Um método que
constitua a solução de um problema técnico, que seja implementado por programa
de computador é passível de proteção por patentes, porque entende-se não se
tratar do programa de computador em si (artigo 10 inciso V da LPI), ou seja, a
organização do conjunto de instruções, a sucessão de rotinas e subrotinas, a
sucessão temporal dos comandos, que imprimem ao código fonte a originalidade do programador. Diversas criações
implementadas por programas de computador podem ser implementadas seja por um
programa de computador ou por circuitos de hardware,
sendo a escolha determinada por aspectos econômicos ou práticos, de modo que o
conceito inventivo envolvido se mantém o mesmo nas duas implementações.
Esta analogia forte
entre programa de computador e hardware
foi o principal argumento para que tais criações passassem a ser incluídas como
invenções e, pudessem receber, assim, a proteção por patentes. A resistência em
se proteger o software mesmo sendo equivalente lógico de implementação em
hardware se reflete
historicamente na própria origem do software. No desenvolvimento do ENIAC
durante a segunda guerra mundial, a tarefa de programação era relegada a
mulheres, por ser considerada uma tarefa de rotina, não digna de engenheiros
(homens). O ENIAC era usado para o cálculo de projéteis o que exigia o cálculo
de 3 mil trajetórias a partir de um conjunto de equações diferenciais. Antes do
ENIAC esses cálculos eram semi-automatizados pelo computador mecânico de
Vanevar Bush. Os cálculos do Analisador Diferencial de Bush eram integrados ao
trabalho de mais de 170 pessoas, na maior parte de mulheres com formação em
matemática, conhecidas como “programadoras” que resolviam as equações apertando
teclas e girando manivelas das máquina de somar de mesas.[1] Jeans
Jennings, formada em matemática, entre outras foi uma das primeiras
programadoras do projeto ENIAC: “Se os
administradores do ENIAC soubessem o quanto a programação seria essencial para
o funcionamento do computador eletrônico e o quanto isso seria complexo, eles
talvez ficassem mais hesitantes em dar um papel dessa importância às mulheres”.[2] Na
apresentação do ENIAC ao público, Jeans Jennings e Betty Snyder não foram convidadas
ao jantar no Houston Hall na Universidade da Pensilvânia: “Betty e eu fomos ignoradas depois da demonstração. Sentíamos que
estávamos desempenhando papéis em um filme fascinante que de repente teve uma
virada ruim, em que trabalhamos como cães por duas semanas para produzir algo
realmente espetacular e depois fomos riscadas do roteiro”.
Jean Jennings (em pé) programando o ENIAC em 1948 [3]
[1] ISAACSON, Walter. Os inovadores: uma biografia da revolução digital, São
Paulo: Cia das Letras, 2014, p. 85
[2] ISAACSON, Walter. Os inovadores: uma biografia da revolução digital, São
Paulo: Cia das Letras, 2014, p. 112
[3] http://www.nwmissouri.edu/compserv/Museum/JeanBartik.htm
[4] http://fortune.com/2014/09/18/walter-isaacson-the-women-of-eniac/
[4] http://fortune.com/2014/09/18/walter-isaacson-the-women-of-eniac/
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