quinta-feira, 9 de junho de 2016

Claim Differentiation


Nos Estados Unidos a doutrina da diferenciação das reivindicações (claim differentiation) afirmada por exemplo em SRI Int’l v. Matsushita Elec. Corp.[1], estabelece que em um mesmo pedido de patente, duas reivindicações devem ser sempre interpretadas de modo que não possuam o mesmo escopo de proteção, seguindo a máxima latina “Lex rejicit superflua, pugnantia, incongrua” (a lei rejeita o supérfluo, o contraditório e o incongruente). As reivindicações devem, portanto, ser interpretadas de modo que não haja redundâncias nem que torne alguma reivindicação inócua. Por exemplo, considere uma reivindicação independente que descreve um motor de um veículo compreendendo, uma base, quatro rodas e um chassis para suportar o corpo do motor. Uma outra reivindicação dependente refere-se a esta última em que o corpo do motor é preto. Pela doutrina de claim differentiation pode-se reconhecer que a reivindicação independente tem em seu escopo não somente os veículos com motor preto, mas de outras cores também, como, por exemplo, azul.

Este princípio segundo Mark Lemley tende a conduzir os tribunais a uma interpretação mais ampla das reivindicações independentes, pois que uma reivindicação não pode ser inócua ou redundante com outra reivindicação. Esta doutrina é usada contra os réus de contrafação que tendem a interpretar as reivindicações independentes, em geral mais genéricas, utilizando-se das limitações presentes nas reivindicações dependentes. Esta doutrina pode conduzir a interpretações aberrantes segundo Mark Lemley como a que se observou em Phillips v. AWH Corp. onde o termo “baffle” foi interpretado de modo a incluir suportes orientados em 90 graus em relação as paredes. A reivindicação, contudo especificava apenas que estes baffles estariam inclinados em relação a parede sem especificar valor de ângulos. O relatório descritivo, contudo, especificava que o objetivo de tais baffles era o de impedir que balas pudessem penetrar na parede e no entanto com 90 graus de inclinação tal objetivo não pode ser atingido. Para Mark Lemley este é um caso onde a doutrina do claim differentiation não poderia ser aplicada. Muitas vezes o requerente usa palavras diferentes nas reivindicações são formas redundantes de se tentar obter uma melhor proteção, descrever o mesmo elemento, e não necessariamente isto implica em se pleitear elementos distintos. Nesse sentido a doutrina do claim differentiation acaba criando diferenças artificiais onde elas não existem, expandindo indevidamente o escopo de uma reivindicação como no caso Phillips. Como regra Mark Lemley entende que a doutrina deva ser usada quando: 1) existe uma relação de dependência entre duas reivindicações, 2) quando a reivindicação dependente é um caso específico de um elemento mais genérico descrito na independente. Muitas vezes o requerente usa dois termos diferentes nestas duas reivindicações para descrever essencialmente o mesmo elemento, 3) quando as duas reivindicações em questão diferem por um único elemento. Nos casos onde há mais elementos distintos, menor deve ser a aplicação desta doutrina, 4) ao aplicar  doutrina do claim differentiation é importante observar que o resultado da interpretação seja compatível com os objetivos da invenção, o que não aconteceu no caso Philips.   [2]

Em Inducom v. Facebook (Fed Cir 2016) a Corte entende que a doutrina de claim differentiation deva ser aplicada nos poucos casos em que de outra forma as duas reivindicações teriam o mesmo escopo e segue a argumentação de Mark Lemley: “as Cortes não devem usar esta doutrina, salvo se as reivindicações em questão mantém uma relação do tipo independente-dependente”.[3] A patente US68342776 trata de links customizados associados a ocorrência de um termo numa página. O Federal Circuit entendeu que essa associação valia para todos os termos da página com base no que foi relevado pelo depositante durante o processamento do pedido. A depositante alegava que uma vez que apenas algumas reivindicações se referiram a aplicação do link para todos os termos das páginas, então, pela doutrina de claim differentiation, nas demais reivindicações em que não havia esta referência a todas as ocorrências deveria se presumir que estivesse se referindo a apenas algumas das ocorrências do mesmo termo na pagina. A Corte, contudo, negou-se a aplicar a doutrina de claim differentiation e interpretou que em todas as reivindicações os links aplicavam-se a ocorrência de todos os termos encontrados na página.

Philip Grubb cita como exemplo uma reivindicação independente que pleiteia processo para fabricação do produto X compreendendo a etapa de reação de Y e Z em um solvente inerte. A reivindicação dependente 2 refere-se à reivindicação 1 em que o solvente é água. Uma vez que a reivindicação 2 acrescenta um novo elemento á reivnidcação1, ela possui escopo mais restrito do que esta, o que significa que um processo não está em contrafação com a reivindicação dependente 1 necessariamente não está em contrafação com a reivindicação dependente 2. O uso de álcool como solvente seria uma contrafação da reivindicação 1 mas não o seria da reivindicação 2. Devido a presunção legal de que diferentes reivindicações possuem diferentes escopos, a reivindicação independente abrange uma variedade maior de solventes do que o previsto na reivindicação dependente 2.[4]

Por outro lado FuzzySharp v. 3DLabs destaca que a analise de patenteabilidade do 35 USC 101 deve ser feita em cada reivindicação individual. Embora a doutrina de claim differentiation possa ser usada para interpretar os termos de uma reivindicação independente com base no conteúdo das dependentes o mesmo não se aplica a análise da seção 101, de modo que uma reivindicação independente não se torna patenteável meramente porque uma de suas dependentes se refere a matéria patenteável. [5]





[1] ROOT, Joseph. E. Rules of Patent Drafting from Federal Circuit Case Law. Oxford University Press, 2011, p.40


[2] LEMLEY, Mark. The limits of claim differentiation, 2007, http://ssrn.com/abstract=1008885


[3] http://patentlyo.com/patent/2016/06/claim-limits-differences.html


[4] GRUBB, Philip, W. Patents for Chemicals, Pharmaceuticals, and Biotechnology: Fundamentals of Global Law, Practice, and Strategy; Oxford University Press, 2004, p.420


[5] No. 2010-1160 (Fed. Cir. Nov. 4, 2011) cf. TRUAX, Terrence. Section 101 patent eligibility must be assessed for each claim http://www.lexology.com/r.ashx?i=2892512&l=7G9AEQA

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