O problema técnico deve ser definido sob a perspectiva do técnico no assunto e não a do inventor.
Os desenvolvimentos subsequentes podem mostrar que o problema apresentado pelo
inventor que desencadeou a invenção mostra-se equivocado. Telescópios de reflexão
já haviam sido desenvolvidos pelo escocês James Gregory em 1663[1]. Outros modelos foram
inventados pelo italiano Bonaventura Cavalieri, discípulo de Galileu Galilei, e
pelos franceses Marin Mersenne e Nicolas Cassegrain em 1672. O esquema de Cassegrain
era conhecido por Isaac Newton que o menciona no texto Opticks. No entanto, a primeira explicação teórica consistente
destes instrumentos somente foi possível com os trabalhos de Isaac Newton como
forma de superar os problemas de aberração cromática presente nos telescópios
esféricos. Com a teoria da luz proposta por Newton, compreendeu-se que uma a
luz branca é uma composição de diferentes cores, cada qual com seu índice de
refração. Newton então conclui que não haveria como construir uma lente esférica
capaz de focalizar todos os raios sob um mesmo ponto. Então Newton partiu para
uma outra solução: concebeu a utilização de uma objetiva refletora, não
existente no esquema de Cassegrain, a fim de evitar aberrações da imagem,
quando olhada diretamente. O telescópio refletor de Newton empregava a reflexão
por espelhos curvos ao invés da refração de lentes. [2] Graças ao telescópio
construído em 1688, Newton pode ser aceito quatro anos mais tarde na Royal
Society, ano em que publica na Transactions
of the Royal Society sua teoria das cores.[3] O desenvolvimento
posterior mostrou que Newton estava errado, uma vez que a dispersão das cores
não é a mesma em todos os meios transparentes e, portanto, ao contrário do que
ele supunha é possível se construir, utilizando-se diferentes tipos de vidros,
uma lente capaz de compensar os seus efeitos cromáticos e obter um acromatismo
satisfatório. Este “erro de Newton” detectado por Euler foi aceito sem discussão
na primeira meta do século XVIII[4]. Lentes acromáticas foram
desenvolvidas por Chester Hall em 1758 baseado na analogia com o que se
conhecia na época do funcionamento olho humano.[5] A aberração cromática em
microscópios foi corrigida apenas em 1820 com o aparecimento da objetiva de
imersão.[6]
telescópio segundo modelo proposto por Newton
[1] RONAN, Colin. História
Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, SP:Jorge
Zahar, 2001, p.113
[2] ZIMAN, John. A força do
conhecimento, São Paulo:USP, 1981, p.31
[3] Scientific American
Brasil, Gênios da Ciência, v.7. Newton: o pai da física moderna, 2013, p. 29
[4] CROZON, Michel. A
física. In: COTARDIÈRE, Philippe. História das ciências: da antiguidade aos
nossos dias, Rio de Janeiro:Saraiva, 2011, p.57; TATON, René. A ciência moderna:
o século XVII, tomo II, v.2, São Paulo:Difusão, 1960, p.138
[5] RONAN, Colin. História
Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, SP:Jorge
Zahar, 2001, p.115
[6] ABRIL Cultural,
Medicina e Saúde. História da Medicina, v.II, São Paulo, 1970, p. 472
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