segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Startups de Software no Brasil desconhecem patentes

Enquanto nos Estados Unidos patentes são apontadas como um importante instrumento para atração de capital de risco no Brasil esta forma de financiamento ainda é limitada. No Brasil, a formação de investimentos de capital de risco iniciou-se com suporte do BNDESPAR após a estabilização monetária, com forte expansão no período 1999-2001, com o boom da internet. O pico ocorreu em 2000, quando 13 organizações entraram no mercado[1], movimentando algo em torno de 1 bilhão de dólares, seguido de uma retração em função do estouro da “bolha da internet[2] . O BNDES conta com o Programa BNDES para o Desenvolvimento da Indústria Nacional de Software e Serviços de Tecnologia da Informação - BNDES Prosoft.[3] A Senior Solutions que atua no setor de finanças, por exemplo, possui entre os seus sócios o BNDES e o Fundo Stratus de capital de risco. Embora desenvolvido seguindo os moldes do mercado norte-americano notam-se diferenças marcantes como por exemplo, quanto à cultura empresarial, o pequeno desenvolvimento do mercado de ações e quase ausência de IPOs (Initial Public Offerings) considerados elementos fundamentais para um mercado de capitais de risco eficiente[4].

O VentureForum organizado pela FINEP em diversas edições foi responsável pelo financiamento de diversas empresas no setor de software como a AQX (instrumentos de digitalização de sinais elétricos), Delsoft (gestão integrada), Edusoft (gestão escolar), Massa (sistema de processamento de sinais por exemplo em ferrovias), Mediasoft (sistemas de realidade virtual), Pixeon (gerenciamento de imagens médicas), Totall.com (sistemas ERPs), Wiaxis (sistemas financeiros em PDAs)[5]. A 12ª edição do Seed Venture Forum foi realizada em maio de 2012 em Porto Alegre com a participação de empresas na área de TI como Aquiris (videogames), Cliever (impressoras 3D), Fluid Objects (aplicativos para tablets), Interage (computação em nuvem), Neteye (software de segurança), Superplayer (download de música digital), Smartcom (pagamento eletrônico), Trevisan Tecnologia (ERPs). Segundo Antonio Botelho no período de 200 a 2002 um total de 33 empresas de software receberam investimentos de capital de risco através da FINEP[6].

Com o objetivo de capitalizar empresas brasileiras inovadoras via fundos de Venture Capital, a Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital – (ABVCAP) realiza entre junho e agosto de 2012, em parceria com a Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (SOFTEX), uma série de eventos com a presença de especialistas da área. A iniciativa percorrerá as cidades de São Carlos (junho), Porto Alegre (julho), Florianópolis (julho), Belo Horizonte (agosto) e Fortaleza (agosto).[7] O JáComparou, empresa brasileira pioneira na comparação de serviços de Telecomunicações, anunciou que recebeu em maio de 2012 um investimento minoritário de dois investidores anjo da Gávea Angels do Rio de Janeiro, mais antigo (2002) e principal grupo de investidores anjo do país, e da empresa de participações Argotec, de São Paulo. [8]

A Revista Exame em 2012 fez um levantamento de startup promissoras no Brasil destacando na área de software o site Meu Carrinho de André Nazareth, as empresas Lemon de Bel Pesce, a Viajanet de Bob Rossato, o Portal Minha Vida de Daniel Wjuniski, Acesso Digital de Diego Martins, MundiPagg de Fabio Barbosa, Kekanto de Fernando Okumura, Fashino.me de Flávio Pripas, Ingresse de Gabriel Benarros, Sambatech de Gustavo Caetano, IDXP de Gustavo Lemos, Aorta de Gustavo Ziller, ToLife de Leonardo Lima Carvalho, PagPop de Marcio Campos, B2Blue de Mayura Okura, ClearSale de Pedro Chiamulera, 21212 de Rafael Duton, LikeStore de Ricardo Grandeneti, Moovia de Rodrigo Griesi, Cliever de Rodrigo Krug, EasyTaxi de Talles Gomes.[9] Muitas destas empresas conseguiram atrair capital de risco. Não foi identificado entre os casos de empresas brasileiras que recorreram a capitais de risco a utilização do sistema de patentes como instrumento para atração de investidores. Em novembro de 2012 o Ministério da Ciência , Tecnologia e Inovação lançou o Programa Startup Brasil, com o objetivo de apoiar nascentes de base tecnológica.[10]

O CESAR Centro de Estudos de Softwares Avançados do Recife sediado no porto digital de Recife desenvolve projetos, com incentivos da Lei de Informática, nas áreas de telefonia móvel celular, eletrônica embarcada, automação bancária e comercial e parceria com a Motorola para o desenvolvimento de videogames para celulares. O CESAR possui pedido de patente PI0700729 referente a certificação digital, que foi arquivado.[11] O professor Nivio Ziviani do Departamento de Ciência da Computação da UFMG participou ativamente da fundação de três startups nascidas na UFMG na área de buscadores da Internet. Fundada em 1998 a Miner Technology Group com seu buscador conhecido como MetaMiner após 14 meses de existência foi vendida ao Grupo Abril/Folha de S. Paulo/UOL em junho de 1999.[12] Em 2000 foi criada a Akwan viabilizada devido à atuação de investidores angels que realizaram aportes financeiros na empresa na forma de capital semente (seed money) com modelo de negócios baseado em tecnologias proprietárias para prover serviços de localização de informação na Internet. Em julho de 2005 a Akwan foi comprada pelo Google. [13] A Zunnit Technologies é uma empresa de tecnologia da informação, também com origem no Departamento de Ciência da Computação da UFMG e fundada em outubro de 2009, cujo foco é a pesquisa e o desenvolvimento de sistemas de recomendação para e-commerce e provedores de conteúdo. Um acordo possibilita a transferência do conhecimento gerado no Laboratório para Tratamento da Informação (Latin) do Departamento de Ciência da Computação, coordenado pelo professor Nivio Ziviani para a Zunnit, em contrapartida a uma remuneração com usufruto de 5% das ações da empresa devida à UFMG[14]. Nestas três experiências o professor Nivio Ziviani informa que apesar de usar modelos proprietários, não fez uso do sistema de patentes por entender que os ciclos de vida de tais tecnologias são muito curtos comparados com o tempo de tramitação de uma patente. [15]

A Nearbytes startup carioca criada em 2012 desenvolveu tecnologia que permite transmitir dados codificados em ondas sonoras, ideia que permitiria a interação até mesmo entre dispositivos móveis mais antigos e acessíveis . A empresa participa em maio de 2014 de encontro promovido pela U-Start, boutique advisory para investidores europeus. A tecnologia patenteada foi criada para preencher uma grande lacuna existente na interação entre dispositivos: a comunicação por proximidade. Comunicação por proximidade implica que dois dispositivos possam facilmente identificar que estão próximos e trocar informações entre si sem necessariamente estar online.[16]


[1] http://www.venturecapital.com.br/
[2] ANSELMO, Jefferson Leandro; GARCEZ, Marcos Paixão; SUSSMANN, Antonio Gustavo. O panorama brasileiro do capital de risco: características, evolução histórica e perspectivas. In: SANTOS, Silvio Aparecido; CUNHA, Neila Vianna. Criação de empresas de base tecnológica: conceitos, instrumentos e recursos. Maringá:Unicorpore, 2004, p.129
[3] http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Areas_de_Atuacao/Inovacao/Prosoft/index.html
[4] CHESNAIS, François; SAUVIAT, Catherine. O financiamento da inovação no regime global de acumulação dominado pelo capital financeiro. In; LASTRES, Helena; CASIOLATO, José; ARROIO, Ana. Conhecimento, sistemas de inovação e desenvolvimento, UFRJ:Rio de Janeiro, 2005, p. 204
[5] http://www.venturecapital.gov.br/vcn/historico_seed_01.asp
[6] BOTELHO, Antonio. The Brazilian Software Industry. In: ARORA, Ashish, GAMBARDELLA, Alfonso. From underdogs to tigers: the rise and growth of the software industry in Brazil, China, India, Ireland and Israel. Oxford University Press, 2005, p.111
[7] http://itweb.com.br/voce-informa/abvcap-e-softex-promovem-eventos-para-difundir-o-venture-capital-no-setor-de-ti/
[8] http://www.softex.br/_mercado/mercado.asp?id=4200
[9] http://exame.abril.com.br/pme/noticias/45-startups-brasileiras-de-futuro
[10] http://startups.ig.com.br/programa-start-up-brasil/
[11] http://www.cesar.org.br/site/files/uploads/2010/01/manual_howto_port_final210909.pdf
[12] ZIVIANI, Nivio. A Família Miner. https://www.ufmg.br/boletim/bol1270/pag2.html
[13] DEUTSCHER, José Arnaldo. A geração de riqueza a partir da universidade: o caso da Akwan. http://homepages.dcc.ufmg.br/~nivio/papers/inteligenciaempresarial.pdf
[14] https://www.ufmg.br/online/arquivos/021897.shtml
[15] XXXII Congresso da Sociedade Brasileira de Computação, Curitiba, 2012 Painel 1:Computação e Inovação: Ampliando Fronteiras para Solução de Desafios no Brasil, 16/07/2012 http://www.imago.ufpr.br/csbc2012/CSBC-programacao.pdf
[16] http://www.tecmundo.com.br/tecnologia/50168-nearbytes-a-tecnologia-brasileira-que-esta-fazendo-barulho-literalmente-.htm
http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/nova-tecnologia-permite-envio-de-dados-por-assobio 
http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=36006&sid=3#.UyuoyfldXd4
http://nearbytes.com/br/technology.php

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