quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Disclaimers revelados e não revelados


Philip Grubb destaca que por muito tempo a Câmara de Recursos permitiu disclaimers para contornar uma objeção de novidade ainda que não houvesse fundamento para tal disclaimer no relatório descritivo original. No entanto para se contornar uma objeção de atividade inventiva o disclaimer somente seria aceito se fundamentado no depósito original. Mesmo nos casos onde a novidade era aceita com a inserção de um disclaimer isso não necessariamente significava que a reivindicação necessariamente teria atividade inventiva.[1] Reinhard Spangenberg observa que o uso de disclaimers tem sido aceito na EPO para contornar antecipações consideradas acidentais como em T608/96 OJ 2000.[2] Muitas decisões da Câmara de Recursos concentram a permissão do disclaimer na questão de se saber se o documento apresentado contra novidade pode ser considerado como acidental ou não, ou seja, se configurado que o técnico no assunto nunca seria levado a levar este documento em consideração.[3] Em T2130/11 OJ 2015 a Câmara de Recursos conclui que um disclaimer extenso que lista cinco exemplos citados no documento de anterioridade foi considerado como não atendendo ao Artigo 84 da EPC de se ter uma reivindicação clara e precisa. Para a Câmara de Recursos a dificuldade de se redigir um disclaimer não pode justificar uma exceção à Regra 84 da EPC. [4]

Quanto aos disclaimers que encontram amparo no relatório descritivo original (disclosed disclaimers) ainda haviam conclusões divergentes da Câmara de Recursos. Algumas decisões (T1107/06 OJ 2008 e T1139/00 OJ 2005) aceitavam tal disclaimer que funcionaria como uma renúncia (waiver) de direitos e não haveria violação do artigo 123(2). Outras decisões, no entanto, aplicavam as decisões G1/03 e G/03 OJ 2004 (que não se limitaria aos undisclosed disclaimers), pois a matéria excluída, uma vez que não consta do pedido original não deva ser aceita (T1050/99 OJ 2005, T1102/00 OJ 2004, T1559/05 OJ 2007, T795/05 OJ 2007). Um novo questionamento ao Enlarged Board of Appeal foi proposto para a seguinte pergunta: Um disclaimer infringe o artigo 123(2) da EPC se sua matéria é revelada no pedido tal como depositado? G2/10 OJ 2011 responde que haverá infração se a matéria restante na reivindicação após a introdução do disclaimer não puder ser, seja explicitamente ou implicitamente, diretamente e de forma não ambígua ser revelada ao técnico no assunto usando o conhecimento geral comum a partir do pedido depositado. O disclaimer nestes casos ocorre como forma de se contornar a falta de novidade diante de documento encontrado nas buscas pela EPO. Para a Câmara de Recursos o critério a ser usado não é o de saber se a parte excluída está prevista ou não no depósito original (critério que vinha sendo adotado), mas se a parte restante da reivindicação modificada após a inserção do disclaimer encontra suporte no pedido original.[5] O uso de disclaimer para contornar uma objeção de falta de novidade[6] é, portanto, aceito desde que a reivindicação restante não possa ser definida de forma mais clara e concisa através de características positivas ou se tal definição positiva limita indevidamente o escopo da reivindicação.[7] Em T437/14 OJ 2016 a Camara de Recursos destaca que se você morde uma maçã o que resta da maçã já não é a maçã original. Muito embora ainda seja uma maçã não se pode considerar que o que resta da maçã seja algo revelvado de forma direta e não ambígua da maçã original[8]. T437/14 OJ 2016 faz novo questionamento ao Enlarged Boards of Appeal se em relação a G2/10 a permissão de disclaimers revelados (disclosed disclaimers) como não violando o artigo 123(2) da EPC isto é se o técnico no assunto usando do conhecimento geral comum em relação à matéria restante após a introdução do disclaimer consegue explicita ou implicitamente, mas direta ou de forma não ambígua identificar tal matéria no pedido tal como depositado, a Câmara de Recursos pergunta se esta conclusão também se aplica aos disclaimers não revelados.[9]



[1] GRUBB, op.cit., p.219
[2] STAUDER, Dieter; SINGER, Margareth; European Patent Convention: a commentary.  Thomson:Cologne, 2003, p. 117
[3] Case Law of the Boards of Appeal of the European Patent Office Sixth Edition July 2010, p. 333
[4] http://europeanpatentcaselaw.blogspot.com.br/2015/03/t213011-un-disclaimer-ni-clair-ni-concis.html
[5] An amendment to a claim by the introduction of a disclaimer disclaiming from it subject-matter disclosed in the application as filed infringes Article 123(2) EPC if the subject-matter remaining in the claim after the introduction of the disclaimer is not, be it explicitly or implicitly, directly and unambiguously disclosed to the skilled person using common general knowledge, in the application as filed. (G 00002/10)
[6] Case Law of the Boards of Appeal of the European Patent Office Sixth Edition July 2010, p. 262
[7] As was said in decision T 1107/06, point 45. of the Reasons, the decisive question to ask under Article 123(2) EPC is not whether the skilled person could infer from the original disclosure that the applicant intended to exclude the disclaimed subject matter from the scope of protection. Rather it has to be ascertained whether there is a clear and unambiguous disclosure, be it explicit or implicit, of the subjectmatter remaining in the claim. (G 2/10)
[8] http://europeanpatentcaselaw.blogspot.com.br/2016/10/disclaimers-la-grande-chambre-nouveau.html
[9] http://dp-patentlaw.blogspot.com.br/2016/10/t-43714-new-questions-on-disclaimers.html

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