A escola
estruturalista latino americana de Raul Prebisch e Celso Furtado também destaca
o papel das inovações tecnológicas para o desenvolvimento econômico. Por este
modelo o progresso tecnológico tende a elevar a produtividade na indústria
assim como ao aumento de salários sendo este maior que o aumento de
produtividade o que tende a reduzir a taxa de lucro e desta forma a fazer com
que os empresários iniciem novo ciclo de inovação em busca de novos aumentos de
produtividade: “A fim de defender a taxa de
remuneração do capital, a partir do momento em que a taxa dos salários alcance
uma cota crítica, os empresários se esforçarão por introduzir processos
produtivos poupadores do fator trabalho”[1]. Nos
países periféricos contudo a industrialização sendo induzida de fora para
dentro constitui um processo distinto da industrialização no centro do sistema
capitalista: “No centro, o processo
tecnológico assumiu inicialmente a forma de inovações nos processo produtivos,
as quais se traduziam em transformações da oferta, que provocavam a deslocação
da atividade artesanal, redução dos preços de oferta, ampliação do mercado e a
necessidade de introduzir produtos novos. Na periferia, a ampliação do mercado
e introdução de produtos novos precedem
a industrialização. O mercado de produtos manufaturados é inicialmente
alimentado pelas importações.Portanto o progresso tecnológico se introduz de
início pelo lado da demanda. A sociedade se moderniza antes que a economia se
desenvolva”.[2]
Há um descompasso entre a introdução de novas tecnológicas nos países
periféricos e sua difusão, esta incapaz de dinamizar a economia para garantir um
ritmo endógeno de se buscar um novo ciclo de inovação. Segundo Celso Furtado há
uma diferenciação entre o processo de industrialização nos países centrais e
periféricos: “Nos países centrais, os que
comandam o processo de industrialização, o ponto de partida era um progresso
tecnológico que assume a forma de transformação nos processos de produção, na
oferta. Por aí começa sua evolução global.O progresso tecnológico assume
primeiramente a forma de inovações no processo produtivo, no métodos de
produção. Assim a oferta se vê transformada e essa transformação assume a forma
de baixa nos preços relativos de certos setores, deslocação do setor
artesanal, ampliação da demanda, necessidade de se introduzir novos produtos,
etc. Tudo interligado, entrelaçado. No sistema de economia subdesenvolvida, o processo
se inicia pelo lado da demanda, via ampliação do mercado por causa da elevação
da produtividade econômica, que decorrer da inserção na divisão internacional
do trabalho [em seu papel de exportador de produtos primários]”.[3] A
inovação, portanto, nada mais é que o “exercício
de uma forma de poder”[4] que
somente pode ser compreendida sem que se compreenda a forma como a economia periférica
está inserida no comércio internacional. Desta forma para Celso Furtado a
economia periférica industrializada por um processo conhecido como “substituição de importações” tem um
caráter de complemento externo e que não se formou como um sistema autônomo[5]: “o resultado de tudo isso foi a criação no
país de um sistema industrial altamente integrado, exclusivamente voltado para
o mercado interno, sem capacidade competitiva internacional [sem inovação], e
ainda assim, no essencial, controlado por empresas transnacionais”.[6]
Para Celso
Furtado as inovações tecnológicas introduzidas nos países periféricos operam no
sentido de se preservar as relações de dominação com os países centrais[7]: “o desenvolvimento periférico passa a ser ,
portanto, a diversificação (a a ampliação) do consumo de uma minoria cujo estilo
de vida é ditado pela evolução cultural dos países de alta produtividade e onde
o desenvolvimento se apoiou, desde o início do progresso tecnológico. Mais precisamente:
o principal fator causante da elevação de produtividade na economia periférica
industrializada parece ser a diversificação dos padrões de consumo das minorias
de altas rendas, sem que o processo tenha necessariamente repercussões nas
condições de vida da grande maioria da população [...] Como esse desenvolvimento
envolve a adoção de novos padrões de consumo ou a sua difusão, e como esses
novos padrões trazem consigo um vínculo de tipo internacional (importação de
inputs pagamentos de royalties de patentes, dividendos, etc) pode-se afirmar
também que o referido desenvolvimento é uma transformação estrutural do sistema
global no sentido de estreitar as relações de dependência”.[8] Segundo Celso
Furtado: “A elevação da produtividade e a
modificação nas formas de consumo, sem assimilação concomitante de progresso
tecnológico, nos processos produtivos, constituía, em realidade o ponto de
partida da formação das estruturas subdesenvolvidas [...] A história do
subdesenvolvimento consiste fundamentalmente no desdobramento desse modelo de
economia em que o progresso tecnológico serviu muito mais para modernizar os
hábitos de consumo [das classes ricas] do que para transformar os processos produtivos”.[9] Nessa
perspectiva as previsões de Celso Furtado não parecem muito promissoras aos
países periféricos: “Tudo indica que
prosseguirá o avanço das empresas transnacionais, graças à crescente
concentração do poder financeiro e aos acordos no âmbito da OMC sobre patentes
e controle da atividade intelectual, o que contribui para aumentar o fosso
entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos”.[10]
[1]
FURTADO, Celso. Economia do desenvolvimento. Curso ministrado na PUC SP em
1975, Rio de Janeiro:Contraponto, 2008, p. 241
[2]
FURTADO, Celso. Economia do desenvolvimento. Curso ministrado na PUC SP em
1975, Rio de Janeiro:Contraponto, 2008, p. 86
[3]
FURTADO, Celso. Economia do desenvolvimento. Curso ministrado na PUC SP em
1975, Rio de Janeiro:Contraponto, 2008, p. 157
[4]
FURTADO, Celso. Economia do desenvolvimento. Curso ministrado na PUC SP em
1975, Rio de Janeiro:Contraponto, 2008, p. 40
[5]
FURTADO, Celso. Economia do desenvolvimento. Curso ministrado na PUC SP em
1975, Rio de Janeiro:Contraponto, 2008, p. 170
[6]
FURTADO, Celso. Economia do desenvolvimento. Curso ministrado na PUC SP em
1975, Rio de Janeiro:Contraponto, 2008, p. 112
[7]
FURTADO, Celso. Análise do modelo brasileiro, Rio de Janeiro:Civilização
Brasileira, 1973, p.13
[8]
FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico, sâo Paulo:Abril
Cultural, 1983, Série os Economistas, p.182, 185
[9]
FURTADO, Celso. Análise do modelo brasileiro, Rio de Janeiro:Civilização
Brasileira, 1973, p.11
[10]
FURTADO, Celso. O capitalismo global. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1999, p. 37
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