quarta-feira, 8 de abril de 2015

Análise retrospectiva ou prospectiva no exame de patentes

O examinador deve se colocar como técnico do assunto da época do depósito do pedido. Desta forma partindo-se do que se conhecia do estado da técnica à época do depósito do pedido de patente o examinador deve avaliar se seria óbvio chegar-se à solução proposta no pedido. Neste sentido deve procurar fazer uma análise prospectiva. Uma análise prospectiva procuraria prever a evolução futura da tecnologia enquanto uma análise retrospectiva busca uma avaliação do desenvolvimento da tecnologia decorridos durante certo período do passado. Segundo Denis Barbosa: “uma vez conseguida a nova solução, tudo parece óbvio. A postura da análise seria sempre prospectiva a partir do documento mais próximo, e não retrospectiva, a partir da nova invenção”.[1] Vander Haeghen destaca esta dificuldade do examinador se colocar dentro da perspectiva de um técnico no assunto na época do depósito do pedido: “Esta dificuldade de se transportar ao pensamento daquela época distante se encontra aumentado pelo fato do que se conhece atualmente não somente da invenção criada desde a longa data, mais ainda mais por todas as suas aplicações, aperfeiçoamentos e resultados desta invenção de que qualquer modo fazem parte de nosso ambiente. Quaisquer que sejam estas dificuldades é preciso contudo a todo preço superá-las. È preciso absolutamente se colocar no pensamento da época da invenção e não aceitar  como elementos de apreciação senão outros que teriam poderiam ter à aquela época”, uma dificuldade semelhante ao historiador das ciências que deve se colocar no pensamento da época para compreender as realizações da tecnologia. [2]
Uma análise retrospectiva tenderia a realizar a análise de atividade inventiva tomando-se como ponto de partida a solução proposta no pedido se esta seria óbvia diante da evolução observada na tecnologia. Esta análise retrospectiva não é recomendável porque uma vez partindo-se da solução proposta tudo pareceria óbvio. Por exemplo, dado o problema de como colocar um ovo em pé sob uma mesa poderíamos pensar em diversas soluções. Se partirmos da solução de se quebrar a base do ovo para dispô-lo sobre a mesa, certamente o técnico no assunto acharia tal solução óbvia diante de sua simplicidade. Esta contudo seria uma análise retrospectiva: partindo-se da solução esta parece óbvia diante do estado da técnica. A análise correta seria considerar a solução encontrada tendo-se como conhecido apenas as soluções a este problema conhecidas do estado da técnica. Cristóvão Colombo usou este exemplo em um banquete  comemorativo pela descoberta da América organizado pelo Cardeal Mendoza. Após ele ter mostrado o caminho para o Novo Mundo, qualquer um pode segui-lo, mas que antes foi necessário que alguém tivesse a ideia, e alguém depois precisou colocá-la em prática: “Convenhamos, entretanto, que apesar de sua simplicidade e facilidade, você não descobriu a solução, e que apenas eu é que removi a dificuldade. O mesmo ocorreu com a descoberta do Novo Mundo. Tudo que é natural parece fácil, após conhecido ou encontrado. A dificuldade está em ser o inventor, o primeiro a conhecer ou a demonstrar”. A história do ovo de Colombo foi publicada pela primeira vez na obra History of the New World, de Girolano Benzoni, em 1565.[3]
Dito de outra forma, seria o mesmo que questionarmos um técnico no assunto apresentado-o a solução de um problema, para que este avalie se a solução proposta no pedido é óbvia. Se questionássemos este técnico no assunto já com a resposta proposta, haveria uma tendência grande do técnico no assunto, diante da resposta, manifestar-se pela obviedade da mesma. Outro erro que o examinador deve evitar em sua análise de atividade inventiva é colocar-se como técnico no assunto de hoje ao avaliar um pedido, muitas vezes depositado anos atrás. O que hoje faz parte da lógica do técnico no assunto, constituindo paradigma de seu campo tecnológico, pode não ser algo tão óbvio para o técnico no assunto do passado.



[1] O contributo mínimo em propriedade intelectual: atividade inventiva, originalidade, distinguibilidade e margem mínima. Denis Borges Barbosa, Rodrigo Souto Maior, Carolina Tinoco Ramos, Rio de Janeiro:Lumen, 2010, p.63
[2] HAEGHEN, Vander. Brevets d'invention marques et modèles, Bruxelas:Ed. Ferdinand Larcier, 1928, p.43
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Ovo_de_Colombo

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