domingo, 2 de fevereiro de 2014

Margarina holandesa e patentes

A indústria holandesas de fabricação de margarina se destacou no período sem patentes (1869-1912). O inventor francês Hippolyte Mège-Mouriez, inventou a margarina em 1870, por sugestão de Napoleão III[1], patenteada na França, Inglaterra e Prússia, apresentando sua patente a investidores holandeses[2]. Hippolyte Mège-Mouriés observou que o leite de vacas com peso a menos e subalimentadas não se transformava em manteiga quando batido. Concluiu assim que a gordura do leite que resulta em manteiga era proveniente do sebo, a gordura que se encontra nos membros, úberes e rins das vacas. Hippolyte derreteu sebo de vaca a uma temperatura de 45 °C e extraiu uma gordura que misturou com leite desnatado, estômago de porco, úbere de vaca e bicarbonato de sódio. A mistura foi depois comprimida resultando numa substância a que foi dado o nome de margarina, inicialmente vendida a granel em barris ou misturada com manteiga [4]
Em 1871, Mège-Mouriés vendeu a sua invenção à firma holandesa de Anton Jurgens, um dos pilares da atual Unilever, e que operava no mercado de manteiga exportando o produto principalmente para Inglaterra. O grupo holandês, por sua vez, fez aperfeiçoamentos protegidos por segredo industrial e estabeleceram um próspero negócio que no século XX transformou-se no conglomerado multinacional Unilever [3]. A primeira fábrica de margarina de Jungers na Holanda foi estabelecida em 1871, apenas dois anos após o fim da lei de patentes. Um ano depois a concorrente holandesa van der Bergh também instalou sua fábrica. A partir de 1890 a margarina passou a ser vendida nos Estados Unidos em pacotes. A margarina representava uma ameaça à manteiga tão séria que na Grã Bretanha o nome original butterine, que remetia à manteiga (butter) foi proibido em 1885.[4] 
Eric Schiff afirma que o determinante para a indústria de margarina ter se instalado na Holanda não foi o fato de não haver um sistema de patentes, mas o fato de se Jurgens e van der Bergh serem comerciantes a muito tempo estabelecidos no comércio de manteiga com a Inglaterra e a localização favorável para o suprimento do mercado inglês. Por outro lado o fato não ter a proteção por patentes, ainda assim foi avaliado pela empresas como uma oportunidade de negócio vantajosa já que poderiam contar com segredo industrial para proteger suas inovações[5] Além das duas firmas pioneiras, dezenas de outras firmas iniciaram a produção de margarina na Holanda, o que mostra um vigor industrial do setor na ausência de patentes, porém o domínio de mercado manteve-se em torno da Jurgens e van der Bergh, entre outros motivos porque as melhorias incrementais de processo alcançadas por estas empresas eram mantidas em segredo comercial.
Eric Schiff observa que o exemplo mostra um setor industrial que se desenvolveu a partir de invenção de um estrangeiro, o que confirma a tese de que em um ambiente sem patentes a inventiva nacional exerce menor influência sobre a industrialização do país.




[1] LEWINSOHN, Richard. Trustes e cartéis: suas origens e influências na economia mundial. Rio de Janeiro:Liv. Globo, 1945. p.100
[2] http: //pt.wikipedia.org/wiki/Margarina. CHALLONER, Jack. 1001 invenções que mudaram o mundo. Rio de Janeiro:Ed. Sextante, 2010, p. 384
[3] DUARTE, Marcelo. O livro das invenções. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 168.
[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Hippolyte_M%C3%A8ge-Mouri%C3%A9s
[5] TREVOR, Williams. História das invenções: do machado de pedra às tecnologias da informação. Belo Horizonte: Gutenberg, 2009, p.177
[6] SCHIFF, Eric. Industrialization without national patents, Princeton University Press, 1971, p.55

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