terça-feira, 18 de novembro de 2014

Produto da natureza: o caso Myriad

A patente EP699754 referente a um método de diagnóstico de predisposição a cancer de ovário e de seios e a patente EP705902, relativa ao gene BRCA1 causador da doença, ambas da empresa de biotecnologia norte-americana Myriad Genetics, uma spin-off da Universidade de Utah, foram confirmadas pelo Board of Appeal da EPO em novembro de 2008[1]. Os registros genealógicos da Igreja Mórmon ajudaram a Myriad a identificar os genes BRCA como associados a uma maior incidência de câncer no seio. [2]As patentes (US5747282; US5837492; US5693473; US5709999; US5710001; US5753441; US6033857) desencadearam uma onda de protestos que levou a França e Alemanha a aprovarem legislações que restringem o escopo da patente de genes. A França adicionalmente incluiu dispositivo que prevê o licenciamento compulsório das patentes com propósito de procedimentos de diagnóstico[3]. Nos Estados Unidos o Federal Circuit em decisão de 2011 considerou no caso Myriad o DNA isolado como atendendo ao 35 USC § 101 uma vez que o DNA isolado possui estrutura química marcadamente distinta dos DNA nativos e portanto não pode ser entendido como produto da natureza.[4] A questão foi submetida a Suprema Corte que redistribuiu o caso para o Federal Circuit reavaliar sua decisão tem em vista a decisão da Suprema Corte em Mayo v. Prometheus que manteve em agosto de 2012 o entendimento de tratar-se de matéria patenteável. O Federal Circuit por sua vez manteve sua decisão anterior. Durante a vigência das patentes a Myriad Genetics adotou uma política restritiva de licenciamento que na prática permitia apenas a empresa executar a análise do seqüenciamento completo em seus laboratórios nos Estados Unidos. Por esta razão questões de saúde pública foram levantadas pelo fato dos consumidores disporem de apenas uma fonte para testes de diagnóstico.[5]
O caso foi julgado pela Suprema Corte[6] que em junho de 2013 chegou ao entendimento final em votação unânime de 9 contra zero de que sequências de DNA não podem ser protegidas por patentes por serem produtos da natureza. O fato de isolar tais genes de seu ambiente natural não cria nada com características marcadamente distintas, contudo o cDNA é considerado patenteável, porque sua composição química é diferente daquela que ocorre naturalmente em um DNA. Quanto à patente da Myriad a Corte conclui que não houve qualquer modificação da informação genética dos genes BRCA1 e BRCA2, o que houve foi a identificação da localização de tais genes e de uma utilização para os mesmos, que embora constitua uma “descoberta brilhante” não atende as exigências de patenteabilidade do parágrafo 101. A reivindicação de DNA enquadra-se como uma lei da natureza, uma das exceções à patenteabilidade estabelecidas pela Suprema Corte. Segundo Diamond v. Chakrabarty (447 US 303, 100) central para patenteabilidade é a presença de características “marcadamente diferentes das encontradas na natureza”. A Suprema Corte observa que as reivndicações das patentes da Myriad (US5747282, US5693473, US5837492) não são expressas em termpos de composição química nem se baseiam em qualquer mudança química que resulte do isolamento dos genes, ao invés disso compreensivelmente tem seu foco na informação genética dos genes BRCA1 e BRCA2.



[1] http://www.epo.org/topics/news/2008/20081119.html
[2] GRUBB, Philip, W. Patents for Chemicals, Pharmaceuticals, and Biotechnology: Fundamentals of Global Law, Practice, and Strategy; Oxford University Press, 2004, p.270
[3] Intellectual Property Watch, 21 November 2008, IP In Biotechnology In Need Of A New Start, Experts Say, Posted by Catherine Saez
[4] http://www.lexology.com/r.ashx?i=2892512&l=7FXKR8M
[5] WTO, WIPO, WHO. Promoting Access to Medical Technologies and Innovation: Intersections between public health, intellectual property and trade, fevereiro 2013, p.129 http://www.wto.org/english/res_e/publications_e/who-wipo-wto_2013_e.htm
[6] LAMPING, Mathias. Are Human Genes Patentable? 13/06/2013 http://ipkitten.blogspot.com.br/2013/06/are-human-genes-patentable.html

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