terça-feira, 9 de agosto de 2016

Patente da caneta BIC

Uma descoberta não pode ser patenteável, conforme artigo 10 da LPI. Identificada uma propriedade física, química de determinado material, estaremos diante de uma descoberta. Alcançado um resultado através do uso prático advindo dessa propriedade estaremos diante de uma invenção. Por exemplo, a identificação da propriedade quanto a capacidade de absorver choque mecânico de determinado material é uma descoberta, a criação de dormentes para ferrovias elaboradas a partir de tal material é uma invenção por envolver a intervenção humana[1]. O jornalista húngaro Laszlo Biro observou crianças ao brincar de bola que ao ser molhada a bola percorre o solo deixando um rastro contínuo em forma de filete. Esta observação o levou em 1938 a desenvolver a caneta esferográfica onde uma pequena bola disposta sobre um alvéolo consegue depositar a tinta sem respongos sobre a superfície de papel.[2] John Loud inventara a caneta esferográfica em 1888 mas o modelo apresentava muitos vazamentos. Lászlo Biró aperfeiçoou[3] este modelo comprimindo o reservatório de plástico na qual a tinta era acondicionada. Devido à força da gravidade, a tinta umedecia a esfera, e esta, ao girar, a distribuía de modo uniforme pelo papel sem sujar os dedos ou provocar borrões. Trabalhando como editor de uma revista em Budapeste Biro ficava impressionado pela tinta de secagem rápido dos tipógrafos e pensou em utilizar o mesmo princípio à escrita. [4] Durante a Segunda Guerra Mundial, Biró e sua família fugiram da Hungria, indo primeiro para Paris e depois para Buenos Aires [5]. Na Argentina o inventor teve a ideia de substituir a tinta por uma pasta líquida. Em 1943, László Biró recebeu a patente da primeira caneta esferográfica como a conhecemos hoje em dia. Um ano mais tarde, apareceram as primeiras esferográficas no mercado argentino pela recém criada empresa Eterpen Company. No lançamento no mercado norte-americano, em 1945, as primeiras 10 mil canetas esferográficas foram vendidas em 24 horas, apesar do elevado preço de mais de 8 dólares a unidade. O seu inventor, entretanto, não teve participação nos lucros. Biró já havia vendido sua patente (US2390636 com prioridade na patente argentina ARX564172 de 1943) por 1 milhão de dólares. Em contrapartida, o comprador, o barão francês Marcel Bich, cuja firma BIC (Biro Crayon) lidera o mercado mundial de esferográficas, se tornou bilionário [6].
 
László Biró


[1] Diretrizes de análise de patentes, proposta para discussão, 1a versão, agosto 1994, INPI/DIRPA, p.30
[2] História Viva, Grandes temas: Invenções geniais, n.48, São Paulo:Duetto, p.49
[3] CHALLONER, Jack. 1001 invenções que mudaram o mundo. Rio de Janeiro:Ed. Sextante, 2010, p. 452
[4] READER’S DIGEST, História dos grandes inventos, Portugal, 1983, p. 338
[5] DUARTE, Marcelo. O livro das invenções. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 52
[6] Calendário histórico 1943: Patenteada a caneta esferográfica http: //www.dw-world.de/dw/article/0,,317880,00.html

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