segunda-feira, 19 de maio de 2014

Patentes e o mercado de IPOs

Em artigo de 2005 a revista The Economist lista diversos fatores que contribuem para a formação cada vez maior de um mercado de ideias na forma de licenciamento de patentes: 1) as tecnologias estão se tornando cada vez mais complexas de modo que uma única empresa é incapaz de deter o controle de todo um processo tecnológico forçando-a a licenciar tecnologias de outras empresas, 2) uma vez que o ciclo de vida das tecnologias é cada vez menor intensifica-se a necessidade de inovações para se as empresas se manterem competitivas de modo que para recuperar de forma rápida os custos de P&D faz-se necessário licenciar suas próprias tecnologias, 3) as empresas buscam interoperabilidade e portanto aumentam a pressão pelo licenciamento cruzado de patentes (patent pools) para formação de padrões, como por exemplo nas tecnologias de MPEG e DVD, 4) a geração de inovações por ser menos intensiva em capital atrai a atenção de start ups, e por sua vez de patentes como forma de atrair investidores de capital de risco. Ashish Arora e Alfonso Gambardella destacam em seu livro “Markets for Technology, the Economics of Innovation and Corporate Strategy” que as patentes proporcionam uma espécie de liquidez ao conhecimento até então inexistente permitindo a ativação de um comércio de tecnologia: “assim como o sistema bancário criou um mercado de capitais e o setor de seguros criou um mercado para o risco, o crescimento do sistema de patentes pode estar criando um mercado para a inovação”.[1]
Segundo Ashish Arora [2]: “Nosso argumento confere uma nova perspectiva ao papel das patentes. Seu papel tradicional tem sido pensado como aquele de proporcionar incentivos ex ante para inovação. Mas isto viria  com o custo de restringir a difusão da tecnologia. Assim uma maior proteção da propriedade intelectual pode ser vista como socialmente indesejável ex post. Contudo, nossa análise sugere que maiores direitos de propriedade intelectual podem melhorar a eficiência das transferências de tecnologia e assim encorajar a difusão de tecnologia incluindo aquelas partes da tecnologia (conhecimento tácito) que as patentes não protegem”.
Diego Useche[3] encontra uma correlação robusta entre a quantidade de pedidos de patentes de empresas e seu desempenho na IPO. Cada pedido de patente adicional antes do lançamento da IPO aumenta em 0,507% o capital captado na IPO se tomarmos em consideração os Estados Unidos  e 1,13% para a Europa. Os resultados sugerem que um ambiente menos “amigável” para o depositante, como é o cenário europeu com uma política de concessão de patentes mais rigorosa do que nos Estados Unidos e onde não existe benefícios para os titulares como o período de graça e a possibilidade de emendas nos pedidos através de continuations in part. Esta política mais rigorosa aumenta a credibilidade das patentes como sinais para o mercado e assim maior seu valor é percebido pelos investidores na IPO. A literatura tem apontado diversos fatores que influenciam o capital captado nas IPOs como o papel do capital de risco, alianças estratégicas das empresas, experiência tecnológica, status da empresa com a presença de laureados no Prêmio Nobel, o nível de internacionalização da empresa entre outros sinais que contribuem para aumentar a confiança dos investidores. As patentes na área de software, submetidas a diversas críticas, tem levantado dúvida sobre qual seu efeito nas IPOs, especialmente quase se leva em conta o curto ciclo de vida de tais tecnologias.
Diego Useche em seu estudo analisa os dados de 476 empresas de software sendo 234 dos Estados Unidos e 242 da Europa, que lançaram IPOs entre 2000 e 2009 em bolsas como Nasdaq (US), AIM (UK), Euronet (FR), LSEx-OFEX (UK), NYSE (US) e Frankffurt (DE), levando em conta as patentes depositadas pelo menos quatro anos antes do lançamento da IPO. Os resultados mostram que empresas inovadoras com mais depósitos de patentes conseguem significativamente mais capital nas IPOs. Os dados mostram que 66% das empresas de software dos Estados Unidos e 23% das europeias depositaram ao menos uma patente no período considerado. O maior número de patentes das empresas norte americanas sugere que o comportamento da política de patentes é maior para estas empresas, no entanto o impacto econômico maior é proporcionado entre as empresas europeias. Não há, contudo, uma correlação deste dado com um menor índice de qualidade de patentes seja medido em termos de citações recebidas pela patente ou por um maior número de pedidos na família. Os resultados mostram que os investidores não são influenciados com fatores como qualidade das patentes e nem como aferir este parâmetro de forma objetiva. As médias das IPOs nos Estados Unidos foi de 158 milhões de euros e de 69 milhões de euros na Europa, o que sugere que cada nova patente representa um acréscimo de 800 mil euros e 774 mil euros respectivamente. As empresas europeias, portanto, conseguem quase o dobro dos resultados que as empresas norte americanas com o uso de suas patentes.




[1] The Economist. A market for ideas, 20/10/2005 http://www.economist.com/node/5014990
[2] ARORA, Ashish; FOSFURI, Andrea; GAMBARDELLA, Alfonso. Markets for Technology: the economics of innovation and corporate strategy, London : MIT Press, 2001, p.117
[3] USECHE, Diego. Are patents signals for the IPO market ? An EU-US comparison for the software industry, Research Policy, maio 2014

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