Em dezembro de 2003 o pesquisador
coreano da Universidade de Seul, Woo Suk Hwang, junto com outros 19 outros
pesquisadores depositou o pedido WO2005063972 sobre transferência de núcleo de
célula tronco humana. Posteriormente a Universidade veio a público se desculpar
pelo fato de que as pesquisas foram fraudadas e a experiência de fato não obtivera
êxito. Mesmo com o reconhecimento da fraude pela Universidade o USPTO concedeu
a patente US8647872[1]
em fevereiro de 2014. O depósito equivalente no Brasil é o pedido PI0418310 ainda não examinado[2].
Em 1989 dois pesquisadores norte
americanos da Universidade de Utah, Martin Fleishmann e Stanley Pons anunciaram
em uma entrevista coletiva que haviam tido êxito em um experimento de fusão a
frio. A Universidade de Utah
depositou patentes da nova tecnologia e anunciou sua invenção antes de qualquer
publicação científica para garantir sua prioridade[3]. A
tentativa frustrada de outros pesquisadores em reproduzir o experimento
demonstrou claramente que a patente não havia suficiência descritiva e de que
erros em medições teriam feito os cientistas a supor que haviam realizado a
fusão a frio quando na verdade não o fizeram. Estas patentes são nulas por
insuficiência descritiva.
Em 2005 o médico grego John
Ioannidis publicou um polêmico artigo intitulado “Why most published reserach findings are false”[4] em que
mostra a maior parte das hipóteses médicas testadas em laboratório e publicadas
em periódicos com corpo revisor, poderia falhar quando aplicada no mundo real.
Um estudo de 2011 realizado pela Bayer confirmou a tese de Ioannidis ao não
conseguir reproduzir cerca de dois terços dos experimentos descritos em
periódicos médicos.[5]
Um estudo analisou 260 pesquisas científicas que haviam sido publicadas entre
os anos de 1935 e 1995 na revista Surgery, Gynecology and Obstetrics e revelou
que apenas metade dos fatos descritos continuava sendo verdade 45 anos depois. Outro
estudo observou 474 conclusões sobre doenças do fígado entre os anos de 1945 e
1999 publicadas nas revistas Lancet e Gastroenterology. Novamente apenas metade
dos fatos continuavam sendo verdade após 45 anos.[6]
O
químico John Dalton utilizou-se de valores medidos de água, oxigênio e azoto
que casaram-se com seus valores teóricos das proporções dos elementos para
formação das moléculas. Jean Pierre Lentin
argumenta que esta concordância experimental, não reproduzida pelos
cientistas da época, deveu-se a seleção de resultados. Da mesma forma George
Mendel em sua célebre experiência com ervilhas para provar sua teoria genética,
conseguiu dados considerados “perfeitos demais” selecionando seus melhores
resultados ou enumerando incorretamente suas ervilhas redondas ou enrugadas
para chegar ao resultado que esperava. Robert Millikan em sua experiência da
medição da carga do elétron francamente rejeitava muitas de suas medições tidas
como “artefatos”. Gerald Horton mostra que nos cadernos de Millikan ao refazer
suas experiências em 1913 seleciona 58 experiências de um total de 140. Muito
embora a ciência dotada de melhores instrumentos possa ter confirmar estas
teorias, o fato é que, a seleção de dados coerentes, ainda que de forma
inconsciente, coloca em risco a confiabilidade do experimento realizado, sendo
a confirmação da teoria em grande parte dependente mais de uma convicção do
cientista do que uma comprovação experimental, a qual se observa apenas
posteriormente aos experimentos iniciais. Esta debilidade pode estar presente
em muitos documentos de patente que algumas vezes dependem de comprovações
experimentais baseadas em seleção de dados das quais o examinador de patentes
dificilmente poderá questionar.[7]
Experimento original da gota de óleo em que Millikan
mediu com precisão a carga de um elétron[8]
[1] LEVY, Matt, USPTO issues patent to fraud. 19/02/2014 http://www.patentprogress.org/2014/02/19/uspto-issues-patent-fraud/ POLLACK, Andrew. Disgraced Scientist Granted U.S. Patent for Work Found to be Fraudulent, 14/02/2014 http://www.nytimes.com/2014/02/15/science/disgraced-scientist-granted-us-patent-for-work-found-to-be-fraudulent.html?_r=0
[2] http://www.newscientist.com/article.ns?id=dn8601&feedId=online-news_rss20
[3] O golem: o que você deveria saber sobre ciência, Harry Collins, Trevor Pinch, Ed. Unesp, 2000, p. 90
[4] PLOS Medicine, n.2, agosto de 2005 http://www.plosmedicine.org/article/info:doi/10.1371/journal.pmed.0020124
[5] OWENS, Brian. Reliability of new drg target claims callled into question, Nature, Newsblog, 5 de setembro de 2011http: http://blogs.nature.com/news/2011/09/reliability_of_new_drug_target.html cf. SILVER, Nate. O ruído e o sinal: por que tantas previsões falham e outras não, Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013
[6] BLAU,J. Half life of truth in medicine, The Lancet, v.351, p.376, 31/01/1998; HALL,John; PLATELL, Cameron. Half life of truth in surgical literature, The Lancet,v.350,p.1752, 13/12/1997 cf. KRUSZELNICKI, Karl. Grandes mitos da ciência, São Paulo:Fundamento, 2013, p.198
[7] LENTIN, Jean Pierre. Penso, logo me engaano. São Paulo:Ática, 1996, p. 148
[8] http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Andrews_Millikan
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