Estudos sobre evolução
humana mostram que flutuações climáticas drásticas agiram em conjunto com a
cultura material para acelerar o ritmo evolutivo de nossos antepassados. Ferramentas
e outras tecnologias permitiram ao hominídio primitivo viver em novos ambientes,
possibilitando a fragmentação das populações e com isso uma especiação que levou
a uma evolução mais acelerada do que ocorreria se em grupos maiores.[1]
A especiação se inicia quando uma subpopulação de uma espécie se isola
geograficamente, altera o seu nicho ecológico ou o seu comportamento, de
maneira que fique isolada reprodutivamente do restante da população daquela
espécie. Esta subpopulação, ao se isolar e sofrer mutações cumulativas que
alteram, com o passar do tempo, o seu genótipo e, consequentemente, sua relação
com o meio, ou seja, a expressão fenotípica desta, se transformando em uma nova
especie[2].
Cientistas encontraram
ferramentas primitivas de pedra na África que remonta 2,6 milhões de anos e eram
pouco mais que seixos lascados como aqueles recuperados em Olduvai Gorge. Elas
pertenciam a uma cultura hoje conhecida como Olduvaiense, na Garganta de
Olduvai, na Tanzânia; entretanto, sítios na Etiópia mais tarde provaram que as
peças eram mais antigas. As ferramentas eram formadas batendo peças de
pedregulhos do rio, ou pedras parecidas, com um martelo de pedra para obter
pedaços grandes e pequenos com uma ou mais pontas afiadas.[3]
A pedra original é chamada de núcleo; as peças resultantes, de lascas. Mesmo
atualmente e treinamento intensivo, primatas modernos são incapazes de
entender como bater um bloco de pedra contra outro para soltar lascas como
fizeram estes hominídios primitivos do nosso gênero Homo. Isto levou a mudança
de dieta e consequentemente garantiu uma rápida expansão do cérebro ávido por
mais energia.
Desta forma o que levou o homem ao caminho da
inovação, segundo esta teoria, não foi uma evolução tecnológica crescente, uma
vez que os achados arqueológicos sugerem inovações surgidas esporadicamente, com
intervalos de centenas de milhares de anos sem qualquer aperfeiçoamento
significativo na tecnologia. Segundo Ian Tattersall o ritmo das inovações era
decorrente de uma sequência de eventos externos aleatórios vinculados as
mudanças climáticas inteiramente desvinculados das qualidades específicas de
nossos ancestrais. Para Frans de Waal[4]
a aptidão cooperativa exclusiva dos Homo
Sapiens (cerca de 200 mil a.c.) permitiu
a espécie se tornar dominante na Terra e o avanço da tecnologia. Michael
Tomasello mostra que ao contrário dos
primatas modernos os humanos tem como traço característico o chamado “efeito de aperfeiçoamento de engrenagens”,
ou seja, os humanos modificam suas ferramentas para melhorá-las e depois passam
esse conhecimento a descendente, que fazem os próprios ajustes e as melhorias
evoluem. Um chipanzé, por sua vez pode imitar outro ao usar um graveto
para caçar formigas em um formigueiro mas será incapaz de usar a mesma técnica
para caçar insetos, por exemplo, ou de fazer qualquer ajuste para construir um apanhador
de formigas novo e melhor.[5]
Nuno
Carvalho observa que a invenção não pode ser caracterizada apenas por se
constituir a solução de um problema técnico. É importante se destacar o fato de
ser resultado da intervenção humana na natureza: “pois a natureza também realiza seus próprios avanços técnicos – são
estes que fazem a evolução das espécies. A natureza, em sentido amplo, também
cria, ao gerar mutações em reação ao meio hostil e ao selecionar aquelas que
são mais eficientes”. Nuno Carvalho cita como exemplo os fios de teias de
aranhas que muito se aproximam dos têxteis sintéticos produzidos pelo homem. [6] Uma
disposição de fios em um tecido sintético que fosse encontrada em teias de
aranha teria condições de patenteabilidade, da mesma forma que muitas invenções
do homem utilizam princípios encontrados na natureza. Outro exemplo são
engrenagens encontradas nas pernas de insetos do gênero Issus e utilizadas para
se conseguir grandes saltos. O mecanismo foi descoberto por cientistas da
Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que analisaram em microscópio o pequeno
inseto, muito comum em jardins da Europa.[7]
Karl Marx delimita
um critério de diferenciação entre o trabalho realizado por um homem e um
animal: “Uma aranha executa operações
semelhantes às do tecelão, e uma abelha envergonha muitos arquitetos com a
estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o início distingue o pior
arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colméia em sua
mente antes de construí-la com a cera. No final do processo de trabalho,
chega-se a um resultado que já estava presente na representação do trabalhador
o início do processo, portanto, um resultado que já existia idealmente [...]
Além dos esforço dos órgãos que trabalham, a atividade laboral exige a vontade
orientada a um fim, que se manifesta como atenção do trabalhador durante a
realização de sua tarefa”[8] Vinícius
Santos destaca que o que distingue o trabalho humano do animal é uma orientação
teleológico do primeiro: “o homem esboça
em sua consciência o produto do ato de trabalhar antes de executá-lo
efetivamente, delineando e adequando o processo a uma finalidade que resulta
naquilo que já existia na sua concepção”.[9] Nicolas
Binctin, fundamentado na doutrina francesa de Paul Roubier e Pollaud Dulian
entende que a fonte comum de todas as criações intelectuais é o homem: “somente o homem dispõe da liberdade de
espírito e de julgamento necessários para a criação de um bem intelectual”.[10]
ferramenta primitiva encontrada em Olduvai George [11]
[1]
TATTERSALL, Ian. Se eu tivesse um martelo. Scientific American Brasil, ano 13,
n.149, Portugal, outubro 2014, p.45-49
[2]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Especia%C3%A7%C3%A3o
[3]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_da_Pedra
[4]
WALL, Frans de. Um por todos: nosa aptidão para cooperar em grandes soceidades
tem profundas razíes no reino animal. Scientific American Brasil, ano 13,
n.149, Portugal, outubro 2014, p.59-61
[5]
STIX, Gary. O fator X. Scientific American Brasil, ano 13, n.149, Portugal,
outubro 2014, p.62-69
[6]
CARVALHO, Nuno. A estrutura dos sistemas de patentes e de marcas: passado.
presente e futuro. Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2009, p.80
[7]
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/09/inseto-utiliza-engrenagens-nas-pernas-para-realizar-saltos-veja-video.html
[8]
MARX, Karl. O capital, livro I: o processo de produção do capital,São
Paulo:Boitempo, 2013, p.255
[9]
SANTOS, Vinícius Oliveira. Trabalho imaterial e teoria de valor em Marx, São
Paulo:Ed. Expressão Popular, 2013, p.75
[10]
BINCTIN, Nicolas. Droit de la propriété intellectuelle, LGDJ:Paris, 2012, p.34
[11] http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_da_Pedra
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