sexta-feira, 2 de agosto de 2019

O técnico no assunto como tipo ideal weberiano


Em um sentido sociológico o conceito de técnico no assunto se aproxima do conceito weberiano de “tipo ideal”. O técnico no assunto opera segundo uma racionalidade com relação a um objetivo determinado por expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens utilizando essas expectativas como condições ou meios para alcance de fins próprios racionalmente avaliados e perseguidos.[1] O tipo ideal, segundo Weber, escrevendo no início do século XX, trata-se de um conceito sociológico puramente conceitual que expõe como se desenvolveria uma forma particular de ação social se o fizesse racionalmente em direção a um fim.[2] Cada tipo ideal ao acentuar o que é característico no grupo, busca a apreender o que é essencial nele para a análise sociológica[3]

Segundo Stephen Kalberg “Os tipos ideais não são estáticos, mas construídos a partir de uma série de orientações regulares de ação”.[4] Uma das principais características do tipo ideal é o fato de que não corresponde à realidade, mas pode ajudar em sua compreensão[5]: “Um conceito ideal é normalmente uma simplificação e generalização da realidade. Partindo desse modelo, é possível analisar diversos fatos reais como desvios do ideal: Tais construções (...) permitem-nos ver se, em traços particulares ou em seu caráter total, os fenômenos se aproximam de uma de nossas construções, determinar o grau de aproximação do fenômeno histórico e o tipo construído teoricamente. Sob esse aspecto, a construção é simplesmente um recurso técnico que facilita uma disposição e terminologia mais lúcidas”.[6] Segundo Max Weber: “obtém-se um tipo ideal pela acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista e pela síntese de muitos fenômenos individuais concretos, difusos, discretos, mais ou menos presentes e às vezes ausentes, que são organizados segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados a fim de formar um constructo analítico homogêneo. Em sua pureza conceitual, esse constructo não pode ser encontrado empiricamente, na realidade, em lugar nenhum”.[7]

Na concepção de Max Weber, o tipo ideal é um instrumento da análise sociológica elaborado para a apreensão de fenômenos sociais. O tipo ideal não está ligado à "maioria" ou a uma média de valores encontrados na realidade, mas o de uma síntese idealizada da realidade social. Exemplo de tipo ideal é o "homem cordial", em Sérgio Buarque de Holanda em sua obra Raízes do Brasil. Denis Barbosa define o técnico no assunto como um tipo ideal weberiano: “o técnico na arte provido dos conhecimentos gerais do estado da técnica e da experiência no ramo onde o invento se propõe solucionar o seu problema técnico”. Ao raciocinar de forma óbvia, ou seja, dentro daquilo que pode ser entendido como a “dinâmica natural, ou crescimento vegetativo, do estado da técnica[8], o técnico no assunto obtém soluções que outros indivíduos dentro do mesmo tipo ideal invariavelmente atingiriam de forma natural.

Para Donald MacRae:”Weber não quis dizer que os seus tipos ideias fossem, em algum sentido, bons ou nobres: ideal aqui significa simplesmente <o que não está concretamente exemplificado na realidade. Não está envolvido qualquer elemento de valor. Não se pretendeu com o seu <método típico ideal> inventar qualquer novo instrumento de análise. Apenas quis com isso explicar e refinar o que os cientistas sociais e historiadores realmente fazem. O tipo ideal começa por tornar manifesta a metodologia tácita e real de outros homens, e, ao tornar publicamente clara esta metodologia, weber esperava aperfeiçoar o caráter autoconsciente e rigoroso das ciências sociais por que <ideal> ? Inúmeras coisas e pessoas são típicas: observações como <Ele é um investidor típico>, <isto é uma lesão cardíaca típica>, <existe um Picasso típico> referem-se a uma normalidade representativa da experiência”.[9]


[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber
[2] http://www.culturabrasil.pro.br/weber.htm
[3] KALBERG, Stephen. Max Weber: uma introdução, Rio de Janeiro:Zahar, 2010, p. 145
[4] KALBERG, Stephen. op.cit, p. 75
[5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Tipo_ideal
[6] WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento das ciências sociais, Ática, 2006
[7] KALBERG, Stephen. Max Weber: uma introdução, Rio de Janeiro:Zahar, 2010, p. 42
[8] BARBOSA, MAIOR, RAMOS, op.cit., p.74
[9] MacRAE, Donald. As ideias de Weber, São Paulo:Cultrix, 1974, p.70

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