quarta-feira, 11 de abril de 2018

Patentes e Santos Dumont


Santos Dumont manifestou por diversas vezes que não tinha intenções de pedir patentes de suas invenções. Thomas Edison em encontro com Santos Dumont nos Estados Unidos em 1902 justificou seu desinteresse por invenções em aeronáutica: “Não farei nenhum empreendimento que não possa ser protegido dos piratas que vivem do trabalho dos inventores, e não acredito que se possa patentear uma máquina voadora nem um aeroplano, ou qualquer um de seus componentes. Caso alguém consiga construir uma máquina voadora bem-sucedida comercialmente, dúzias de pessoas iriam de imediato copiá-lo e tirar proveito do trabalho original do inventor. Nenhum juiz neste país reconheceria este aparelho como uma verdadeira invenção, porque já foi tanto feito e escrito sobre o assunto que a única diferença entre uma máquina bem-sucedida e os inúmeros fracassos ocorridos será muito tênue. Duvido que se descubra um novo princípio ao qual possa ser feita uma reivindicação de patente”. Em resposta Santos Dumont não contestou os argumentos de Edison: “Infelizmente o que ele diz sobre o reconhecimento do trabalho do inventor é verdadeiro, porém jamais me importei com isso”[1].
Mesmo não protegendo suas invenções por patentes Santos Dumont tomou precauções para não perder o reconhecimento de suas invenções, concorrendo a diversos prêmios públicos onde a autoria de suas invenções pudesse ser publicamente reconhecida e reportada pela imprensa local de Paris. Ao iniciar suas pesquisas com aparelhos mais pesados que o ar, uma área onde a competição era muito grande, teve o cuidado de manter suas pesquisas em segredo até o momento de suas apresentações em público. Segundo Paul Hofman este segredo é facilmente explicado: “Não tinha interesse em patentear sua nova máquina ou tirar proveito dela de outra maneira, mas como era um novato nos vôos dos mais pesados que o ar, a única maneira de sobrepor-se àqueles que tinham trabalhado anos para solucionar o problema era pegá-los de surpresa. Quando realizou seu trabalho pioneiro com os balões a motor, ele estava muito mais evoluído que os demais aeronautas, e a chance de alguém circunavegar a torre Eiffel antes dele era mínima; assim ele podia revelar seus projetos. Mas agora, com a competição crescente, sabia que era improvável que fosse o primeiro a voar num aparelho mais pesado que o ar e, se não fosse bem-sucedido, não gostaria que soubessem que não tivera êxito em sua tentativa”[2].
O não reconhecimento de patentes impediu que Santos Dumont auferisse rendimentos de suas invenções. O Demoiselle foi vendido por toda a Europa, sob sua autorização, pelo fabricante de automóveis Clement Bayard [3]. O motor também foi produzido por outros dois fabricantes de automóveis a Dutheil & Chalmers e a Darracq. Os dirigentes da Darracq pensaram logo em patentear o referido motor, visando a futuros lucros comerciais, porém Santos Dumont, processou a empresa pois sua proposta era o de permitir a máxima difusão do projeto popularizando o uso do avião tal qual Henry Ford fizera com o automóvel ao produzir o modelo T a baixo custo, muito embora Henry Ford tenha recebido diversas patentes como a US747909 de 1903. Em 1916 foram vendidos 730 mil automóveis modelo T ao custo de $360  unidade, ao passo que em 1924 a produção chegou a 2 mihções de auom[oveis ao custo de $290 a unidade[4]. Ao final do litígio Santos Dumont conseguiu impedir a concessão de patente para o motor Darracq utilizado no Demoiselle [5]. Uma companhia de Chicago vendeu o modelo nos Estados Unidos. O projeto do aparelho foi divulgado na Revista Popular Mechanics de junho e julho de 1911, e com isso o aeroplano foi reproduzido em diversos locais. A revista “A Ilustração” de 12 de fevereiro de 1910, mostrava um anúncio de fabricantes de aviões. “Um ‘Blériot nº 11’ custava 12.000 francos; um ‘Antoinette’, 25.000 francos; um biplano ‘Voisin’, sem motor, 12.000 francos; um ‘Farman’, 13.000 francos. Os motores tinham mais ou menos preço idêntico. O ‘Demoiselle” era o mais barato. Um, sem motor, 2.000 francos; com motor de 30 cavalos, 9.000 francos; com motor leve, 5.000 francos” [6].


[1] HOFFMAN, Paul. Asas da Loucura: a extraordinária vida de Santos Dumont, Rio de Janeiro: Objetiva, 2010, p. 208
[2] HOFFMAN.op. cit. p. 277
[3] HOFFMAN.op. cit. p. 299
[4] McCLELLAN III, James; DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The Johns Hopkins University Press, 1999, p.338
[5] COSTA, Fernando Hippólito da. Alberto Santos Dumont: o pai da aviação. Rio de Janeiro: Adler, Brasília: Banco do Brasil, 2006, p. 62
[6] MAIER, Félix. Santos Dumont: 100 Anos Do 14-bis set. 2007 http: //www.webartigos.com/articles/663/4/Santos-Dumont-100-Anos-Do-14-bis/pagina4.html.


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