terça-feira, 13 de janeiro de 2015

As patentes da AT&T e a origem da internet

O modelo de negócios fechado adotado pela AT&T é apontado como um dos fatores que retardaram o surgimento da internet. Duas patentes adquiridas pela AT&T foram centrais para manter este monopólio em comunicações interurbanas: a invenção de Michael Pupin para o circuito ressonador capaz de sintonizar uma frequência[1] de 1900, comprada pela AT&T por US$ 500 mil [2] e a invenção do audion (triodo amplificador) de De Forest[3]. Assim a AT&T garantiu posições seguras na nascente indústria do rádio. [4] Um dos advogados da AT&T alegou em depoimento que o uso estratégico das patentes contra os concorrentes os obrigava a permanecer na defensiva e assim optar pelo uso de tecnologias inferiores para não correrem o risco de processos judiciais. Uma comissão da FCC avaliou que dois terços das patentes da AT&T tinha não eram exploradas e tinha como propósito evitar que os concorrentes lançassem no mercado tecnologias alternativas. Para Norbert Wiener o modelo de apropriação das pesquisas utilizado pela AT&T representava a queda da ciência. Para Norbert Wiener a informação não é uma substância mas um fluxo e a propriedade intelectual ao restringir o fluxo de informação compromete o desenvolvimento da ciência. [5] A informação segundo Norbert Wiener por ser um processo dinâmico se armazenada rapidamente perde seu valor: “a informação é mais um problema de processo do que de armazenagem”. Como o nível efetivo de informação encontra-se em um processo de avanço contínuo, o simples armazenamento de informações, condena os hoje líderes deste processo e se transformarem nos retardatários do futuro: “não existe linha Maginot do cérebro”.[6]

A fragmentação da AT&T na década de 1980, lançou as bases da disseminação da internet. A AT&T detinha o monopólio das linhas físicas de longa distância que interconectavam as cidades nos Estados Unidos. O monopólio da Bell havia sido interrompido com a expiração de diversas patentes chave em 1890. Desde então proliferaram diversas empresas independentes, especialmente na área rural. Com o fim das patentes chave de Bell em 1894 a competição na indústria se intensificou e em 1907 a empresas independentes tinham uma rede de 3 milhões de telefones enquanto a mesma quantidade da AT&T[7]. Em 1900 a Bell decidiu abrir sua rede de longa distância apenas para as empresas que satisfizessem os padrões técnicos operacionais da Bell e que não fossem concorrentes diretas da Bell em nível local. AT&T recusara-se aos rivais o acesso á sua rede de longa distância sob o argumento que a integração com padrões inferiores poderia comprometer todo o sistema. Com o enfraquecimento das independentes, muitas empresas foram adquiridas pela AT&T que consolidou sua posição monopolística até seu desmembramento em 1984.[8]

Paul Baran, pesquisador da Rand Corporation, desenvolveu no início dos anos 1960 o conceito de redes de pacote, que permite o controle descentralizado do roteamento das comunicações, e que viria a ser a base da internet.[9] O sistema não se ajustava ao modelo centralizado adotado pela AT&T, que resistia à sua adoção. Segundo Paul Baran: “tentaram tudo que se possa imaginar para impedir”.[10] Segundo Tim Wu “em termos ideológicos a AT&T estava comprometida com uma rede de circuitos definidos, ou caminhos reservados, controlada por uma só entidade. Baseado no princípio de que qualquer caminho disponível é um bom caminho, o conceito de pacote, embora teórico, admitia a possibilidade de uma rede com múltiplos proprietários – uma rede aberta. E essa noção era um anátema para o lema - Uma empresa, um serviço universal, da AT&T”.[11] Ainda segundo Tim Wu “A internet e a web iam contra dois importantes princípios da Bell. Primeiro, eram descentralizadas, enquanto a rede da Bell favorecia um modelo centralizado. Segundo, as duas possibilitavam que qualquer um controlasse seu próprio negócio, sem precisar de operadoras, não deixando à rede qualquer forma ou direito de obter lucro”.[12]


Paul Baran e o modelo de rede distribuído [13]




[1] http://radnaetika.org/content/view/176/57/lang,en/
[2] JOHNS, Adrian. Piracy: the intellectual property wars from Gutenberg to Gates. The University Chicago Press, 2009, p.427
[3] JOHNS, Adrian. Piracy: the intellectual property wars from Gutenberg to Gates. The University Chicago Press, 2009, p.406; CAMP, Sprague. A história secreta e curiosa das grandes invenções.Rio de Janeiro:Lidador, 1964, p. 332
[4] NOBLE, David. America by design: science, technology and the rise of corporate capitalism, Oxford University Press, 1979, p.91, 97
[5] JOHNS.op.cit.p.426
[6] WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade: o uso humano de seres humanos. São Paulo:Cultrix, 1970, p.120
[7] NOBLE, David. America by design: science, technology and the rise of corporate capitalism, Oxford University Press, 1979, p.12
[8] SHAPIRO,Carl; VARIAN, Hal R. A economia da informação. Rio de Janeiro:Campus, 1999, p.249
[9] MAZZUCATO, Mariana. O estado empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. setor privado, São Paulo:Portfolio Penguin, 2014, p.147
[10] ISAACSON, Walter. Os inovadores: uma biografia da revolução digital, São Paulo: Cia das Letras, 2014, p. 255
[11] WU, Tim. Impérios da comunicação: do telefone à internet, da AT&T ao Google, Rio de Janeiro:Zahar, 2012, p.212
[12] WU,Tim.op.cit.p.342
[13] http://raws.adc.rmit.edu.au/~s3223004/blog2/?tag=week-2

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