domingo, 7 de junho de 2015

Cientistas e patentes

Há vários exemplos de cientistas que solicitaram patentes, o que desfaz o mito mertoniano do cientista desinteressado dos ganhos econômicos de seu trabalho. Louis Pasteur solicitou patentes para o processo de fabricação de cerveja US135245 depositada em agosto de 1871 e em março de 1873. Segundo depoimento do próprio Pasteur a patente seria uma alternativa para se divulgar seu trabalho científico garantindo a prioridade de sua trabalho. Para Pasteur, ao abandonar sua patente mais tarde, para não ver frustrado o domínio público de suas descobertas[1], o cientista poderia garantir que seu trabalho científico não viesse a ser privatizado por algum industrial, muito embora a atitude de Pasteur com as patentes tenha em outros momentos se mostrado mais complexa.[2] Lord Kelvin solicitou cerca de 70 patentes para entre os quais galvanômetros e equipamentos de telegrafia [3]. Os royalties pagos pelas empresas telegráficas eram consideráveis, além de tornar-se sócio de uma empresa de navegação marinha [4]. Em 1675 uma disputa entre o cientista holandês Christian Huygens e Robert Hooke envolveu os direitos sobre o uso de uma mola espiral (cabelo) e balancim em um relógio, para garantir medidas mais precisas. O litígio foi decidido por membros da Royal Society de Londres [5]. O químico alemão Walter Nernst considerado por Einstein como de “espírito  científico verdadeiramente espantoso” desenvolveu uma lâmpada que substituiu o convencional filamento de carbono.[6] A lâmpada de Nerst era formada  por uma mistura de óxidos de zircônio e metais de terras raras que só conduzia quando pré aquecido e podia funcionar na atmosfera sem proteções especiais. O p´re aquecimento contudo impedida o rápido aquecimento, além de ter alto custo de produção, o que resultou em dificuldade para sua utilização em iluminação em larga escala. A patente foi vendida a  George Westinghouse que fundou a   Nernst Lamp Company em Pittsburgh em 1901. Na feira mundial de 1900 cerca de 800 lâmpada de Nernst foram utilizadas para iluminar o pavilhão da empresa alemã AEG. [7]

Em 1927 o então já famoso Albert Einstein e o estudante matemático húngaro Leo Szilard [8] solicitaram patente (US1781541) de um sistema de refrigeração para uma geladeira, transferida para a empresa sueca Electrolux por US$750. O refrigerado era portátil, sem partes móveis e utilizava amônia como fluido para equalização da pressão, butano como refrigerante e água como fluido de absorção. O produto contudo não teve aplicação no comércio pelos riscos de vazamento de amônia e pela utilização de gás freon (CFC) nos anos 30. A tecnologia desenvolvida por Einstein viria a ter aplicação anos mais tarde na refrigeração de reatores nucleares. [9]Uma nova patente desenvolvida junto com Szilard tratava de uma bomba eletromagnética (GB303065) [10]. Em 1907, junto com Paul Habicht Einstein solicitou patente para um amplificador de correntes elétricas muito baixas. Em 1922 desenvolveu para uma firma de engenharia um novo desenho de um giroscópio de navegação, conseguindo uma patente pelo qual recebera 20 mil marcos em dinheiro. Em conjunto com Gustav Bucky desenvolveu e patenteou (US2058562) um aparelho para controlar o diafragma fotográfico, que utiliza o efeito fotoelétrico [11]. Em 1934 junto com Rudolf Goldschmidt solicitou uma patente para um aparelho de reprodução de som (DE590783). Contribui para esta importância de Einstein sobre o papel das patentes o fato de seu tio Jakob Einstein que abrira uma firma fornecedora de eletricidade no sul da Alemanha ter solicitado algumas patentes para lâmpadas de arco voltaico, interruptores automáticos de circuito e medidores de eletricidade. O próprio Einstein trabalhou no escritório suíço de patentes por alguns anos. Einstein acreditava haver: “uma ligação inegável entre o conhecimento adquirido no escritório de patentes e os resultados teóricos”.
lâmpada de Nernst [12]




[1] POUILLET, Eugène. Traité Theorique et Pratique des Brevets d'Invention et de la Contrefaçon. Marchal et Bilard:Paris, 1899, p.400
[2] BEHAR,op.cit.p.80-97
[3] HELLMAN, Hal. Grandes debates da ciência: dez maiores contendas de todos os tempos, São Paulo: Ed. UNESP, 1999, p. 141; MOKYR, Joel. The European enlightment and the origin of modern economic growth. In: HORN, Jeff; ROSENBAND, Leonard; SMITH, Merritt Roe. Reconceptualizing the Industrial Revolution, London:MT Press, 2010, p.70
[4] TRAINER, Matthew. The patents of William Thomson (Lord Kelvin). World patent information, v.26, n.4, 2004, p. 311-317.
[5] Os cientistas, Capítulo 8: Robert Hooke, Abril Cultural, São Paulo, 1972, p. 141, 1972.
[6] Os Cientistas, São Paulo: Abril Cultural, 1972, v.3, p. 620
[7] http://en.wikipedia.org/wiki/Nernst_lamp
[8] DANNEN, Gene. Leo Szilard the inventor; a slideshow. Budapest: Hungary http: //www.dannen.com/budatalk.html.
[9] GUELLEC, Dominique; POTTERIE, Bruno van Pottelsberghe de la. The economics of the european patent system. Great Britain:Oxford University Press, 2007, p.86
[10] TRAINER, Matthew. Albert Einstein’s patents. World Patent Information, v.28, 2006, p. 160.
[11] ISAACSON, Walter. Einstein, sua vida, seu universo, São Paulo: Cia. Das Letras, 2007, p. 42, 93, 96, 97, 143, 160, 317, 445, 481.
[12] http://en.wikipedia.org/wiki/Nernst_lamp

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