domingo, 23 de novembro de 2014

A inovação de fármacos na Índia após TRIPs

Para Alexandre Grangeiro e Paulo Roberto Teixeira o resultado da adoção da LPI atendendo as prerrogativas de TRIPs antes dos prazos de transição estabelecidos trouxe como consequências que “a indústria farmacêutica nacional apresenta sistematicamente tendência de retração e, em outros aspectos, embora possua capacidade para produzir princípios ativos, não é internacionalmente competitiva na área, importando da Índia e da China grande parte da matéria-prima utilizada no país”. A Índia, segundo os autores por ter adiado a implementação de TRIPs hoje tornou-se um dos principais produtores de medicamentos genéricos e princípios ativos do mundo [1]. Entretanto, estudo de Arora em 2007, realizado com empresas farmacêuticas indianas mostra que os gastos em P&D das empresas aumentou com o reforçamento do sistema de patentes. O estudo mostra que a entrada do sistema de patentes no setor modificou o comportamento estratégico das empresas indianas que abandonaram o comportamento de imitação para o de inovação [2]. Lanjouw mostra que em países com fraca proteção patentária e forte controle de preços, os novos medicamentos tornam-se disponíveis no mercado (se é que isto chega a ocorrer) somente após substanciais atrasos em detrimento dos consumidores [3].

Susip Chauhuri[4] mostra que o setor farmacêutico indiano na década de 1990 tinha como média de investimentos de 1.5% do percentual de vendas em P&D. Este número após TRIPS aumentou para próximo de 9%. Para a empresa Dr. Reddy por exemplo os investimento que em 1994 eram de 2% aumentaram para 17% em 2004. O fato das empresas poderem solicitar patentes no USPTO por si só já representa um estímulo para P&D das empresas indianas. Enquanto até 1995 as empresas farmacêuticas indianas depositaram 161 patentes no USPTO este número aumentou para 572 no período pós TRIPs de 2001-2005, um aumento de 250%. As empresas brasileiras no mesmo período aumentaram de 20 para 32 patentes, enquanto que as chinesas de 30 para 134 patentes (340%). Muitas destas patentes de empresas indianas se referem a novas formulações e inovações incrementais tendo em vista redução de efeitos colaterais. Embora empresas como Cadila Healthcare, Dr. Reddy, Glenmark, Lupin, Nicholas Piramal, Ranbaxy e Wockhardt tenham iniciado o desenvolvimento de novos medicamentos (NCE – New Chemical Entity) ainda não há um exemplo de tais medicamentos que tenha chegado ao mercado. A Ranbaxy em 2005 obteve 60% de seu faturamento em exportações, a Cipla  e Dr. Reddy com 50% também mantém índices altos de exportação. Apesar da maior pesquisa das empresas indianas Sudip  Chaudhuri observa que estas empresas tem investido pouco em doenças negligenciadas que afetam predominantemente países em desenvolvimento, com exceção de investimentos feitos pela Ranbaxy na malária e da Lupin em tuberculose (TB).


Anji Reddy,  cientista fundador da Dr. Reddy [5]




[1]  GRANGEIRO, Alexandre; TEIXEIRA, Paulo Roberto. Repercussões do acordo de Propriedade Intelectual no acesso a medicamentos. In: VILLARES, Fabio. Propriedade intelectual: tensões entre o capital e a sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2007. p. 118.
[2] ARORA, Ashish. Intellectual property rights and the international transfer of technology: setting out and agenda for empirical research in developing countries In: The economics of intellectual property: suggestions for further research in developing countries and countries with economies in transition, WIPO, 2009, p. 55.
[3] COCKBURN, Ian. Intellectual property rights and pharmaceuticals: challenges and opportunities for economic research. In: The economics of intellectual property: suggestions for further research in developing countries and countries with economies in transition, WIPO, 2009, p. 159.
[4] CHAUDHURI, Sudip. Is product patent protection necessary to spur innovation in developing countries : R&D by Indiam pharmaceutical companies after TRIPs. In: NETANEL, Neil Weinstock. The development agenda: global intellectual property and developing countries. Oxford University Press, 2009,p.265-291
[5] http://www.drreddys.com/aboutus/our-founder.html

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