domingo, 2 de fevereiro de 2014

Holanda e o retorno a lei de patentes

Aproveitando-se da ausência de legislação patentária a Philips que iniciara suas atividades em 1891 como produtora de lâmpadas de filamento de carbono[1] com a inauguração de uma pequena fabrica em Eindhoven por Gérard Philips, utilizou-se livremente de tecnologias de Thomas Edison, patenteadas nos Estados Unidos[2]. Em 1900 já era a terceira maior produtora de lâmpadas na Europa, superada apenas pela AEG e Siemens&Halske [3]. Enquanto isso Emil Rathenau fundador da AEG fez um acordo de licenciamento com as empresas de Edison  em Deutsche Edison Gesellschaft para fabricação de lâmpadas na Alemanha envolveu-se em dispendiosos e prolongados litígios contra os concorrentes em especial com a Siemens & Halske. Um dos desenvolvimentos de Gerard Philips seria feito em 1911 já sob a expectativa de reintrodução do sistema de patentes. Como a nova lei de patentes deveria entrar em vigor em 1912 a Philips intensificou suas pesquisas de forma independente para evitar que a empresa de Edison conseguisse validar suas patentes, já sob a nova lei, referentes a filamentos metálicos. O evento mostra o sistema de patentes como forma de incentivar a pesquisa de concorrentes para contornar tecnologias já patenteadas. Segundo o historiador da Philips J. Bouman a empresa inaugurou seu centro de pesquisas em 1914 logo após a promulgação da lei de patentes em parte diante do cenário internacional em que as principais empresas do setor tinham suas tecnologias patenteadas.[4]
Eric Schiff observa que tanto o exemplo de lâmpadas elétricas como o do margarina mostram setores industriais que se desenvolveram a partir de invenções de estrangeiros, o que confirma a tese de que em um ambiente sem patentes a inventiva nacional exerce menor influência sobre a industrialização do país. Um inquérito realizado em 1882 pela Associação para Promoção da Indústria (Naatschappij ter Bevordering van Nijverheid) foi inconclusivo quanto a necessidade de reintrodução de um sistema de patentes para promoção da indústria. Nos debates legislativos para reintrodução do sistema de patentes um membro da Primeira Câmara em 1910 destaca que o caráter nacional não era compatível com a perspectiva de se copiar tecnologias estrangeiras (vrijnamaakerij – livre falsificação) sem um desenvolvimento próprio. Durante a reunião da Convenção de Paris de 1890 em Madri o delegado holandês assumiu o compromisso do governo em  instaurar uma lei de patentes tão logo quanto possível, e segundo Eric Schiff o desconforto da Holanda no cenário internacional e as ameaças de serem excluídos da Convenção exerceu pressão para reintrodução do sistema de patentes no país. O fato de todos os demais países pagarem regularmente royalties pelo uso de tecnologias patenteadas criava um cenário em que que Holanda ao suprimir este custo era vista como praticante de uma concorrência desleal, uma vez que os holandeses tinham suas patentes reconhecidas no exterior e esta situação embaraçosa foi exposta pelo Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio holandês em audiência na Câmara em 1910 [5]
Gerard Philips (http://en.wikipedia.org/wiki/Gerard_Philips)




[1] http: //pt.wikipedia.org/wiki/Philips.
[2] CHANG, Ha Joon. O mito do livre-comércio e o maus samaritanos: a história secreta do capitalismo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p. 129.
[3] CHANDLER, Alfred. O século eletrônico: a história da evolução da indústria eletrônica e de informática. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 108.
[4] SCHIFF, Eric. Industrialization without national patents, Princeton University Press, 1971, p.56
[5] SCHIFF, Eric. Industrialization without national patents, Princeton University Press, 1971, p.72

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