As empresas químicas alemãs[1] entre as quais a Bayer e a Hoechst iniciaram um processo de relacionamento
entre pesquisa científica e inovações industriais, no desenvolvimento de novos
produtos, tais como o primeiro plástico moderno, a celuloide criada por Hyatt
em 1868, e o corante malveína inventado por Perkin em 1856 na época assistente
do grande químico alemão de corantes Hoffmann. Com a malveína quebrou-se o
monopólio dos corantes naturais extraído de animais como a cochonilha ou de
vegetais como o índigo.[2] As empresas começam a montar seus próprios laboratórios de pesquisa, a Bayer
por exemplo, contratou o cientista Felix Hoffmann que levou à descoberta do
ácido acetil salicílico em 1897 que se ostrou eficaz contra a febre e a dor da
artrite.[3] A BASF montaria seu laboratório de pesquisas em 1877, a Hoescht em 1878, a Agfa
em 1882.[4] David Landes destaca que na união entre ciência e tecnologia coube a área de
instrumentação um dos primeiros setores a promover esta integração como foi o
caso do moderno refratômetro goniômetro usado na indústria química e do
pirômetro.[5] Portanto,
paralelamente ao reforço do sistema de patentes alemão o que se observa é o
desenvolvimento da pesquisa científica como atividade organizada dentro das
empresas, um marco na definição da ciência organizada para inserção nas
atividades produtivas [6]. Este
interrelacionamento entre ciência e indústria foi fundamental tanto para a
Alemanha como para a Suíça para a alavancagem de suas indústrias na área
química e conquista de inovações. Laboratório de Justus von Liebig na
Universidade de Giessen [7] considerado pioneiro com laboratório químico industrial. Entre os produtos de
destaque da indústria química alemã encontravam-se as tintas derivadas do alcatrão.
Até 1860 as tintas eram orgânicas e importadas ao custo de 50 milhões de marcos
anuais. Quarenta anos depois o país já não importava tais tintas e exportava mas
de 100 milhões de marcos em tintas inorgânicas, sendo o país responsável por
quatro quintos da produção mundial. O mesmo aconteceu com o índigo azul sintetizado
em 1893 como resultado do trabalho de Karl
Heumann na BASF. O país deixou de ser importador para se tornar grande
exportador do índigo sintético produzido em laboratório. Entre as empresas
destacavam-se a Bayer com fábricas em Leverkusen e a Basf (Badishe Anilin und
Soda Fabrik) com sede em Ludwigshafen (no Reno), no sudoeste da Alemanha.[8]
Depois de 1876 com a aprovação da
lei de patentes as empresas focam seus investimentos em inovação e em grande
parte os laboratórios de pesquisa das empresas alemãs surgiram nessa época por
exemplo o laboratório da Bayer fundado em 1874. Na virada do século XX a
Alemanha já detinha 90% do mercado mundial de corantes sintéticos. O termo “cientista” foi cunhado em 1833 como
testemunho das profundas mudanças sociais da época e do novo papel desempenhado
pela ciência na sociedade. Em uma reunião promovida em Cambridge pela BAAS, pós
uma palestra sobre astronomia William Whewell foi interpelado pelo poeta
romântico Samuel Taylor Coleridge que comentou que os membros daquela
associação não deveriam ser chamados de filósofos naturais, afinal, eram
indivíduos mais práticos. William Whewell concordou e chegou à conclusão que o
termo a ser usado para quem pratica ciência deveria ser análoga a artista
(aquele(a) que pratica arte), nascendo assim o termo “cientista”.
Joseph ben-David mostra que a
tecnologia de corantes de tintas de anilina e vacinas imunizadoras na década de
1860-1870 marcam o desenvolvimento de laboratórios que não se destinavam ao
ensino e que empregavam pesquisadores profissionais que não era professores.[9] A BASF, Hoescht e Bayer mantinham frequentes contatos com a pesquisa
universitária e a Karlsruhe Technische Hochschule. Em 1880 a Alemanha respondia
por cerca de um terço da produção mundial de corantes, com mais de 15 mil
diferentes de materiais patenteados.[10] Mesmo Perkin tendo sido pioneiro na invenção da malvaína a Inglaterra não
manteve sua liderança tecnológica pois logo se especializou na importação de
corantes naturais de suas colônias para se transformar em exportadora de
tecidos o que a fez não investir na tecnologia de corantes sintéticos, o que
viria a ser feito por países como Alemanha. [11] A indústria ótica alemã teve como exemplo a indústria Carl Zeiss com origem nos
laboratórios acadêmicos da Universidade de Jena [12].
Em 1887 a Siemens financiou a criação do Physikalische Technische Reichsanstalt
dirigido por Hermann von Helmholtz da Universidade de Berlim. Este modelo de
pesquisa universtária alemã serviu de modelo para a Universidade Johns Hopkins
em 1876 nos Estados Unidos.[13]
[1]LEE, Rupert. Eureka:
100 grandes descobertas científicas do século XX. Rio de Janeiro: Editora
Nova Fronteira, 2006, p. 2.
[2]ZISCHKA, Anton. A ciência quebra monopólios, Porto Alegre:Ed. Globo, 1939, p.55
[3]ROBERTS, Royston.
Descobertas acidentais em ciências, Campinas:Papirus, 1993, p.243
[4]PARANHOS, Julia,
Interação entre empresas e instituições de Ciência e Tecnologia: o caso do
sistema farmacêutico de inovação brasileiro, Eduerj:Rio de Janeiro, 2012, p.52
[5]LANDES, David. Prometeu
desacorrentado, Rio de Janeiro:Elsevier, 2005, p.333
[6]DAVID, Joseph Bem. O papel do cientista na sociedade,
São Paulo: Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais, 1974, p. 175.
[7]CANEDO, Letícia Bicalho. A revolução industrial. Série: Discutindo a história, São Paulo: Ed. Univ Campinas, 1987, p.46; HENDERSON, William. A revolução industrial, São Paulo:Edusp, 1979, p.54
[8]CURY, Vania Maria. História da industrialização no século XIX, Rio de Janeiro:
UFRJ, 2006, p. 70
[9]DAVID, Joseph. O papel
do cientista na sociedade, São Paulo:Pioneira, 1974, p. 175; BEER, J. The
emergence of the german dye industry, Chicago:Universuty of Illinois Press,
1959
[10] FREEMAN, Chris; SOETE,
Luc. A economia da inovação industrial, São Paulo:Ed. Unicamp, 2008, p.158
[11] COUTEUR, Penny le;
BURRESON, Jay. Os botões de Napoleão: as 17 moléculas que mudaram a história.
Rio de Janeiro:Zahar, 2006, p.163
[12] HOBSBAWM, E. Da
revolução industrial inglesa ao imperialismo. Forense:Rio de Janeiro, 1969,
p.162
[13]McCLELLAN III, James; DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The Johns Hopkins University Press, 1999, p.307
Nenhum comentário:
Postar um comentário