No
século XIX a produção de salitre chileno estava sob exploração de industriais
ingleses como John Thomas North presidente da Liverpool Nitrate Company. Segundo
Alejandro Soto: “os britânicos lançaram
as bases da industrialização do salitre quando introduziram o sistema Shanks.
Este foi introduzido por James Humberstone e seu nome deve-se a John Shanks um
britânico que o utilizou para a refinação do carbonato de sódio em Lancanshire
em 1870. O sistema de Shanks permaneceu como a tecnologia básica para o refino
do salitre até 1925. Seu impacto foi tal que permitiu os chilenos satisfazer a
demanda crescente de salitre no mundo inteiro pelo esço de quase conquenta anos”.[1] Em
1890 uma tentativa de nacionalização das empresas de salitre por parte do
presidente José Balmaceda foi seguida de uma guerra civil em que os rebeldes
foram financiados por North garantindo os suprimentos de salitre necessários
aos ingleses. No início do século XX a liderança técnica alemã na indústria de
produtos químicos foi reforçada pela invenção do processo Haber-Bosch de fixação do nitrogênio, desenvolvido pela
BASF e utilizado na área de fertilizantes, provocando uma revolução na
agricultura.[2] Embora
o nitrogênio seja abundante na atmosfera
ele é relativamente inerte, havendo necessidade de métodos para fixar o
nitrogênio, ou seja, removê-lo da atmosfera comm cobinação química com outros
elementos. Em uma tempestade a descarga elétrica dos raios faz com que certa
quantidade de nitrogênio se combine com uma porção de nitrogênio formando o óxido
nítrico. À medida em que este esfria, forma-se o gás dióxido de nitrogênio que logo se combina com a água da chuva para
formar o ácido nítrico que ao cair no solo faz com que o nitrogênio se fixe no
solo necessário ao crescimento natural das plantas. O processo Haber Bosch buscou
uma alternativa sintética deste processo natural. O nitrogênio ferve a 195C e o
oxigênio a 183C, assim, quando o ar é liquefeito o nitrogênio entra primeiro em
ebulição permanecendo apenas o oxigênio líquido. O processo Haber aproveita
esta característica para separar os dois gases e assim obter-se o nitrogênio.
Extrai hidrogênio da água por eletrólise e combina-se com hidrogênio em ambiente
de alta pressão a 500C para se formar amônia. Depois combina-se a amônia
produzida com oxigênio para se formar óxido nítrico. Em seguida o óxido nítrico
se combina com mais oxigênio para formar dióxido de nitrogênio que misturado
com água forma o ácido nítrico usado na indústria bélica.[3]
Grande parte do trabalho de Fritz Harber, cujo objetivo era produção de amônia para aindústria de
fertizantes, foi encontrar um catalisador para aumentar a taxa desta reação que
era relativamente lenta.
Em 1913
a primeira fábrica de amônia sintética foi instalada na Alemanha usando o
processo Haber. Em reação com o oxigênio,a
amônia formava o dióxido de nitrogênio, precurso do ácido nítrico usado
em explosivos e armamentos. O aperfeiçoamento do processo para produzir
nitratos fixando nitrogênio do ar, levou a economia chilena à crise, pois o
país obtinha até as vésperas da Primeira Guerra Mundial dois terços de suas
receitas de exportação com a venda de salitre, que deixou de ter interesse no
comércio mundial.[4] O bloqueio dos britânicos cortando o fornecimento de
salitre do Chile para a Alemanha tornara-se desta forma inócuo para a Alemanha.
A indústria chilena tentou compensar essa perda pela criação de um cartel, a
Associación de Productores de Salitre de Chile, porém, sem sucesso.[5] Um
informe da Liga das Nações de 1933 assinala que o Chile foi um dos países mais
afetados pela crise provocada pela grande depressão de 1929.[6] O
Reich alemão, desprovido das importações de salitre do Chile, tinha grande
necessidade de nitratos, indispensáveis para a fabricação de pólvora. [7] Com
o processo foi possível a Alemanha continuar a produção de explosivos mesmo
depois do corte de seus suprimentos de nitrato de sódio do Chile, prolongando a
Primeira Guerra Mundial.[8] Muitos
historiadores acreditam que a Alemanha teria esgotado todas suas fontes de
nitrato já no início do ano de 1916 se não fosse pelo grande avanço
proporcionado pelo processo Haber-Bosch que possibilitou aos alemães manter a
produção de amônia e pelo processo Ostwald
converter a amônia em ácido nítrico e nitratos. Com esses dois
processos, os Alemães conseguiram produzir fertilizantes e explosivos sem
necessitar de fontes estrangeiras de compostos nitrogenados.[9]
O processo
envolvia alta pressão e altas temperaturas, assim como o emprego de um catalisador
para produzir amônia, elemento crítico do processo e cuidadosamente omitido
pela BASF em todas as suas patentes. Durante a Primeira Guerra Mundial, mesmo
com a expropriação governamental das patentes da BASF nos EUA, os peritos norte americanos não foram capazes de replicar
o processo Haber-Bosch para a fixação de nitrogênio[10]
devido a falta de conhecimento e habilidade para a construção de equipamentos
de alta pressão necessários para o processo ser suportado, e a falta de
conhecimento dos catalisadores requisitados. As patentes Alemães omitiam vários
detalhes técnicos vitais, particularmente aqueles associados à preparação dos
catalisadores. As patentes básicas deste processo expiraram em 1927 e ainda
depois da primeira guerra pouca informação deste processo estava disponível
fora da Alemanha.[11] Por
não ser possível sua replicação a partir dos conhecimentos do estado da técnica
e do conteúdo revelado no relatório descritivo, tais patentes seriam consideradas
nulas pela legislação brasileira atual. Em 1918 Fritz Harber ganhou o Nobel de
Química pelo desenvolvimento do processo
da síntese da amônia, sob protestos de cientistas que denunciavam a
participação de Fritz Haber no uso de gases tóxicos por parte da Alemanha na
Primeira Guerra como um uso de cilindros de gas cloro em abril de 1915 numa
linha de frente de cinco quilômetros perto de Ypres na Bélgica e que levou a
morte de cinco mil homens. [12]
[1]
INAPI, Historia gráfica de la propriedad industrial em Chile, 2015, p.53
[2] Eureka: 100 grandes descobertas científicas do século XX.
Rupert Lee. Rio de Janeiro:Editora Nova Fronteira, 2006, p. 186
[3]
STOKLEY, James. A ciência reconstrói o mundo, Rio de Janeiro:Ed. Globo,1951,
p.12
[4]
As veias abertas da América Latina, Eduardo Galeano, Paz e Terra; Rio de
Janeiro, 1990, p. 156
[5]
LEWINSOHN, Richard. Trustes e cartéis: suas origens e influências na economia
mundial. Rio de Janeiro:Liv. Globo, 1945. p.229
[6]
INAPI, Historia gráfica de la propriedad industrial em Chile, 2015, p.88
[7]
LEWINSOHN, Richard. Trustes e cartéis: suas origens e influências na economia
mundial. Rio de Janeiro:Liv. Globo, 1945. p.64
[8]
CHALLONER, Jack. 1001 invenções que mudaram o mundo. Rio de Janeiro:Ed.
Sextante, 2010, p. 520
[9]
http://www.saberatualizado.com.br/2015/07/nitrogenio-bom-e-mal.html
[10] Trajetórias da inovação:
a mudança tecnológica nos Estados Unidos da América no século XX, David Mowery,
Nathan Rosenberg, 2005, São Paulo:Ed.Unicamp, p.92
[11]
Carteles Internacionales, Ervin Hexner, México:Fondo de Cultura, 1950, p. 380
[12] COUTEUR, Penny le; BURRESON,
Jay. Os botões de Napoleão: as 17 moléculas que mudaram a
história. Rio de Janeiro:Zahar, 2006, p.96
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