terça-feira, 10 de maio de 2016

Patentes de inventores isolados

Meurer e Bessen destacam que o papel do inventor isolado nos Estados Unidos no século XIX modificou-se drasticamente em relação aos dias atuais à medida em que a atividade de P&D passou a ser organizada e estruturada pelas grandes empresas que surgiam. Sprague de Camp identifica o período de 1836 a 1917 como a “fase heroica” dos inventores nos Estados Unidos, quando invenções como o barco a vapor de Robert Fulton, a ferrovia de John Stevens, o descaroçador de algodão de Eli Whitney, a iluminação elétrica de Thomas Edison, o automóvel de Henry Ford, o telégrafo de Samuel Morse, o telefone de Graham Bell, o revólver de Samuel Colt, o avião dos irmãos Wright, a máquina de costura de Isaac Singer, a ceifadeira de Robert McCormick, o encouraçado de John Ericsson, o gerador de corrente alternada de Elihu Thomson e tantos outros exemplos de inventores, conseguiram com suas invenções iniciar grandes oportunidades de negócios e abrir novos mercados. [1] Schumpeter em artigo de 1928 destaca o papel da burocratização das inovações pelas grandes empresas com substituindo  o talento individualista como principal veículo para inovação técnica na economia.[2]
Desta forma, em 2003 apenas 12% das patentes foram concedidas a inventores isolados. Enquanto no século XIX Thomas Edison, com suas cerca de mil patentes era considerado como o inventor mais prolífico com muitas patentes desenvolvidas em seu centro de pesquisa em Palo Alto com grande interesse comercial, atualmente os inventores isolados concentram suas invenções em pequenos artefatos em tecnologias já consolidadas como mecânica e construção civil e raramente em setores de alta tecnologia.[3]
Khan e Sokoloff mostram que 85% dos grandes inventores norte americanos no período de 1790 a 1865 estiveram diretamente envolvidos na exploração comercial de suas invenções, índice que não se mantém atualmente.[4] Willian Rosen observa o baixo custo de depósito de uma patente, em torno de cinqüenta centavos de dólar, como um fator que estimulou a democratização das patentes nos Estados Unidos.[5] Segundo Sokoloff em 1891 cerca de 71% das patentes eram concedidas a pessoas físicas ao passo que em 1999 cerca de 78% de todas as patentes foram concedidas a empresas.[6] Dennis Crouch mostra que desde 1990 mais da metada das patentes concedidas pelo USPTO tem mais de um inventor, tendência que tem aumentado. Enquanto que em 2002 cerca de 35% das patentes tinham três ou mais inventores este percentual sobe para 47% em 2016.[7]
 
No estudo de Dennis Crouch considerando as patentes concedidas no USPTO entre 20122 e 2016 as patentes com origem na Índia tem número médio de inventores de 3,6 ao passo que este número é de 2,9 para pedidos com origem nos Esados Unidos e 2.6 para o Japão. Por outro lado patentes com mais de cinco inventores foram 25% das patentes da Índia e 25% da Coreia.

 
Robert Merges[8] mostra que este índice tem mantido a mesma tendência de queda da participação de inventores independentes mas lembra que a propriedade de empresas não necessariamente significa propriedade de grandes empresas e argumenta que as pequenas empresas persistem como uma importante fonte de inovação. Uma mostra disso é o movimento de Open Innovation que busca a integração entre grandes e pequenas empresas. Neste cenário os direitos de propriedade intelectual são um elemento chave para o sucesso das pequenas empresas.[9]


[1] CAMP, Sprague. A história secreta e curiosa das grandes invenções.Rio de Janeiro:Lidador, 1964
[2] FREEMAN, Chris; SOETE, Luc. A economia da inovação industrial, São Paulo:Ed. Unicamp, 2008, p.26
[3] BESSEN, James; MEURER, Michael. Patent Failure: How Judges, Bureaucrats, and Lawyers Put Innovators at Risk. Princeton University Press, 2008, p. 1895/3766 (kindle version)
[4] ZORINA, Khan; SOKOLOFF, Kenneth. The democratization of invention during early industrialization: evidence from the United States,: 1790-1846. Journal of Economic History, 1990, v.50, n.2, p.363-378 cf. BESSEN, MEURER.op.cit.p.1984/3766 (kindle version)
[5] ROSEN, William. The most powerful idea in the world: a story of steam, industry and invention. Randon House, 2010, p. 4868/6539 (kindle edition)
[6] LAMOREAUX, Naomi; SOKOLOFF, Kenneth. The decline of the independennt inventor: a schumpterian story ? NBER. Working Paper 11654, September 2005, http://www.nber.org/papers/w11654
[7] http://patentlyo.com/patent/2016/05/charting-inventorship-prize.html
[8] MERGES, Robert. Justifying Intellectual Property, Harvard University Press, 2011, p. 3088/6102 (kindle version)
[9] GRAHAM, Stuart; MERGES, Robert; SAMUELSON, Pamela, SICHELMAN, Ted.. High Technology Entrepreneurs and the Patent System: Results of the 2008. Berkeley Patent Survey Berkeley Technology Law Journal,, v. 24, n. 4, p. 255-327, 2009

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