terça-feira, 26 de julho de 2022

A lei de patentes na França

 

Na França, a concessão de muitos monopólios medievais, muitos com caráter perpétuo levou a Luís XIV a adotar uma lei de patentes consolidando práticas administrativas seguidas até então, quando em 1791 a Assembleia Constituinte aprovou uma nova lei de patentes. Esta lei de 1791 aboliu o exame técnico de patenteabilidade, que desde 1699 era realizado pela elite da Academia das Ciências.[1] Desde seus primeiros anos de criação a Academia das Ciências da França, instalada no Palácio do Louvre, começou a examinar alguns dos pedidos de patente de invenção que eram submetidos ao rei, ainda que sem formalizar tais critérios de exame o que viria a ocorrer apenas no Regulamento de 1699: "A Academia examinará, se o Rei ordenar, todas as máquinas para as quais se solicitarão privilégios junto de Sua Majestade. Ela certificará se são novas e úteis. E os inventores daquelas que forem aprovadas serão obrigados a deixar com ela um modelo".[2] Os protótipos dos inventos analisados eram armazenados na "Sala de máquinas" com aparelhos na área de óptica, hidráulica e mecânica. Entre 1666 e 1699 a Academia das Ciências da França examinou e deferiu 47 inventos.[3] Para os revolucionários franceses, imbuídos de um sentimento de democratização da ciência este exame técnico estava diretamente ligado à uma visão conservadora e elitista. Os artesãos inventores julgavam que deveriam ser julgados por seus pares e não por cientistas. Os cientistas por sua vez queixavam-se da grande quantidade de invenções inúteis e quiméricas, a ponto de Laplace em 1789 propor um teste de álgebra aos depositantes de patentes como critério para o depósito. Em 1790 o deputado Boufflers (figura) apresentou à Assembleia Nacional um projeto em defesa da lei de patentes, criticando contudo o exame da invenção:[4] "quantos embaraços, quantos obstáculos, quantas mágoas, quantos desgostos estiveram sempre reservados àqueles que ousavam apresentar-se à nossa administração como inventores de descobertas úteis ao gênero humano ! [...] O infeliz cliente [...] mal tem coragem para lhe apresentar a sua petição, objeto de tantas esperanças e fruto de tantas vigílias; recebem--no com um ar de impaciência, olham-no com um ar distraído, tratam-no com desdém".[5] Em 1791 um júri técnico composto por artesãos e cientistas, o Bureau de consultation des arts et métiers substitui a Academia no exame das patentes.[6]



[1] CARVALHO, Nuno Pires de. As origens do sistema brasileiro de patentes - o Alvará de 28 de abril de 1809 na confluência de políticas públicas divergentes - II,. Revista ABPI, Rio de Janeiro. n. 92, p. 10, jan.fev. 2008

[2] CARVALHO, Nuno. A estrutura dos sistemas de patentes e de marcas: passado, presente e futuro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 256.

[3] CARVALHO,op.cit,p.237

[4] PRAGER, Frank, History of intellectual property from 1545 to 1787. Journal of the Patent Office Society,v.26, n.11, nov 1944, p.711-760

[5] CARVALHO,op.cit.p.295

[6] GILLISPIE, Charles. The encyclopedie and the jacobin philosophy of science: a study in ideas and consequences. In: CLAGETT, Marshall. Critical problems in the history of science, Madison: Univer. Wisconsin Press, 1959, p.273



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