A
Xerox desenvolveu o primeiro computador pessoal, o Alto em 1973, uma referência
a seu laboratório Palo Alto Research Center, dois anos antes que Paul Allen
lançasse o Altair. O modelo previa inclusive um precursor dos protocolos IP da
internet, o PARC Universal Packet que
permitia diferentes redes de computação por pacotes se interconectarem. A Xerox
contudo não comercializou o Alto como produto para o consumidor, pois segundo
um chefe do centro de pesquisas da empresa em Nova Iorque: “o computador jamais será tão importante para
a sociedade quanto uma máquina copiadora”. Segundo Bob Taylor, na época os
homens achavam que saber datilografar estaria abaixo da dignidade masculina, o
que frustrava as perspectivas comerciais do computador pessoal: “Era coisa que secretárias faziam. Por isso
não levaram o Alto a sério, achando que só agradaria à mulheres. Para mim foi a
revelação de que a Xerox jamais chegaria ao computador pessoal”.[1]
O
paradigma gráfico de acionar programas com uso de ícones, desenvolvido pela
Xerox, foi aproveitado por Steve Jobs nos computadores Lisa e Macintosh[2]. A
Xerox PARC desenvolver a tecnologia de bitmapping
que permitia o controle de cada pixel
projetado na tela do computador, ao invés do processo usual de geração de
padrões de letras e números usados, por exemplo, no Apple II. A Xerox,
portanto, desenvolveu a interface e em 1979 demonstrou suas idéias a um grupo
de engenheiros de uma pequena empresa, a Apple de Steve Jobs, que vinham
trabalhando em um conceito parecido com o computador Lisa.[3] Steve
Jobs em sua visita declarou: “Não posso
acreditar que a Xerox não esteja tirando proveito disso”. Após a visita
Steve Jobs concluiria: “Eles estavam com
a cabeça em copiadoras e não tinham a mínima ideia do que um computador poderia
fazer [...] Eles simplesmente transformaram em derrota a maior vitória da
indústria de computadores”. O Macintosh viria a ser lançado em 1984.[4]
O
designer Charles Simonyi da Xerox PARC foi contratado pela Microsoft para
participar do desenvolvimento do Windows[5]. Walter
Isaacson em sua biografia de Steve Jobs relata diálogo com Bill Gates, em que
este ao se defender da acusação de estar copiando softwares da Apple relembra o
caso Xerox: “Bem, Steve, penso que existe
mais de uma maneira de ver a coisa. Penso que é assim: nós dois tínhamos esse
vizinho rico chamado Xerox, invadi a casa dele para roubar o aparelho de tevê e
descobri que você já tinha roubado”. O próprio Steve Jobs alimentou a tese
de que de fato roubara a Xerox: “É melhor
ser pirata do que entrar na Marinha”, ou então “Picasso tinha um ditado que afirmava: ‘Artistas bons copiam, grandes
artistas roubam’. E nós nunca sentimos vergonha de roubar grandes ideias”.
Em 1985, o então presidente da Apple John Sculley havia estabelecido um acordo
com a Microsoft pelo qual licenciou para a Microsoft o direito de usar uma
parte do visual gráfico da Apple no Windows 1.0 em troca da empresa continuar
escrevendo o Excel para rodarem em Macintosh com exclusividade. Os problemas
judiciais começaram quando a Microsoft aplicou tais recursos no Windows 2.0,
que segundo a Apple não estava previsto no contrato. A Microsoft, que
desenvolvia aplicativos para a Apple assinara um acordo em que se comprometia a
desenvolver qualquer aplicativo que utilizasse interfaces de apontar e clicar
até 1983. O Macintosh viria a ser lançado apenas em 1984. O Microsoft Windows
1.0 viria ao mercado em 1985. [6]
Três
aspectos devem ser considerados neste episódio. Em primeiro lugar a Apple pagou
pela tecnologia, embora por um preço pequeno se comparado com enorme sucesso
que viria a ter o Macintosh. A Xerox investiu um milhão de dólares da Apple,
quando de sua abertura de capital em troca da tecnologia da Xerox PARC. Em
segundo lugar projetistas da Xerox como Bob Belleville e Larry Tesler foram
contratados pela Apple. Em terceiro lugar o conceito de interface gráfica
com tela de bitmap, janelas e conceito de desktop da Xerox não foi simplesmente
copiado pela Apple mas significativamente desenvolvido tornando-o um conceito
aplicável. O computador Xerox Star lançado pela empresa em 1981 foi considerado
um fracasso. Com a Apple as janelas possuíam superposição de modo que pudessem
se superpor uma sobre as outras, a rolagem das mesmas tornou-se muito mais
suave com aperfeiçoamentos no mouse, o conceito de ícones e tipos de fontes foi
enormemente ampliado além de terem introduzido conceitos novos como a capacidade
de abrir arquivos e pastas com um clique duplo. [7] Com a Apple o mouse passou a ter um
único botão e passou a ter o poder de arrastar documentos e pastas, assim como
foram criados os menus suspensos.[8]
[1] ISAACSON, Walter. Os
inovadores: uma biografia da revolução digital, São Paulo: Cia das Letras,
2014, p. 309
[2] Computer wars: how
the west can win in a post-IBM world, Charles Fergunson, Charles Morris, New
York:Times Books, 1993, p.136
[3] ISAACSON, Walter. Os
inovadores: uma biografia da revolução digital, São Paulo: Cia das Letras,
2014, p. 377
[5] Computer wars: how
the west can win in a post-IBM world, Charles Fergunson, Charles Morris, New
York:Times Books, 1993, p.142
[6] ISAACSON, Walter. Os
inovadores: uma biografia da revolução digital, São Paulo: Cia das Letras,
2014, p. 381
[7] ISAACSON, Walter. Steve Jobs. Rio de Janeiro:Ed.Companhia
das Letras, 2011, p. 113-119, 196, 340
[8] ISAACSON, Walter. Os
inovadores: uma biografia da revolução digital, São Paulo: Cia das Letras,
2014, p. 379