER, Félix. Santos Dumont: 100
Anos Do 14-bis set. 2007 http:
//www.webartigos.com/articles/663/4/Santos-Dumont-100-Anos-Do-14-bis/pagina4.html.
Nenhum comentário:
Postar um comentário