quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Propriedade Imaterial em Platão

Werner Jaeger explica o conceito de Platão sobre a imitação e a essência de uma obra exposto do capítulo 596 da República: “As coisas que os sentidos nos transmitem são reflexos das ideias, isto é, as cadeiras ou as mesas são reflexos ou imitações da ideia de cadeira ou de mesa, que é sempre única. O carpinteiro cria os seus produtos, tendo presente a ideia, como modelo. O que ele produz é a mesa ou cadeira, não a sua ideia. Uma terceira fase da realidade, além das da ideia e da coisa transmitida pelos sentidos, é a que representa o produto da arte pictórica, quando um pintor pinta um objeto [..] O pintor toma como modelo as mesas ou as cadeiras perceptíveis aos sentidos feitas pelo carpinteiro, e imita-as no seu quadro. Tal como alguém que pretendesse criar um segundo mundo, colocando a imagem deste no espelho, assim o pintor se limita a traçar a simples imagem refletida das coisas e da sua realidade aparente. Portanto, encarado como criador de mesas e cadeiras, é inferior ao carpinteiro, que fabrica mesas e cadeiras de verdade. E o carpinteiro é, por seu turno, inferior a quem criou a ideia eterna da mesa ou da cadeira, a qual serve de norma para fabricar todas as mesas e cadeiras do mundo. È Deus o criador último da ideia. O artífice produz só o reflexo da ideia. O pintor é, assim, o criador imitativo dum produto que, à luz da verdade, ocupa o terceiro lugar”. Nesse sentido o conceito inventivo de uma invenção se aproxima ao conceto de “ideia eterna” citada por Platão e por definição propriedade sagrada, da qual o artífice, ou inventor, é mero imitador. [1]



[1] JAEGER, Werner. Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.920

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