domingo, 25 de junho de 2017

Atividade Inventiva no Canadá


A exigência de atividade inventiva é aplicada inicialmente em Waterous v. Bishop (1870). Em Ball v. Crompton (1887) a Corte conclui: “não há como escapar da conclusão de que o uso de um fio em forma espiral era somente um equivalente mecânico da mola feita de borracha na patente, que não possui consequentemente qualquer elemento de uma invenção”.[1] Em Crosley Radio v. CGE (1936) a Corte declinou em empregar o termo “obvious” preferindo se referir a “grau de engenhosidade” "a degree of ingenuity”. Em Lighting Fasteer v. Colonial Fastener (1932) a Corte conclui: “cada aperfeiçoamento trivial não é uma invenção e o interesse público não deve ser embaraçado por patentes a cada pequeno aperfeiçoamento. Muitas vezes é dito que é importante encorajar invenções devido a sua influência no comércio e manufatura, porém é igualmente importante que fabricantes ou comerciantes, ou o público em geral, não sejam impedidos de agir pela concessão de patentes onde não existe o exercício de qualquer faculdade inventiva”.[2] Em Beloit Canada v. Valmet em 1986 a Corte canadense interpreta o técnico no assunto como “especializado na técnica, mas não tendo nenhuma centelha de inventividade ou imaginação; um protótipo de dedução e destreza, totalmente destituído de intuição; um triunfo do hemisfério esquerdo sobre o direito[3] [...] a questão a ser respondida é se esta criatura mística [o técnico no assunto] à luz do estado da técnica e do conhecimento geral comum na data da invenção chegaria de forma direta e sem dificuldade à solução ensinada na patente. É um teste bastante difícil de ser satisfeito”[4].

Segundo o guia de exame do Canadá de setembro de 2015 (página 15-2) “o teste de obviedade (seção 28.3 do Patent Act) é essencialmente se um técnico no assunto não imaginativo seria levado, à luz do conhecimento do estado da técnica e do conhecimento geral comum, diretamente e sem dificuldade à invenção reivindicada [...] As Cortes tem considerado como óbvios: meramente substituir um material superior por outro inferior na fabricação de uma ou mais partes de uma máquina ou manufatura, (ii) meramente mudar o tamanho e dimensões de um objeto, (iii) omitir uma ou mais partes de uma máquina ou manufatura com a correspondente omissão da função, exceto se tal omissão causa um novo modo de operação das partes residuais, (iv) mudar o processo, máquina, manufatura ou composição da matéria pela substituição por um equivalente para qualquer uma de suas partes, exceto se esta nova parte não somente executa a função da parte substituída mas também executa outra função, por outro modo de operação ou desenvolve novos usos e propriedades de um artigo formado, (v) meramente usar um processo antigo, máquina ou manufatura para um propósito novo, mas análogo, (vi) mudar a forma ou proporções de uma máquina ou manufatura, a menos que resulte um novo modo de operação ou função, (vii) produzir um artigo que difere de um artigo antigo somente por casa da excelência e habilidade de seu artesão, (viii) duplicar uma ou mais partes de uma máquina ou manufatura exceto se esta duplicação provoca um novo modo de operação ou produz um novo resultado unitário, (ix) combinar dispositivos antigos em uma nova máquina ou manufatura, sem produzir um novo modo de operação”.

Em Apotex Inc v Sanofi-Synthelabo Canada Inc (2008 SCC 61) a Suprema Corte estabeleceu um teste em quatro etapas para a determinação de não obviedade. Em primeiro lugar a noção de pessoa técnica no assunto e o conhecimento geral comum relevante devem ser identificados. Em segundo lugar o conceito inventivo da reivindicação deve ser determinado ou construído. Em terceiro lugar as diferenças, se existirem, entre o estado da técnica e o conceito inventivo da reivindicação tal como interpretada deve ser identificado. Em quarto lugar a Corte deve considerar se, visto de um modo que não considere o conhecimento da alegada invenção tal como reivindicada, se estas diferenças constituem etapas que seriam consideradas óbvias pelo técnico no assunto ou se isto exigiria algum grau de inventividade. É nesta última etapa que o conceito de “óbvio de se tentar” surge, ou seja, quando há evidências para convencer o juiz que no balanço das probabilidades seria mais ou menos evidente tentar para se chegar na solução reivindicada. A mera possibilidade de se chegar na solução não é suficiente. [5] Este entendimento foi confirmado em Eli Lilly Canada v. Mylan Pharmaceuticals 2015 FCA 286.[6]



[1] BOCHNOVIC, John. The inventive step: its evolution in Canada, the United Kingdom and the United States, IIC Studies, Basel:Verlag Chemie, 1982, p.29
[2] BOCHNOVIC, op.cit, p. 31
[3] BARTON, John. Non-obviousness (draft), agosto 2001, p. 6 http://eml.berkeley.edu/~bhhall/ipconf/Barton901.pdf
[4] MONOTTI, Ann. Divergent approaches in defining the appropriate level of inventiveness in patent law, 2012, p.23 http://ssrn.com/abstract=2052695
[5] http://scc-csc.lexum.com/scc-csc/scc-csc/en/item/2575/index.do
[6] http://decisions.fct-cf.gc.ca/fca-caf/decisions/en/item/127120/index.do

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