quarta-feira, 26 de outubro de 2016

File wrapper na Inglaterra


Na Inglaterra a doutrina de file wrapper stoppel foi aplicada em Furr v. Truline[1] em que uma restrição do significado de um termo da reivindicação foi adotado pelo depositante como forma de escapar à uma anterioridade e ter a patente concedida, de tal modo que na análise de contrafação, o  titular não pode pleitear a ampliação do significado do mesmo termo para aumentar o escopo de sua patente. Em Kirin Amgen v. Hoesct [2005] RPC 9 a Câmara de Lordes afastou a aplicação da doutrina file wrapper estoppel e a doutrina de equivalentes. Segundo a Corte a desvantagem desta doutrina está em se definir o escopo de proteção de uma patente com base em informações que não diretamente acessíveis e pelo fato de que o titular pode emitir opiniões no processamento somente para se livrar das objeções contra a patenteabilidade de seu pedido sem maiores polemizações com o examinador como forma de ter mais rápida sua patente deixando para o tribunal as defunições exatas do contorno de sua patente: “As cortes da Inglaterra, Holanda e Alemanha, certamente desencorajam, se ela de fato não proíbem o uso do escritório de patentes como auxílio para interpretar uma reivindicação. Há boas razões para isso: o significado de uma patente não deveria veriar pelo fato do técnico no assunto ter tido acesso aos arquivos”. Em Qualcommm v. Nokia [2008] EWHC 329 a Corte entendeu como contraprodutivo o uso de tal informação.

No entanto em Actavis v. Elli Lilly [2014] EWHC 1511 aplicou a doutrina de equivalentes em Improver. A Corte observou que o uso da doutrina de equivalentes tem sido adotado pelos titulares em três casos: i) a patente foi mal redigida (como em Improver), ii) a tecnologia avançou muito desde a concessão da patente (como em Kirin Amgen) e iii) o titular se aarrepende de uma decisão tomada quando do processamento de seu pedido no escritório de patentes. A corte considera a patente de Eli Lilly como incidindo neste terceiro caso, pois ela tentou uma reivindicação mais ampla, no entanto acabou desistindo da tentativa e acabou aceitando a forma mais estreita de reivindicação. Anos depois ao utilizar sua patente em um caso de contrafação a Eli Lilly buscou aquele escopo mais amplo que havia sido negado na concessão da patente. A corte negou esta nova tentativa da titular alegando que ao permitir anular o entendimento do examinador na extensão da patente criaria um desequilíbrio entre a extensão do monopólio concedido pelo escritório de patentes e a revelação proporcionada pelo documento de patente. A Corte considerou que o recurso ao file wrapper stoppel neste caso seria justificado para não se ampliar o escopo da patente tal como concedida: “considerações sobre o acesso aos arquivos podem ajudar a garantir que os titulares não abusem do sistema ao aceitar uma reivindicação mais restrita apaneas para ter suas patentes concedidas para depois pleitear uma interpretação mais ampla em casos de contrafação[2]. A decisão aplica a doutrina de equivalentes tal como definida no protocolo 69, um recurso que até então vinha sendo pouco utilizado pelas Cortes inglesas.[3]

Em Actavis v Eli Lilly (2015, EWCA Civ 555) a Corte de Apelações[4] conclui que o file wrapper deve a ser usada na interpretação das reivindicações apenas em casos muito raros. A patente trata de medicamento para tratamento de um tipo de câncer com base no princípio ativo pemetrexede dissódico (um antifolato) em combinação com vitamina V12 e opcionalmente com um agente aglutinante proteína fólica. O pedido inicialmente reivindicava de forma genérica um antifolato, e depois foi emendado para forma mais restritiva pemetrexede. O examinador considerou tal emenda como acréscimo de matéria pois o depósito referia-se a pemetrexede dissódico. Deste modo a depositante Eli Lilly apresentou nova emenda reivindicando pemetrexede dissódico. A Actavis fabricou medicamento baseado em pemetrexede diácido, pemetrexede dipotássio ou pemetrexede dimetamina, alegando que como não usava pemetrexede dissódico não haveria contrafação. O juiz considerou que recorrer as declarações feitas durante o processamento seria improdutivo e provocaria incertezas nos concorrentes que não teriam acesso a tal documento ou que a patente concedida de tal forma seria resultado de uma preferência do titular em ter uma patente mais rápido do que uma intenção e reconhecimento deliberado que sua patente não abrangeria determinado escopo, seguindo Qualcomm v Nokia (2008, EWHC 329 (Pat)) e Kirin- Amgen v Hoescht Marion Roussel (2005, RPC 9).  Para a Actavis este é um caso em que o file wrapper deveria ser considerado, pois a Eli Lilly ao pleitear agora um escopo para composição pemetrexed em geral configura um titular arrependido que restringira o escopo da patente apenas para vê-la concedida. A Corte, contudo, manteve a decisão de não usar as informações do file wrapper, pois dificilmente o técnico no assunto recorreria a ele para avaliar o escopo da patente. A Corte conclui, portanto, que o escopo da patente limita-se ao pemetrexede dissódico e desta forma o medicamento genérico da Actavis não comete contrafação direta, no entanto, quando as formulações são misturadas com solução salina antes de ser administrada ao paciente são formados íons sódio suficientes para dizer que o pemetrexede dissódico esteja presente e desta forma foi concluído que há contrafação indireta. [5]



[1] [1985] FSR 553. Cf. CORNISH, William, LLEWELYN, David. Intellectual property: patents, copyright, trademarks and allied rights. London: Sweet&Maxwell, 2007. p. 174
[3] COX, Ralph; SPPINK, Simon. UK claim construction: returno f the portocol questions and file wrapper estoppel. Journal of Intellectual property law & practice, 2015, v.10, n.3, p.167-169
[5] COX, Ralph. File wrappers and declarations clarified, 10/11/2015  www.lexology.com

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