quinta-feira, 16 de junho de 2022

A política de patentes da Hitachi

 

A Hitachi é um exemplo de empresa que ao longo do tempo empregou diferentes estratégias de patentes, o que desfaz o mito de que empresas japonesas não tenham se utilizado do sistema de patentes para o desenvolvimento [1].

Dados de 1996 mostram uma receita de US$ 455 milhões em royalties recebidos por suas patentes e um gasto de US$ 91 milhões em licenças pagas a tecnologias licenciadas pela empresa, o que mostra um saldo positivo líquido de US$ 364 milhões ao ano.

Fundada por Namihei Odaira a empresa desde cedo estimulou a geração de tecnologia própria. Após a Segunda Guerra a empresa licenciou tecnologia estrangeira e desenvolveu aperfeiçoamentos incrementais. Em 1970 a Hitachi depositou 20 mil patentes, embora pouca receita adquirisse de tais patentes, apenas US$5 milhões, ao passo que despendia US$ 95 milhões em licenciamentos de tecnologia estrangeira.

A empresa então passou a estimular o licenciamento de suas próprias patentes. Em 1979 a empresa foi processada pela Westinghouse por violação de uma de suas patentes. Embora a patente da Westinghouse tenha sido anulada,a Hitachi percebeu que embora com um bom portfólio em termos numéricos, não possuía nenhuma patente estratégica que pudesse ser utilizada contra a Westinghouse.

Desde então a empresa mudou a estratégia de patenteamento, procurando aumentar a qualidade das patentes depositadas, que pudessem ser um instrumento útil como defesa em caso de futuras contrafações. A estratégia teve êxito. Em 1986 a Texas processou empresas coreanas e japonesas, entre as quais a Hitachi, por violação de patentes de semicondutores DRAM. A Hitachi para se defender processou a Texas alegando que esta também estaria violando suas patentes. A Texas reconheceu os argumentos da Hitachi e as empresas entraram em acordo.

A mesma estratégia defensiva é adotada por outras empresas. A Siemens foi processada pela Medtronic nos Estados Unidos por violação de uma patente que tratava de uma tecnologia de marca-passos, o que forçou a empresa alemã a fechar suas atividades nesta área nos Estados Unidos. Desde então a empresa adota uma estratégia de manter um grande portfolio de patentes, para que no caso de sofrer novo processo de contrafação, possa responder com um contra-processo de violação de uma de suas patentes e, desta forma, chegar a um acordo com a empresa concorrente.


[1]  HISAMITSU, Arai, Intellectual Property Policies for the Twenty-First Century: The Japanese Experience in Wealth Creation. Geneva: WIPO, 1999, p. 34-37 in: IDRIS, Kamil. Intellectual property, a power tool for economic growth. Geneva: WIPO, 2003, p. 64.

 

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