sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A inovação e o resídio de Solow

Economistas como Marx, Schumpeter e Solow apontaram o papel das inovações tecnológicas no desenvolvimento econômico dos países. Para Marx, a história humana é o resultado da interação dialética entre as forças e as relações de produção, a luta de classes. É através das inovações tecnológicas que os capitalistas estão constantemente revolucionando os meios de produção e se apropriando do excedente produtivo que eles expropriam dos trabalhadores.

Schumpeter escrevendo nos anos 1920 e 1930, em uma época em que o capitalismo apresentava sinais claros de enfraquecimento face às recessões mundiais e guerras, retoma uma filiação teórica às concepções marxistas do progresso técnico tentando explicar as crises cíclicas do capitalismo colocando a inovação tecnológica como elemento central da dinâmica capitalista. As inovações são, portanto, elementos decisivos na história econômica para o sistema capitalista [1]. Para Schumpeter uma economia dinâmica não é a que se encontra em equilíbrio, mas a que sofre rupturas provocadas por inovações tecnológicas [2].

Mesmo economistas neoclássicos já reconhecem o papel central da inovação tecnológica no desenvolvimento econômico. Robert Solow em 1957, em estudo com o qual obteve o Prêmio Nobel, reconheceu um papel central do progresso técnico no desenvolvimento econômico norte-americano, ao mostrar que o crescimento do PNB per capita tem dependido muito mais do aumento da produtividade dos recursos do que do uso de mais recursos [3]. No modelo de Solow há uma função de produção econômica em que o produto é uma função da quantidade de capital físico e trabalho humano. Solow descobriu que 90% da variação da produção econômica não poderiam ser explicados nm pelo capital nem pelo trabalho, mas do que ele chamou de “mudança técnica”[4]. Para Solow[5] este incremento não poderia ser explicado pelo aumento de população, nem tampouco pelo crescimento do capital.[6]

Tomando o período de 1909 a 1949 Solow estima que o crescimento econômico observado nos Estados Unidos pode ser atribuído com relação a fatores como capital (21%), trabalho (24%) e progresso técnico (51%). Denison tomando um período mais recente (1929 a 1982) atinge índices próximos, respectivamente 19%, 26% e 46%. [7] Essa diferença entre o crescimento real do produto e o crescimento do produto que teria ocorrido levando-se em conta apenas os aumentos de recursos, ficou conhecido como “resíduo de Solow”, atribuível, portanto, em grande parte à inovação tecnológica [8] ou conhecimento útil embora não apenas a tecnologia patenteada. No modelo de Solow o crescimento econômico depende da taxa de crescimento do capital, do trabalho e das inovações tecnológicas. Paul Romer demonstra que o conhecimento útil, o maior componente no resíduo de Solow e, portanto, o componente mais importante para o aumento da riqueza nacional, por ser um bem não rival não se acumula por si mesmo, mas como resultado das decisões tomadas pelos indivíduos que buscam alguma vantagem econômica.[9]

A partir dos anos 1980, os economistas neo schumpeterianos, entre os quais Freeman, Perez, Nelson, Winter, Dosi, entre outros, trouxeram novamente o papel das inovações tecnológicas como elemento central para entendimento da dinâmica capitalista. No entanto, ao contrário de Solow que enfatiza predominantemente o papel dos gastos da economia produtiva em P&D, os economistas evolucionistas trabalham com o conceito de um sistema nacional de inovação, uma abordagem mais amplas de fatores que impactam na inovação. Segundo Paulo Tigre [10]: “do ponto de vista empresarial, as empresas mais dinâmicas e rentáveis do mundo são justamente aquelas mais inovadoras, que, em vez de competir em mercados saturados pela concorrência, criam seus próprios nichos e usufruem de monopólios temporários por meio de patentes e segredo industrial”.



Robert Solow [11]



[1] SZMRECSÁNYI,Tamás . A herança schumpeteriana in. Economia da inovação tecnológica, PELAEZ, Victor; SZMRECSÁNYI,Tamás, São Paulo: Hucitec, 2006, p. 131.
[2] IDRIS, Kamil. Intellectual property, a power tool for economic growth. Geneva: WIPO, 2003, p. 26.
[3] ROSEMBERG.op. cit.49.
[4] MAZZUCATO, Mariana. O estado empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. setor privado, São Paulo:Portfolio Penguin, 2014, p.64
[5] WARSH, David. Knowledge and weath of nations: a story o economic Discovery, New York:W.W.Norton, 2006
[6] ROSEN, William. The most powerful idea in the world: a story of steam, industry and invention. Randon House, 2010, p. 4359/6539 (kindle edition)
[7] cf. JARBOE, Kenan; ATKINSON, Robert. Progressive Policy Institute, Briefing, June 1, 1998, The Case for Technology in the Knowledge Economy R&D, Economic Growth, and the Role of Government http://www.dlc.org/print085b.html?contentid=1502
[8] IDRIS.op. cit. p. 27.
[9] ROSEN, William. The most powerful idea in the world: a story of steam, industry and invention. Randon House, 2010, p. 4434/6539 (kindle edition)
[10] TIGRE, Paulo Bastos. Gestão da Inovação: a economia da inovação no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2006, p. vii.
[11] http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Solow

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