terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Patentes para estrangeiros ?

A proteção de inventos em feiras internacionais, bem como a ameaça de boicote dos EUA à uma feira de inventos na Europa[1], serviu como um fator adicional para criação da CUP, mas o maior motivador foi reduzir a espionagem industrial já em plena atividade. De fato os exibidores estrangeiros recusaram-se a participar da Exposição Internacional de Invenções em Viena (Weltausstellung 1873 Wien) em 1873 por receio de ter suas invenções apropriadas por terceiros [2]. A lei austríaca de 1852 exigia que a invenção de estrangeiros fosse fabricada dentro do Império Austro-Húngaro em até um ano após a concessão da patente sob pena de se ter a patente anulada. O ministro norte americano em Viena referia-se a este critério como uma virtual proibição à proteção de inventos estrangeiros.[3] Um artigo na revista Scientific American de 23 de setembro de 1871 registra o sentimento de insegurança dos expositores norte americanos diante da possibilidade de terem suas criações copiadas livremente e conclui: “o resultado desta política errônea e destrutiva será facilmente previsível”. Uma lei temporária foi aprovada para proteção das invenções expostas na Exposição de Viena. O evento foi instalado num conjunto de edifícios que tinha por peça central a Rotunde (a "Rotunda"), um enorme edifício de planta circular instalado no parque de Prater.[4] 

A restrição a concessão de patentes a estrangeiros se verifica nas legislações como a francesa que somente na lei de 5 de julho de 1844 permitiu que todo o inventor com patente na França tivesse a possibilidade de solicitar uma patente para a mesma matéria no estrangeiro, possibilidade vetada até então. Com esta possibilidade, a lei de 1844 suprimiu as chamadas patentes de importação[5] Com o maior intercâmbio de informação tecnológica e a possibilidade de um tempo de prioridade para realizar os depósitos nos demais países as patentes de importação tornaram-se supérfluas ou mesmo injustificáveis. Ainda assim na década de 1930 países como Bélgica, Bolívia, Equador França, Irã, Portugal, Romênia, Espanha, Turquia e Venezuela ainda previam em suas legislações patentes de importação. [6]Nos Estados Unidos somente em 1836 a exigência de residência para concessão de patentes foi removida sendo substituído por taxas discriminatórias em função da política de reciprocidade adotada pelo país estrangeiro: estrangeiros poderiam obter patentes nos Estados Unidos  por US$ 300 a U$500 se eles fossem britânicos. As leis de 1800, 1819 e 1832 oram gradativamente estendendo o direito a estrangeiros: primeiro para estrangeiros que residiam no país ao menos por dois anos e por fim a estrangeiros residentes no país que declarassem sua intenção de se tornar cidadãos americanos. As patentes concedidas as estes estrangeiros seriam nulas caso (i) não fossem exploradas dentro de um ano, (ii) se sua exploração fosse interrompida por seis meses ou (iii) no caso de não ser bem sucedido em se tornar cidadão americano.[7] Somente em 1861 as patentes passaram a ser acessíveis independente da nacionalidade do depositante.[8] Mesmo em 1930 os Estados Unidos mantinham uma das taxas mais baratas para tramitação do pedido de patente quando comparado por exemplo com as taxas cobradas na Alemanha ou Itália, por exemplo.[9]


Exposição de Viena em 1873 [10]




[1] MALAVOTA,Leandro Miranda. A construção do sistema de patentes no Brasil: um olhar histórico, Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2011, p. 236
[2]  IDRIS, Kamil. Intellectual property, a power tool for economic growth. Genebra: WIPO, 2003, p. 15.
[3] DRAHOS, Peter; BRAITHWAITE, John. Information feudalism: who owns the knowledge economy ? The New Press: New York, 2002, p.34
[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Exposi%C3%A7%C3%A3o_Universal_de_Viena
[5] BELTRAN, Alain; CHAUVEAU, Sophie; BEAR, Gabriel. Des brevets et des marques: une histoire de la propriété industrielle, Fayard, 2001, p. 31
[6] VOJÁCEK, Jan. A survey of the principal national patent systems. New York:Prentice Hall, 1936, p.39
[7] VOJÁCEK, Jan. A survey of the principal national patent systems. New York:Prentice Hall, 1936, p.116
[8] KHAN, Zorina; SOKOLOFF, Kenneth. Historical prspectives on patent systems in economic development. In: NETANEL, Neil Weinstock. The development agenda: global intellectual property and developing countries. Oxford University Press, 2009,p.228
[9] VOJÁCEK, Jan. A survey of the principal national patent systems. New York:Prentice Hall, 1936, p.56
[10] http://de.wikipedia.org/wiki/Rotunde_(Wien)

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