A expectativa do mercado em maiores aperfeiçoamentos, diante de
uma tecnologia inovadora, pode agir contra a empresa inovadora que de imediato
investe seus recursos na nova tecnologia. O mercado tende a aguardar novos
aperfeiçoamentos do que apostar de imediato em uma nova tecnologia, assumindo
um comportamento mais conservador.
Rosenberg ilustra este ponto com o exemplo da introdução dos primeiros
aviões a jato. A Grã Bretanha introduziu o Comet I dois anos antes dos norte-americanos iniciarem desenvolvimento de
um novo avião a jato comercial. Este atraso permitiu as norte-americanas Boeing e Douglas oferecer aviões que podiam transportar até 180
passageiros, enquanto o Comet I transportava apenas 100 e menor velocidade de
cruzeiro. Foram detectadas falhas estruturais no Comet, corrigidas pelos seus
concorrentes.[1] A empresa Havilland viu sua participação no mercado erodir rapidamente, apesar de
apostar sua vantagem competitiva no lead time. Caso a empresa tivesse se
protegido por patentes, a empresa teria sua participação nos aperfeiçoamentos
de suas inovações feitos pelos concorrentes[2]
Rosenberg é radical em sua conclusão: “os pioneiros inovadores
schumpeterianos frequentemente acabam no Tribunal de falências”. O mesmo
caso pode-se observar no início da televisão de alta definição HDTV. Nos anos 1970 a japonesa NHK iniciou transmissões experimentais
com o sistema analógico de HDTV chamado MUSE. Segundo Carl Shapiro é
fundamental a empresa ter um senso de oportunidade, pois agir muito cedo pode
representar um risco ao criar um vínculo com um padrão que com o desenvolvimento
da tecnologia pode ser mostrar rapidamente obsoleto.[3] Uma das questões polêmicas
na definição do padrão foi o parâmetro de relação de aspecto a ser adotado, a
relação entre o comprimento horizontal e vertical da tela. A indústria do
cinema e da computação alegou que a adoção de um padrão que incluísse relação
de aspecto compatível com as telas de cinema dificultaria a convergência entre
os setores de televisão e computação, que ficariam em desvantagem. O padrão
HDTV adotou a relação de aspecto de 16/9 como solução de compromisso[4]. Carl Shapiro mostra que as
emissoras nos Estados Unidos aderiram ao padrão HDTV em parte como forma de
conseguir junto ao Congresso maior espaço de canal na fatia de UHF que de outra
forma poderia ser reservada para outros fins que não para televisão. Uma
aliança entre Zenith, AT&T, General Instrument, MIT, Philips, Sarnoff
Reserach Labs, NBC e Thomson, que envolveu o licenciamento mútuo de patentes,
formando a chamada “Grande Aliança”[5] em 1993 pôs fim a guerra
de padrões em HDTV e viabilizou a adoção de um padrão comum pela FCC.[6] A primeira transmissão em
HDTV nos Estados Unidos ocorreu em 1996. Os europeus em 1986 formaram o projeto
Eureka 95, que desenvolveu o projeto analógico HD-MAC. Os norte americanos, que
entraram mais tarde neste desenvolvimento, apresentaram as primeiras propostas
de um sistema digital, superando as propostas japonesas e europeias MUSE e
HD-MAC.[7]
[1] PETROSKI, Henry.
Invention by design: how engineers get from thought to thing, Cambridge:
Harvard University Press, 1996, p. 120.
[2] ROSENBERG, Nathan. Por dentro da caixa preta: tecnologia e economia, São Paulo: Ed. Unicamp, 2006, p. 170 e 421.
[3] SHAPIRO,Carl; VARIAN, Hal R. A economia da informação. Rio de Janeiro:Campus, 1999, p.29
[4] http://en.wikipedia.org/wiki/High-definition_television
[5] http://en.wikipedia.org/wiki/Grand_Alliance_(HDTV)
[6] SHAPIRO,Carl; VARIAN,
Hal R. A economia da informação. Rio de Janeiro:Campus, 1999, p.257
[7] VARIAN,
Carl; SHAPIRO, Hal. A Economia da Informação. Rio de Janeiro: Campus, 1999,
p. 258.
[8] WTO, WORLD TRADE REPORT: Standards, ‘offshoring’ and air transport focus of 2005 WTR, p.39 http://www.wto.org/english/news_e/pres05_e/pr411_e.htm
[9] Blind, K., Grupp, H. and Jungmittag, A. (1999) ‘The Influence of
Innovation and Standardization on Macroeconomic Development: the case of
Germany’ in Jakobs, K. and Williams, R. (eds.) Proceedings of the First IEEE
Conference on Standardization and Innovation in Information Technology,
Piscataway, US: IEEE Service Center.cf. WTO, WORLD TRADE REPORT: Standards,
‘offshoring’ and air transport focus of 2005 WTR, p.41
http://www.wto.org/english/news_e/pres05_e/pr411_e.htm
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