terça-feira, 28 de julho de 2015

Patente de software na Índia

Em razão do Ayyangar Committee on Patent Law estabelecido em 1959 apontar que a maior parte das patentes concedidas no país tinham como origem empresas não residentes, a Índia adotou uma postura defensiva de patenteamento com o Patent Act de 1970. O Patents Act, 1970 foi emendado em 2002 de modo a excluir na seção 3(k) como matéria patenteável métodos matemáticos, métodos financeiros, programas de computador per se e algoritmos[1]. O Manual de Exame indiano por sua vez interpreta esta norma de forma flexível com possibilidade de concessão de patentes caso demonstrado a presença de efeito técnico.[2] O escritório de patentes indiano está disperso em quatro cidades: Kolkata, Nova Delhi, Mumbai e Chennai[3] que não adotam estas diretrizes de maneira uniforme. Uma tentativa de reforma legislativa em 2004 no sentido de expandir os escopo de tais invenções, retirando a exclusão a programas de computador per se, foi rejeitada pelo parlamento Indiano.[4]
Dipak Rao e Siva Gopinatham [5] observam que a Seção 3(k) do Patent Act não considera como invenção métodos financeiros ou matemáticos ou programas de computador per se. Esta restrição foi acrescentada em 2002 antes da qual a legislação não fazia referência a esta restrição contra programas de computadores.[6] Embora uma primeira leitura possa levar a conclusão que a Índia não concede patentes nesta área, este não é o caso. A lei indiana não insere a cláusula per se no item referente a métodos matemáticos de modo que os mesmos são excluídos assim como os algoritmos. Os autores entendem que a prática adotada na Índia se aproxima dos critérios europeus de modo que se o software produz um efeito técnico ou mecânico ou se está associado com um sistema mecânico de modo a produzir um resultado funcional ou técnico então a invenção como um todo pode ser considerada patenteável. Esta interpretação da lei indiana é confirmada por Praveen Raj ex-examinador no escritório indiano de patentes que também lista como possibilidades de patenteamento quando o software apresenta uma aplicação técnica ou quando o software combinado com o hardware, em sistemas embarcados, empregam uma aplicação técnica.[7] Em entrevista a gestores do escritório indiano de patentes Janice Mueller reporta que como reflexo da posição européia no caso de software embarcado em um hardware o escritório tende a conceder a patente demonstrada a presença de efeitos técnicos. Em 2004-2005 uma proposta do governo emendava a lei para permitir de forma explícita a patenteabilidade de criptografia por software usada em discos ópticos e outros hardwares, no entanto, a mesma foi rejeitada.
Yougesh Pai mostra que mesmo após a derrota legislativa em 2005 de se ampliar as possibilidades de patenteamento o escritório de patentes sugere interpretações contrárias às intenções do legislativo em seus manuais de exame ao expandir as possibilidades de patenteamento. Para Yougesh Pai um programa de computador é apenas uma forma de expressão de um algoritmo e desta forma não é diferente de outro algoritmo, exceto por sua forma de expressão. Em outras palavras um programa de computador revela um processo de implementação de um algoritmo. A seção 3k da lei de patentes da Índia de 1970 não considerava como invenção um método matemático ou financeiro ou um programa de computador ou algoritmos. A emenda de 2002 foi uma tentativa de se eliminar a ambiguidade do texto legal, sinalizando de forma inequívoca que invenções implementadas por programa de computador poderiam ser patenteadas. Esta emenda viria buscar uma coerência com o artigo 27 que previa patentes para todos os setores tecnológicos. O guia de exame de 2001 define que o programa de computador como conjunto de instruções para controle de uma sequência de operações de um sistema de dados constitui um método matemático. Se a implementação de um novo programa exige modificações internas no computador de tal natureza que este possa ser razoavelmente considerado como um novo computador a reivindicação não será excluída. Tal modificação deve contudo ser considerada inventiva.
Uma implementação em hardware de uma nova função será excluída somente se este sistema de hardware for conhecido ou óbvio independente da função sendo executada. Uma invenção que consista de um hardware em conjunto com um software de modo a executar a função no hardware pode ser patenteada. Para Yougesh Pai este este critério do guia de exame é confuso pois não há qualquer diferença entre sistemas embarcados e outros tipos de hardware. A proposta de modificação da lei em 2004 previa que as exclusões se limitariam ao programa de computador per se, exceto as suas aplicações técnicas na indústria ou em combinação com um hardware; métodos matemáticos ou métodos financeiros e algoritmos. Para Yougesh Pai a proposta abria a possibilidade de patenteabilidade de todos os tipos de software. A proposta foi rejeitada pelo Parlamento em 2005. Apesar disso, Yougesh Pai aponta que o escritório de patentes indiano já concedeu mais de 150 patentes de software a empresas em sua grande maioria multinacionais. No guia de exame de 2005 um processo executado sob controle de um programa não pode ser considerado como programa de computador as such, abrindo possibilidade para seu patenteamento, o que segundo Yougesh Pai não segue o entendimento legal. Pelo guia de exame a solução de um problema técnico por meio de um processo implementado por software torna a invenção patenteável. Para Yougesh Pai a prática de exame da Índia se harmoniza com as decisões do Federal Circuit norte americanas em Alappat e da Câmara de Recursos da EPO em Vicom.[8]




[1] ANIRUDH, K; ANJANAKSHI, V. Software Patents: An Indian Perspective, Law and Technology (LawTech 2006) https://www.actapress.com/PaperInfo.aspx?PaperID=28622&reason=500
[2] Technical applicability of the software claimed as a process or method claim, is required to be defined in relation with the particular hardware components. Thus, the “software per se” is differentiated from the software having its technical application in the industry. A claim directed to a technical process which process is carried out under the control of a programme (whether by means of hardware or software), cannot be regarded as relating to a computer programme as such. For example, “a method for processing seismic data, comprising the steps of collecting the time varying seismic detector output signals for a plurality of seismic sensors placed in a cable.” Here the signals are collected from a definite recited structure and hence allowable. Draft Manual of Patent Practice and Procedure the Patent Office, India, item 4.11.6
[3] http://www.patentoffice.nic.in/
[4] PAI, Yogesh Anand. Patent Protection for Computer Programs in India: Need for a Coherent Approach, The Journal of World Intellectual Property, v. 10, Issue 5, p.315-364, September 2007
[5] RAO, Dipak; GOPINATHAM, Siva. Argument rages on over software patents, 1 setembro 2009 http://www.managingip.com/Article/2282202/Argument-rages-on-over-software-patents.html
[6] MUELLER, Janice. The Tiger Awakens: The Tumultuous Transformation of India’s Patent System and the Rise of Indian Pharmaceutical Innovation, University of Pittsburgh Law Review, Vol. 68, No. 3, 2007 http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=923538
[7] http://www.thehindubusinessline.com/todays-paper/tp-economy/article1658946.ece?ref=archive
[8] PAI, Yougesh. Patent Protection for Computer Programs in India: Need for a Coherent Approach, South Centre, The Journal of World Intellectual Property, 2007, v.10, n. 5, p. 315–364

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