Segundo Juliano Maranhão: “Stallman
chama a atenção para o caráter cumulativo das criações nesse ramo de atividade:
um mesmo software pode conter centenas de programas diversos e as criações não
são iniciativas isoladas, mas sequências de derivações ou variações sobre um
mesmo tipo de aplicação técnica”.[1]
A característica de ser incremental o escopo de cada patente é um
fenômeno presente em diversas outras tecnologias, que ao contrário continuam
mantendo ritmo forte de inovação. Um comercial da Mercedes Benz aponta a
presença de 80 mil patentes no modelo E-Class lançado em 2012. [2] Um simples barbeador como
o Mach 3 lançado pela Gillette possui 63 patentes. [3] Alguns
críticos quando do aumento dos depósitos de patentes no setor software iniciou sua ascenção no início
dos anos 1990, anunciaram que as empresas norte americanas de software em breve perderiam seu impulso
inovador, e que estaríamos diante de um desastre nas mesmas proporções do que
ocorreu com a petroquímica Union Carbide
em Bhopal na Índia, em 1984, conforme declarações de Mitch Kapor da Electronic
Frontier Foundation[4]. Passados
mais de 20 anos e com o número cada vez maior de depósitos de patentes no
setor, tais profecias apocalípticas de perda de dinamismo e falta de inovação
não se confirmaram[5].
Robert
Merges argumenta que o que se observou após o incremento do depósitos de
patentes relacionadas a software após os anos 1990 foi que isto não inibiu a
entrada de novas empresas no setor. As firmas já estabelecidas ao invés de
acumularem patentes fracas, tem se concentrado em aumentar a qualidade de seu portfolio de patentes. A indústria de
software ainda se encontra altamente diversificada com índice de concentração
menor do que outros segmentos da indústria. Além de não haver sinais de aumento
de contração a rotatividade ainda é bastante elevada: das dez maiores líderes
do setor em 1990, apenas cinco se mantinham no setor em 2000. Enquanto em 1990
foram registradas 358 novas start ups em software este número manteve-se
crescente até 1996 com 497 start ups, ou seja, não há sinais de que a entrada
de novas empresas esteja sendo inibida pela existência de patentes. Mesmo após
a ocorrência da bolha em 2000 no setor o ritmo manteve-se estável nos anos
seguintes até 2005. Os investimentos em P&D que em 1986 era estimado em 1%
dos gastos totais domésticos em P&D, chegavam a índice de 10% em 2000.
Robert Merges destaca como medida indireta da associação entre patentes e
inovação o fato de que as indústria de software israelenses detém muito mais
patentes no USPTO que as empresas irlandesas e indianas, reconhecidamente menos
inovadoras no período. [6]
Dados da OECD de 2013 mostram que entre 1999-2001 e 2009-2011 o percentual de
patentes relacionados a tecnologia da informação entre os pedidos PCT com
origem na Índia aumentou de cerca de 20% para aproximadameente 28%, a China
aumentou de 20% para 45%, o Brasil manteve o índice em torno de 15%, Israel
diminui de 52% para cerca de 40%. Os resultados mostram a importância da
tecnologia da informação no portfólio de patentes de empresas indianas,
chinesas e israelenses. [7]
Dan Breznitz aponta que não somente a quantidade de patentes de empresas israelenses
é superior a outros países emergentes como Índia, Irlanda, Brasil e China como
a qualidade e o vínculo com a pesquisa científica em centros de pesquisa e
universidades é mais evidente.[8]
Dados mostram que o total de patentes concedidas a inventores nacionais em
Israel é mais do que três vezes superior o número de patentes de inventores
nacionais na Índia e Irlanda juntos. Em Israel enquanto o número de patentes
por empresa israelense no período 1990-2003 é de 17.18 este valor para empresas
estrangeiras instaladas em Israel é de 12.21 o que mostra uma política
inovadora das empresas nacionais (Tabela 1).[9]
Tabela
1 – Valor Médio de Patentes de Empresas de TI em diferentes países exportadores
de software
|
Empresas
Domésticas
|
Empresas
Multinacionais
|
||
|
Antes de 1990
|
Depois de 1990
|
Antes de 1990
|
Depois de 1990
|
Índia
|
1.07
|
2.11
|
2.13
|
3.11
|
Irlanda
|
1.24
|
1.33
|
1.68
|
1.99
|
Israel
|
6.64
|
17.18
|
11.81
|
12.21
|
Fonte:
ARORA, GAMBARDELLA, 2010, p.216
[1] MARANHÃO, Juliano. Programa de computador implementado por programa de computador: a inventividade dos juristas e a liberdade dos programadores, Revista Eletrônica do IBPI, 2013, Revel, n. 7, http://www.ibpibrasil.org/ojs/index.php/Revel/article/view/50/48
[2] http://www.youtube.com/watch?v=bx1LHioz6Zc
[3] http://www.slideshare.net/leo/mach3
[4] Owning the future, Seth Shulman, Houghton Mifflin Company, Boston, 1999, p.70
[5] The use of Intellectual Property in software: implications for Open Innovation. Stuart Graham, David Mowery, 2006. http://www.openinnovation.net/Book/NewParadigm/Chapters/09.pdf; MERGES, Robet. Patents, entry and growth in the software industry, 2006, working paper.; BESSEN, James; MEURER, Michael. Patent Failure: How Judges, Bureaucrats, and Lawyers Put Innovators at Risk. Princeton University Press, 2008, p. 2109/3766 (kindle version)
[6] MERGES, Robert. Patents. Entry and Growth in the Software Industry, 2006, http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=926204
[7] OECD Science, Technology and Industry Scoreboard 2013, innovation for growth, OECD, 2013, p.163 http://www.oecd-ilibrary.org/science-and-technology/oecd-science-technology-and-industry-scoreboard-2013_sti_scoreboard-2013-en
[8] BREZNITZ, Dan. The Israeli Software Industry. In: ARORA, Ashish, GAMBARDELLA, Alfonso. From underdogs to tigers: the rise and growth of the software industry in Brazil, China, India, Ireland and Israel. Oxford University Press, 2005, p.73
[9] ARORA, Ashish, GAMBARDELLA, Alfonso. From underdogs to tigers: the rise and growth of the software industry in Brazil, China, India, Ireland and Israel. Oxford University Press, 2005, p.216
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