Há vários exemplos de
cientistas que solicitaram patentes, o que desfaz o mito mertoniano do cientista desinteressado dos ganhos econômicos de seu trabalho. Louis
Pasteur solicitou patentes para o processo de fabricação de cerveja US135245
depositada em agosto de 1871 e em março de 1873. Segundo depoimento do próprio
Pasteur a patente seria uma alternativa para se divulgar seu trabalho
científico garantindo a prioridade de sua trabalho. Para Pasteur, ao abandonar
sua patente mais tarde, para não ver frustrado o domínio público de suas
descobertas[1], o cientista poderia
garantir que seu trabalho científico não viesse a ser privatizado por algum
industrial, muito embora a atitude de Pasteur com as patentes tenha em outros
momentos se mostrado mais complexa.[2]
Lord Kelvin solicitou cerca de 70 patentes para entre os
quais galvanômetros e equipamentos de telegrafia [3]. Os royalties pagos pelas empresas
telegráficas eram consideráveis, além de tornar-se sócio de uma empresa de
navegação marinha [4]. Em 1675 uma disputa entre o cientista
holandês Christian Huygens e Robert Hooke envolveu os direitos sobre o uso de
uma mola espiral (cabelo) e balancim em um relógio, para garantir medidas mais
precisas. O litígio foi decidido por membros da Royal Society de
Londres [5]. O químico alemão Walter Nernst considerado
por Einstein como de “espírito científico
verdadeiramente espantoso” desenvolveu uma lâmpada que substituiu o
convencional filamento de carbono.[6]
A lâmpada de Nerst era formada por uma mistura
de óxidos de zircônio e metais de terras raras que só conduzia quando pré
aquecido e podia funcionar na atmosfera sem proteções especiais. O p´re
aquecimento contudo impedida o rápido aquecimento, além de ter alto custo de
produção, o que resultou em dificuldade para sua utilização em iluminação em
larga escala. A patente foi vendida a George Westinghouse que fundou a Nernst
Lamp Company em Pittsburgh em 1901. Na feira mundial de 1900 cerca de 800
lâmpada de Nernst foram utilizadas para iluminar o pavilhão da empresa alemã
AEG. [7]
Em 1927 o então já famoso
Albert Einstein e o estudante matemático húngaro Leo Szilard [8] solicitaram patente (US1781541) de um sistema
de refrigeração para uma geladeira, transferida para a empresa sueca Electrolux
por US$750. O refrigerado era portátil, sem partes móveis e utilizava amônia
como fluido para equalização da pressão, butano como refrigerante e água como
fluido de absorção. O produto contudo não teve aplicação no comércio pelos
riscos de vazamento de amônia e pela utilização de gás freon (CFC) nos anos 30.
A tecnologia desenvolvida por Einstein viria a ter aplicação anos mais tarde na
refrigeração de reatores nucleares. [9]Uma
nova patente desenvolvida junto com Szilard tratava de uma bomba
eletromagnética (GB303065) [10]. Em 1907, junto com Paul Habicht Einstein
solicitou patente para um amplificador de correntes elétricas muito baixas. Em
1922 desenvolveu para uma firma de engenharia um novo desenho de um giroscópio
de navegação, conseguindo uma patente pelo qual recebera 20 mil marcos em
dinheiro. Em conjunto com Gustav Bucky desenvolveu e patenteou (US2058562) um
aparelho para controlar o diafragma fotográfico, que utiliza o efeito
fotoelétrico [11]. Em 1934 junto com Rudolf Goldschmidt
solicitou uma patente para um aparelho de reprodução de som (DE590783). Contribui para esta
importância de Einstein sobre o papel das patentes o fato de seu tio
Jakob Einstein que abrira uma firma fornecedora de eletricidade no sul da
Alemanha ter solicitado algumas patentes para lâmpadas de arco voltaico,
interruptores automáticos de circuito e medidores de eletricidade. O próprio
Einstein trabalhou no escritório suíço de patentes por alguns anos. Einstein
acreditava haver: “uma ligação inegável entre o conhecimento adquirido no
escritório de patentes e os resultados teóricos”.
lâmpada de Nernst [12]
[1]
POUILLET, Eugène. Traité Theorique et Pratique des Brevets d'Invention et de la
Contrefaçon. Marchal et Bilard:Paris, 1899, p.400
[2]
BEHAR,op.cit.p.80-97
[3] HELLMAN, Hal. Grandes debates da ciência: dez maiores
contendas de todos os tempos, São Paulo: Ed. UNESP, 1999, p. 141; MOKYR, Joel. The European enlightment and the
origin of modern economic growth. In: HORN, Jeff; ROSENBAND, Leonard; SMITH,
Merritt Roe. Reconceptualizing the Industrial Revolution, London:MT Press,
2010, p.70
[4] TRAINER, Matthew. The patents
of William Thomson (Lord Kelvin). World patent information, v.26, n.4,
2004, p. 311-317.
[5] Os cientistas, Capítulo 8: Robert Hooke, Abril Cultural,
São Paulo, 1972, p. 141, 1972.
[6]
Os Cientistas, São Paulo: Abril Cultural, 1972, v.3, p. 620
[7]
http://en.wikipedia.org/wiki/Nernst_lamp
[8] DANNEN, Gene. Leo Szilard the
inventor; a slideshow. Budapest: Hungary http: //www.dannen.com/budatalk.html.
[9] GUELLEC, Dominique; POTTERIE, Bruno
van Pottelsberghe de la. The economics of the european patent system. Great
Britain:Oxford University Press, 2007, p.86
[10] TRAINER,
Matthew. Albert Einstein’s patents. World Patent Information, v.28,
2006, p. 160.
[11] ISAACSON, Walter. Einstein, sua vida, seu universo, São
Paulo: Cia. Das Letras, 2007, p. 42, 93, 96, 97, 143, 160, 317, 445, 481.
[12] http://en.wikipedia.org/wiki/Nernst_lamp
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